É isso mesmo que você leu, e eis aí acima a foto das fezes dos animais que comem grãos de café e os “devolvem” praticamente inteiros. O Kopi Luwak (“café luwak” na língua indonésia) é considerado o café mais caro do mundo, e é certamente o mais exótico. Ao fim da minha estadia aqui na Indonésia eu o comprei, provei, e dou meu veredito.

Sua produção, típica daqui e famosa mundo afora, consiste em utilizar civetas (civet em inglês, luwak em indonésio, pequenos animais onívoros do porte de uma raposa, nativos do Sudeste Asiático e que não temos nas Américas) para comer os grãos de café e expeli-los.
Dizem, primeiro, que os animais selecionam os grãos mais ricos em sabor. Segundo, dizem que suas enzimas gástricas agregam todo um sabor especial aos grãos de café, devolvendo-os melhores que quando entraram. As fezes são coletadas, bem lavadas (dizem), e os grãos com essas propriedades únicas são então torrados para fazer o café mais notável do mundo.
Verdade ou conversa de vendedor? Eu procurei e comprei para experimentar.

A produção do café luwak começou “acidentalmente”, após os holandeses introduzirem o café (nativo da África) aqui na Indonésia, sua colônia, e estabelecerem plantações na ilha de Sumatra. Os animais vinham das selvas vizinhas às plantações para comer os frutos do cafeeiro, e não sei por que cargas d’água alguém achou de torrar as fezes achadas no chão. (Mentira, sei sim. No século XIX, os holandeses proibiam os indonésios de pegar do café das plantações onde trabalhavam. Logo estes descobriram então de usar o café catado no mato, dos grãos não-digeridos nas fezes dos animais.)
Hoje, contudo, a produção se dá de forma industrial, com os animais em cativeiro, em condições eticamente questionáveis (como no caso da produção de carne, convenhamos).
Cheguei a procurar pelo café quando estive em Sumatra, mas não o encontrei. Disseram-me que seria mais fácil encontrá-lo em algum supermercado grande de Jakarta, a capital. Como noutros países subdesenvolvidos, as coisas “tipo exportação” não se encontram nos mercados locais.
Não faltam imitações alegando ser “café luwak”. Sobretudo, não faltam marcas chamadas “kopi luwak” só para ludibriar o cidadão. Cuidado, se você estiver procurando o autêntico, seu primeiro indicador será o preço: o Kg do café luwak custa em torno de 200 dólares. Se você vir algo com preço normal, esqueça, é imitação.
Por aquela embalagem de 100g que fotografei acima, eu paguei o equivalente a 25 euros num hipermercado de Bogor. (Doeu o bolso, mas tudo pela experiência. Esse valor eu já paguei em jantares menos memoráveis.) Num shopping, paguei o equivalente a 7 euros numa xícara dele já pronto. Em cafeteria é difícil saber a autenticidade de fato, mas no supermercado, o original vem com um certificado com número de série dentro da embalagem. Olho vivo.
E afinal, é bom? Bom é, mas francamente não vi razão para essa fama toda — exceto o seu modo sui generis de produção, que com certeza é o que lhe garante todo esse bafafá. É um bom café, mas — perdoem-me o meu paladar ordinário de pessoal normal — não vi nada excepcional. Inclusive, compartilhei-o com várias pessoas, de várias nacionalidades, tanto avisando-lhes do que se tratava quanto “no escuro” (a pessoas a quem eu só contei sobre o modo de produção depois de terem tomado, he he), e ninguém teve orgasmo. (As pessoas que desconheciam o processo de produção, estas sim, depois de tomar, algumas quase me matam. Nada como pregar uma peça naquela sua tia.)
Fica aí o meu depoimento sobre mais esta experiência de coisas e lugares do mundo em primeira-mão.
Ora ora, que interessante e criativo. Tomaria, claro. Só acho caro hahah Curiosa a história.
Essa coisa de ”pregar peças” é ótimo e nesses casos deve ser bem engraçado mas às vezes o povo fica bravo hahah. Imagino a cara das pessoas apos tomar e saber donde veio haha
Ora ora, que povo criativo. Interessante esse processo e original essa produção de café. Imagino que seja um café semelhante a outros. De toda forma vale experimentar. Curiosidade este café. Caro, hem?…Não o conhecia até essas andanças e postagens do senhor, meu caro viajante. Muito importante conhecer essas peculiaridades, hábitos e culturas de tantos povos. Valeu.