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Romênia

Chegando à Romênia: Bucareste, o Museu Satului e a Casa Poporului

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(Este post relata a minha primeira viagem a Bucareste. Para a minha visita mais recente, visite este outro post. Recomendo ler ambos. E, sim, os nomes romenos são engraçados assim mesmo como os do título.)

Todo romeno é apaixonado pelo Brasil. Uma dessas coisas que a gente nem faz ideia, e que descobre de repente. A Romênia, apesar de estar no leste europeu, é um país latino, e a língua falada (o romeno) é parecido com o italiano. Eles tem um pouco daquele ar desconfiado típico do leste europeu ex-comunista, mas em geral são mais calorosos, engraçados, e — como os brasileiros — tem um certo jeito malandro e sabem fazer piada mesmo quando estão na pior.

Dá pra entender romeno? Falado, quase nada; escrito, um pouco. Mas eles nos entendem melhor do que nós entendemos eles. Isso ocorre. Com o espanhol, por exemplo, é o reverso: nós falantes de português entendemos o espanhol melhor do que eles nos entendem. Neste caso, temos a vantagem; no caso de português e romeno, os romenos é que têm a vantagem. Pegam português com bastante facilidade.

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A Romênia ali no leste, entre a Hungria e o Mar Negro (Black Sea). Conta a História que são descendentes dos romanos, que de fato ocuparam aquela região antes dos eslavos que deram origem à maior parte dos países vizinhos. Daí o nome do país (Romênia) e um idioma que é, dentre todos, o mais próximo do latim. Dizem alguns linguistas que é também o mais próximo do português.

Na Romênia, eu fiquei hospedado na casa do Seu Vlad, pai de uma amiga minha. Não conheci o dito-cujo, pois estava viajando, mas a mãe tratou de colocar meu estômago em ordem depois da penúria alimentar que foram a Bielorrússia e a Ucrânia. Apesar de a cozinha romena ser bastante à base de carne, eu como vegetariano recebi tratamento especial, hehe. Além de bolo de damascos, doce de cerejas comuns, brancas, pretas… uma beleza. As coisas aqui em geral tem mais tempero e tem mais gosto que na maior parte do Leste Europeu.


Como eu disse, todos os romenos parecem ser apaixonados pelo Brasil. Na cabeça deles o Brasil é uma terra mágica de clima quente, gente alegre, natureza bela, festa… (peraê, e não é que é mais ou menos isso mesmo? Hehe, mas eles sabem pouco sobre a violência urbana, desigualdade social etc.). As novelas brasileiras aqui são um sucesso, e anúncios com os rostos de Gisele Bundchen e Adriana Lima estão por toda parte na cidade.


Eu fiquei em Bucareste, a capital, cidade de 2 milhões de habitantes — de um país que tem 22 milhões e é mais ou menos do tamanho do estado de São Paulo. A cidade não é tãão encantadora assim; em sua maior parte foi bombardeada na Segunda Guerra.

A Romênia tinha um regime fascista durante a guerra e entrou do lado de Hitler contra a União Soviética. O exército romeno, na verdade, foi o principal aliado da Alemanha no front oriental (invasão da Rússia etc.), mas na escola a gente nunca estuda essa parte e praticamente ignora os países da Europa oriental, perdendo muito da História.

O resultado é que Bucareste foi bombardeada pelos Aliados e hoje a maior parte dos prédios são da era comunista, quando a Romênia virou parte da “cortina de ferro” de países-satélite da União Soviética (a Romênia nunca foi parte da URSS em si, ao contrário da Ucrânia e da Bielorrússia). De quebra, eles tiveram a partir dos anos 60 um ditador comunista maluco que quis homogeneizar a cidade e derrubava qualquer prédio que parecesse burguês, Nicolae Ceausescu. A família da minha amiga, nos anos 80, recebeu o aviso de que em três dias o prédio seria demolido e teriam de se mudar pra outro loteamento. Agora imagine aí.


Esse senhor Ceausescu era megalomaníaco, e construiu para si próprio um “Palácio do Povo” (Casa Poporului), hoje usado como Parlamento, e que é simplesmente o segundo maior prédio institucional do mundo — atrás apenas do prédio do Pentágono, nos EUA.

Eu fui visitar o lugar. Há mais de 1.000 salas, os salões são enormes, e em alguns deles dá até pra jogar futebol. Pra vocês terem uma ideia, são em torno de 250m x 250m de prédio, 86m de altura e 92m de subterrâneo. Muito patriótico, ele exigiu que se utilizassem somente materiais extraídos da própria Romênia (mármore, madeira, ouro, etc.). Vejam algumas fotos aí abaixo.

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Em frente à Casa Poporului, hoje o prédio do Parlamento.
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Lugar modesto.
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Nos salões.
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Sala de reuniões.
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Muita decoração.
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Desta célebre varanda, em 1992, Michael Jackson gritou a multidão: It’s great to be here in Budapest! [“É ótimo estar aqui em Budapeste!”]. Oops. Bucareste, Michael. Budapeste fica na Hungria. Os romenos já não aguentam mais a confusão.

O ditador Ceausescu, idealizador deste enorme palácio, morreu sem vê-lo concluído. Depois de governar a Romênia com mão de ferro desde 1965, ele foi derrubado em 1989, na queda dos regimes comunistas do leste europeu, julgado e executado naquele mesmo ano, na noite de Natal.

A Romênia se democratizou após Ceausescu, mas segue com problemas políticos do nível dos que enfrentamos no Brasil. É ainda uma das irmãs mais pobres na Europa, mesmo após ter entrado na União Europeia em 2007.

Nem sempre foi assim. No final do século XIX e início do XX, Bucareste era chamada de “a Paris do oriente“, devido à sua arquitetura arrojada e à sua vida cultural. Aquela cópia do Arco do Triunfo francês na foto inicial do post, por exemplo, foi idealizado com a Independência da Romênia em 1878. (Sofreria várias demolições e reconstruções nas décadas a vir, até chegar a este atual, de 1936. A inspiração sempre foi francesa, e é comum que muitos romenos aprendam o francês em vez do inglês como segunda língua.)

A independência foi do Império Turco Otomano, que dominava esta região desde o século XVI. É desse século a a lenda do Drácula, príncipe da Transilvânia que combateu os conquistadores turcos. (Para quem não sabe, a Transilvânia é uma região no centro da Romênia, mas chegaremos lá.)

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Boulevards amplos e arborizados que dominam Bucareste hoje, mas combinados aos nada charmosos prédios de concreto cinzento, todos iguais.
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Os prédios que dominam Bucareste hoje em dia.
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Ruas da cidade. (O metrô é bom.)
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Prédios de estilo mais antigo, novos ou dos poucos que escaparam à demolição geral.
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Alguns ainda encantam os olhos.

Por fim, e até mesmo como introdução ao post seguinte, onde inicio minhas andanças pelo interior do país, vamos ao interessante Museu Satului, que é um museu campal onde estão representadas as casas da zona rural das distintas regiões da Romênia, em seus vários estilos tradicionais. É bem bonito, e um lugar tranquilo onde passear. Você vê uma riqueza de tradição da qual não sabemos nada.

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Exemplo de arquitetura tradicional na Romênia. Muita construção em madeira.
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Eu posando feito o rei Roberto Carlos numa das outras casas tradicionais.

Mas vem muito mais a seguir, continuando com o post seguinte e a ida à lendária Transilvânia, no interior da Romênia. (PS: É provavelmente a região mais bonita do país.)

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

One thought on “Chegando à Romênia: Bucareste, o Museu Satului e a Casa Poporului

  1. Interessante a cidade e o amor pelo Brasil. Engraçada a ”mancada” de Michael Jackson haha
    Ainda bem que restaram alguns belos prédios para contar a historia de uma época melhor.
    Acho feios esses edifícios soviéticos. Sem graça sem criatividade sem arte.Até hoje não consigo entender essa falta de sensibilidade à arte ao belo que marcou o regime soviético.
    Por outro lado os boullevares com avenidas largas arvores e banquinhos tem o meu agrado.
    Muito simpáticas essas casas tradicionais.
    Parece ser uma cidade tranquila.

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