(Esse na foto não é o Forte Mehrangarh, mas o Umayd Bhawan, um outro monumento. Jodhpur tem muitas jóias.)
Ônibus para Jodhpur. Finalmente eu estava rumando ao oeste do Rajastão, ao Grande Deserto de Thar, das caravanas, fortes e camelos. Jodhpur, “a cidade azul”, fica às bordas do deserto. Ela é a última cidade de porte antes de a aridez começar. No ônibus, o caminho já me dava uma prévia do que me aguardava. A poeira subia. Eu passava o dedo na cara e sentia a sujeira. Sentia areia até nos dentes, mastigando poeira. Mas o visual da cidade ao entardecer quando cheguei valeu a pena.
Esta abaixo é uma beira de estrada onde paramos no caminho a Jodhpur. (A música estava lá; não é edição minha.)

Quando meu ônibus chegou a Jodhpur era o cair da tarde. Eu havia dado meu nome ao hotel, que supostamente mandaria alguém me buscar. Ainda entrando na cidade, numa das várias paradas antes da final na “rodoviária”, já um dos tuk-tukeiros — que ficam espiando pra dentro dos ônibus procurando passageiros com cara de turistas — chegou na janela pelo lado de fora, abordando dois franceses (sentados atrás de mim) e eu.
“Eu vou seguir o ônibus de vocês até a parada, e chegando lá levo vocês pra hotel, ok?!“, disse o tuk-tukeiro. Você vai dizer o que? Na prática não foi uma pergunta, foi um anúncio. Pelo menos a parte do “vou seguir vocês”. No caminho dei uma olhadela pra trás pra ver se o ônibus tinha despistado o sujeito. Que nada. Ele me vê e ainda dá um tchauzinho, tipo “Ói eu aqui!”. Putz.
Na parada final, eu entendi por que ele havia nos abordado com antecipação. Na hora de descer eu me senti uma celebridade. Na boa, tinha uns oito tuk-tukeiros cercando a porta do ônibus. Não tinha espaço nem pra pisar sem tirar eles da frente. E cadê o fulano que era pra vir me pegar? Tudo o que eu vi foi, no meio do tumulto, um dos tuk-tukeiros com um papel escrito AIRONAL. Nem passou pela minha cabeça que esse era eu; normalmente tem várias pessoas sendo esperadas e tuk-tukeiro de sobra querendo dar golpe, então é bom estar bem certo antes de ir com um deles. Mas ele vem falando: “Bréju! Brejú?“.
Já sacaram o que é Breju? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três… Brasil.
Virei Aironal do Breju, prazer.
Passada a gafe, fomos por ruas congestionadas e ruelas onde só passava um tuk-tuk até o hotelzinho que eu havia reservado por telefone desde Udaipur. Um lugar simples porém amplo, administrado por um folgadão que cuidava dos negócios do pai e uma trupe de rapazes. (Como eu já disse antes, nesses lugares aqui no norte da Índia só trabalham homens. As mulheres cuidam do lar.)
Jodhpur mostrou ser uma cidade simpática, embora pobre. Tudo você faz a pé, tendo navegação (e disposição) para enfrentar os seus becos e ruelas, com tuk-tuks, vacas, e gente. No miolo do centro, há uma bonita praça ampla com mercados e uma torre com relógio da época colonial britânica (século XIX).





O Forte Mehrangarh é um dos monumentos mais impressionantes que eu já visitei. Deixa muitos castelos europeus no chinelo. Saída da montanha como se fizesse parte dela, a fortaleza com suas muralhas marrons data de 1459, quando Jodhpur foi fundada. Visto de perto ele é ENORME, e do alto você vê não só a cidade inteira como também kilômetros além.














O marajá de Jodhpur hoje vive com sua família no Umayd Bhawan, um outro palácio nos arredores da cidade. Como os demais marajás do Rajastão, restou-lhe status social e poder de influência, além de fortuna pessoal, ainda que não goze mais de funções públicas. (Ao visitar o Umayd Bawan, você assiste a um videozinho em que a família do marajá fala de como Indira Gandhi os privou de “realizar suas funções sociais” com o dinheiro que recebia do governo. Ha, ha.)
No dia seguinte eu pediria a um motorista de tuk-tuk pra me levar lá pra conhecer o Umayd Bhawan também.


Por fim, de tuk-tuk eu iria aos Jardins de Mandore, também nos arredores da cidade. Lá os marajás fizeram cenotáfios (como mausoléus, só que sem os restos mortais, pois os hindus não enterram seus mortos, cremam) para os antepassados da família.
O ambiente lembra cenário de jogos ou filmes de aventura. Aventura mesmo, no entanto, é andar no meio da macacada que habita o lugar. Eles são notórios por roubarem óculos, comida, ou qualquer coisa que você tiver na mão. Adoram mostrar os dentes e pular pra lá e pra cá, dando a impressão de que numa dessas vêm no seu pescoço.
Certa hora tive que cruzar uma ponte com macacos de um lado e do outro, dúzias deles, e a sensação é a de que você está cruzando uma rua perigosa com gangsters de ambos os lados. Aí você vai devagar, com aquele jeito que quem não quer nada, mas olhando de canto de olho enquanto eles olham você passar.











Como eu disse, Jodhpur é repleta de atrações impressionantes.
No dia seguinte, eu rumaria enfim ao deserto do Rajastão, para aprender a andar de camelo.
Adorei o post, muito informativo, vou para Jodhpur em novembro e gostaria de saber como sobe até o forte?
Obrigado, Cristina! E bem vinda ao site!
O forte tem um acesso pelo chão. Sobe-se uma ladeirinha até a entrada, e lá dentro há várias escadas.