No post anterior eu relatei a minha visita a Prambanan, o milenar complexo de templos hindus nos arredores de Yogyakarta, no centro da ilha de Java. Aquilo era um fim de dia. Na calorosa manhã tropical do dia seguinte, nós iríamos a Borobudur, um magnífico templo ainda mais antigo, desta vez budista. Ele acontece de ser o maior templo budista do mundo.
Borobudur data de 800-825 d.C., e tem um conceito bem interessante. São nove plataformas formando uma espécie de pirâmide, e em cada uma delas há ilustrações esculpidas mostrando aspectos da vida de Buda e, em geral, da vida humana. A idéia é que, de baixo pra cima, as coisas vão se “elevando”. Enquanto que na base são ilustrações de cenas mais carnais, mais pra cima as ilustrações vão se espiritualizando, e no topo você tem o nirvana.



A História antiga e medieval da atual Indonésia é bastante complexa, cheia de povos distintos, migrações, e intercâmbios culturais. Mas, em síntese, o que tínhamos eram povos austronésios indianizados. Os austronésios são esses “asiáticos” morenos que hoje habitam Camboja, Filipinas, Indonésia, Malásia, e os países da Polinésia (Samoa, Taiti, entre outros). Suas línguas são todas relacionadas, e nada tem a ver com chinês, japonês, etc. No Sudeste Asiático, estes povos foram altamente influenciados pela expansão cultural de matriz indiana, inclusas as religiões hindu e budista. Daí a alcunha moderna de “Indonésia” (o sufixo nesia para “ilhas”), que acabou virando o nome deste país.
A dinastia de Shailendra, de possíveis origens indianas e dominante em Java desde o século VIII, foi quem ordenou a construção de Borobudur. São mais de 500 estátuas de Buda e 1460 ilustrações em alto relevo, numa plataforma quadrada de 123m de cada lado, com 35m de altura no ponto mais alto. (Prambanan, que foi erigido apenas algumas poucas décadas depois de Borobudur, foi a resposta da dinastia seguinte que tomou o poder, os Sanjaya, que eram hindus.)






Como você também pode reparar, estamos todos usando esses saiões amarrados na cintura. Eles se chamam sarong, e são de uso obrigatório em templos budistas aqui na Indonésia (e, em alguns casos, em outros países também.) São fornecidos, normalmente de graça, à entrada do templo. (O ingresso no complexo, contudo, é cobrado. Estudantes com alguma carteira pagam uma entrada menor.)
Fomos eu, Jubi (minha amiga e intérprete de trabalho aqui na Indonésia), e seus amigos de Yogyakarta.






É curioso porque, mesmo com as enormes distâncias geográfica e histórica que nos separam, as semelhanças sociais e culturais entre o Brasil e a Indonésia são presentes, mesmo que eles aqui tenham também uma religião dominante diferente da nossa.
Jamais esquecerei uma amiga (brasileira) que viveu na Turquia e nos Estados Unidos, e relatou maior choque cultural nesse último que entre os turcos. Claro que há normas de relação de gênero diferentes, certos costumes sociais diferentes entre asiáticos e ocidentais — isso todo mundo sabe. O que chamo a atenção é para as semelhanças, que muitos crêem não existir.
Os valores da simpatia, da sociabilidade, das ligações familiares, dentre outros, além do hábito com o clima tropical e com mazelas socioeconômicas resultantes de um passado colonial de exploração, são semelhanças muito perceptíveis entre o Sudeste Asiático e nós latino-americanos.
Senti-me extremamente à vontade neste mais de um mês que morei na Indonésia, convivendo com indonésios, vivendo entre eles. Claro que tenho queixas das que tenho também no Brasil: trânsito insuportavelmente engarrafado, desigualdades sociais perceptíveis, poluição, etc. (Os Budas decapitados em Borobudur são para se venderem as cabeças. Este tipo de criminalidade existe por todo o mundo pobre.) Mas saio com um apreço muito grande por eles, e um prazer enorme em tê-los conhecido e passado este tempo aqui. Se da Índia eu saí doido para ir embora, saturado, daqui eu saio com gosto de quero mais.
Jubi e eu tomaríamos um avião de volta a Jakarta ainda nesta mesma tarde da visita. Era domingo, e precisávamos estar de volta ao trabalho na segunda. Meus dias finais aqui, que seriam seguidos de uma breve viagem a Bali para completar a minha estadia na Indonésia.
[Eu voltaria a esta região de Yogyakarta alguns anos mais tarde, numa visita que relato aqui.]
Nossa. impressionante, esse templo, lindo. e que belos tons de pedra. Rico simbolismo. Um espledor . Imagine quando novo.
Adorei o Sarong. Caiu-lhe muito bem, meu jovem hahah. Pelo visto fez sucesso e se divertiu. Belas fotos, otima postagem, bela regiao.
Para mim o obstaculo são as escadas hahaha não me apraz.
Beleza de lugar. Linda natureza. Curiosas essas semelhanças diversas com Brasil . Valeu. muito interessante a região.
a subida*