Em matéria de religião, talvez nenhum país do mundo tenha a diversidade ou o “colorido” da Índia.
A própria religião hindu, que você crê ser algo monolítico (acostumado que está com as religiões ocidentais mui sistematizadas), na verdade é uma “colcha de retalhos”. Ela pode ter princípios gerais (ex. reencarnação) e escrituras antigas sagradas (ex. os Vedas), mas é repleta de variedades regionais muito diversas.
Cada região da Índia tem práticas e rituais de um jeito. E, não esqueçamos: são milhares (alguns dizem milhões) de deidades distintas. O que o Ocidente acostumou-se a chamar de “hinduísmo” é, na verdade, toda uma matriz cultural — semelhante ao que ocorre com os índios das Américas, que compartilham algumas características religiosas comuns (ex. reverência à natureza), mas cada povo tem seus mitos e deidades específicas.
Na verdade, a mim parece que a exceção somos nós, ocidentais, com nossas religiões monoteístas que determinam uma ortodoxia (um “jeito certo”) e não aceitamos diversidade daquilo (podemos até tolerar, mas não aceitamos como sendo também válido).
Isso é característico do judaísmo, do cristianismo e do islã (as três grandes religiões abraâmicas), mas o padrão do mundo não é assim. Na China, no Japão, na África antiga, nas Américas pré-Colombo e, naturalmente, na Índia, o normal é que haja diversidade e cada qual, cada região, seja livre para fazer o religioso do seu jeito.
Ou seja: a Índia simplesmente manteve as coisas do jeito que sempre foram, não abraçou essa ideia das religiões monoteístas de impor um “jeito certo”. “Nós não temos problema nenhum com o cristianismo“, disse-me certa vez um amigo indiano hindu, “para a gente é simplesmente mais um deus, mais uma religião das várias que há.”
E, de fato, quando eu fui a um astrólogo védico (detalhes depois), o cara me rezou em nome de Buda, Jesus, Krishna e todo mundo. Ou seja: não têm problema com diversidade e convivência de múltiplas religiões. Não há um fascismo religioso, diria alguém mais provocativo que eu.
É talvez por isso que aqui na Índia se instalem templos das mais variadas religiões e denominações, como da Fé Bahá’í.
Muitos devem se lembrar do nome pela época do Orkut, que perguntava sua religião e muitos punham Bahá’í porque achavam exótico. (Eu mesmo achava que era alguma fé tribal da Polinésia, ou tipo o movimento rastafari). Nada disso.
Na verdade, a Fé Bahá’í é uma religião universalista. Ela diz que todas as grandes religiões, no fundo, compartilham os mesmos princípios, e prega uma fé no Deus único e a união dos povos. Foi iniciada por um persa (atuais iranianos) no século XIX, Bahá’u’lláh (daí seu nome).

No interior do templo não há muito além de um amplo espaço de oração, com flores bem arranjadas, bancos de madeira, e um altar branco bastante “neutro”. A ideia é servir a professantes de qualquer religião — e mesmo a espiritualistas sem religião fixa.
Mais sobre a diversidade da Índia nos posts seguintes.