A Indonésia é séria candidata a ser o maior país do mundo que é semi-invisível aos olhos dos brasileiros. Se você parar alguém na rua, a resposta provável será “Já ouvi falar“, e mesmo aqueles habituados ao turismo internacional dificilmente chegam aqui (durante toda a minha estadia de 6 semanas aqui, eu encontraria apenas um único conterrâneo). Claro, é longe pra caramba — do outro lado do mundo —, mas há também um elemento importante de desconhecimento. Pouco se conhece ainda no Brasil sobre esta maravilhosa terra que é a Indonésia, mas sempre é tempo.

“Terra” talvez deveria estar entre aspas, pois na verdade se tratam de 17 mil ilhas que compõem o país. Java é a principal, onde fica a capital Jakarta. São ao todo 261 milhões de habitantes no país (o quarto mais populoso do mundo, à frente do Brasil).
O povo aqui na Indonésia se parece com os índios do Brasil. Morenos e com um pouco de olho puxado, mas não muito. Cabelo preto liso, e não são muito altos. São muito religiosos, quase sempre muçulmanos (na verdade, são o maior país muçulmano do planeta). No avião da companhia Garuda, em que voei, na revista de bordo em meio a propagandas, anúncios “Torne-se um cliente Gold” e coisas do tipo, uma seção chamada “Invocações“. Eu achei que havia aberto algum livro de magias por engano. Lá havia preces em cinco religiões sobre como orar para tomar conta da tripulação, do avião etc.
Mesmo sem falar nada de javanês, era hora de morar umas semanas aqui (a trabalho) e descobrir mais desse país.

Cheguei aqui eram 8 da manhã, depois de 16h dentro do avião. Eu já estava perdido em termos de horário. Isso foi ontem. Jubi foi me buscar no aeroporto, ela que será minha tradutora de trabalho aqui. Moça muçulmana, de véu de Jade e tudo. Parece ter seus 25 anos, mas asiática a gente nunca sabe, então se bobear ela já passou dos 30 há muito tempo. Moça espirituosa. Foi logo me perguntando: “Aqui de vez em quando tem terremoto, tsunami e explosão de bomba… Você não ficou com medo de vir pra cá, não? Ah! O vulcão Merapi também fica aqui perto.“
Com Jubi e Pá Rudi (o motorista) viemos de carro do aeroporto de Jakarta (a capital) até Bogor, uma cidade do interior conhecida como “A Cidade da Chuva”. Saí de Amsterdã pra outra cidade chorona. Basicamente chove todo dia durante várias horas. Ê beleza. Temperaturas parecendo as de Feira de Santana em dezembro, e muita umidade.
Em compensação, nunca paguei acomodação tão barata na minha vida — pouco mais de 5 reais a noite. As instalações são bonitinhas pra dizer a verdade, e o quarto é arrumadinho. O banheiro é que por aqui pela Ásia pobre, como sempre, pega.




Vejam que não tem vaso. É basicamente um buraco no chão como se você estivesse sentado no meio fio. Ou faz de pé e se cuida pra não sujar o calcanhar. Obviamente não tem descarga. E também não tem papel. É na base da aguinha na cuia e a mão. Eu, precavido após a Índia, trouxe um rolo lá de Amsterdã. Dizem que aqui dá pra achar pra comprar, e é bom que dê mesmo, senão vou ter que apelar pra folha de caderno, de bananeira… (Não pretendo usar a aguinha a não ser como último recurso). Então é contagem regressiva pra ver o quanto meu rolo dura…
Também não tem chuveiro. O banho é de gato, com a mesma cuia utilizada para o serviço acima referido (olha que beleza?). Não entendo por que é que não fizeram a torneira mais pra cima, e eu não me importaria de tomar um banho de bica. Mas não, a torneira é a 50cm do chão, pra encher a cuia d´água. Desta vez não tem nem o banquinho que tinha lá na casa do Seu Bhalla, então aqui você fica acocorado, de joelhos ou — se não tiver juízo — sentado no chão.
(A pia, pra quem notou, não tem ralo, então basicamente é um tanque d’água. Escovar os dentes, bochechar, cuspir e coisa do tipo, você — e todo mundo — usa a pia da cozinha).
Felizmente não é dessa cozinha que vem a comida que eu como (se bem que, pensando agora, não deve ser tão diferente nas outras cozinhas… mas esquece, afasta esses pensamentos ruins). A comida é muito boa. À base de arroz, em sua maioria. Fui logo experimentar.
Chegando aqui no alojamento, Jubi me apresentou ao caseiro, Pantchasma. Sujeito baixinho, risonho, e que fuma uma cigarrilha que só Deus sabe o que é. Ele logo se ofereceu pra me mostrar onde comer aqui perto. Não podia faltar aquela rodada básica de moto sem capacete no trânsito asiático, né? Pois é, lá fui eu e o Motoqueiro Pantchasma.
A comida é sempre arroz com alguma coisa. Esse “alguma coisa” normalmente vem salpicado de pimenta malagueta em pedaços, pra dar sabor. Inclui: folha de mandioca no caldo; galinha\peixe\tofu ou legumes em molhos de leite de côco maravilhosos; tempeh, que é tipo um tofu só que feito com os grãos de soja inteiros e prensados, é uma delícia e pega o sabor do molho; entre um zilhão de outras coisas que ainda não experimentei. Normalmente tem uma super panela de arroz, e aí você pega dos acompanhamentos.
(Se está achando os nomes indonésios engraçados, espere até saber que pintu é porta e bunda é mãe. É sério).
Dando início aos trabalhos, hoje fui me encontrar com Fahmuddin, o pesquisador aqui que está me ajudando a acertar as entrevistas. Duas semanas em Java, duas na Sumatra, e outras duas aqui em Java novamente. Muita coisa pra rolar e pra descobrir, e vou partilhar aqui com vocês.
(Continua em Vivendo na Indonésia: Sorrisos, arroz e terremotos)
Bela regiao. Interessante esse mapa, Como é populosa e espalhada,
Gostei muito da natureza. Parece mesmo com as regioes do N e NE brasileiros: quente, com zona costeir, Meio Norte e região amazônica úmidas e com exuberante vegetação.
Muito corajoso. Coitado com essa estrutura sanitaria.