Era manhã do meu dia final em Creta, após a chegada em Chania e um breve bordejo em Rethymno. O sol levantou-se cedo, como sempre nestas terras, pra mais um dia de calor sem nuvens. Hoje iríamos à praia: eu, minha amiga, e a mãe dela.
Enquanto eu as esperava, Seu Stéphano, pai da minha amiga, me chamou.
Como eu disse, ele é um sujeito simples, daqueles que gosta de um futebolzinho… e que faz uma fezinha na loto de vez em quando. Me chamou pra ajudar no bolão do jornal, prevendo resultados de jogos da semana de campeonatos europeus e, pasmem, até da Série B do Campeonato Brasileiro. “São Caetano e Guaratinguetá, quem é que ganha?“, me pergunta ele. E eu sei lá, Seu Stéphano. Chutei no São Caetano, que acabaria ganhando mesmo. (Precisavam ver ele tentando pronunciar Guaratinguetá.)
Nisso, chegaram as damas. Iríamos ao sul da ilha de Creta, onde o mar é mais bonito e mais limpo, pois quase todas as cidades ficam na costa norte. Atravessa-se a ilha de norte a sul em menos de uma hora. No caminho, muitas montanhas, colinas com oliveiras, cabras, e alguns vilarejos.




E, é claro, do outro lado das montanhas, o mar.



Antes de descermos até a praia, passamos pelo Mosteiro Preveli, um dos muitos que há da Grécia. Esta é uma terra de longa tradição de monasticismo cristão.
Os gregos em sua grande maioria são cristãos ortodoxos, o que significa dizer que eles seguem as tradições do cristianismo do primeiro milênio, sem as alterações feitas posteriormente por Roma ao longo dos últimos 1000 anos. Há muitos elementos em comum com o catolicismo romano (ex. devoção a Maria, os santos), mas os rituais são bastante diferentes. Por exemplo, não existe a hóstia, eles comungam com um pedacinho de pão mesmo. Entre outras diferenças. Tampouco há uma igreja ortodoxa só, centralizada como no caso de Roma — há a igreja ortodoxa grega, a igreja ortodoxa russa, entre outras, politicamente separadas.
(Aos curiosos: As igrejas ortodoxas tendem a ser menores, e não têm aquela nave central com os bancos dos dois lados e um corredor no meio; em vez disso elas têm vários vãos que se conectam, parecendo capelinhas, e as pessoas acompanham todos os ritos em pé. As mulheres normalmente cobrem a cabeça na igreja; os sacerdotes usam barba e vestem preto, e celebram o ritual de frente pra a imagem de Jesus e de costas pro povo. A celebração é praticamente toda do mesmo jeito que era no primeiro milênio. Se você achava que a Igreja Católica era a mais tradicional, se equivocou.)
Os monastérios cristãos ortodoxos são muitos comuns aqui. Os monges normalmente têm sua própria horta, animais, e produzem coisas tipo vinho, geléia, pão…
— “Fica calado, que grego não paga“, disse minha amiga conforme íamos chegando na entrada. Com minha cara de grego, ninguém me cobrou entrada.



Havia um museu e uma capelinha de ambiente meio escuro, quieto e austero, como costuma ser nas igrejas ortodoxas.
Foi lindo quando tocou o celular da mãe da minha amiga, no meio da capela, tendo como toque a apropriada música Papa americano bem no refrão (pra quem não conhece, ouça aqui no YouTube; uma música que convida mesmo à introspecção de igreja mesmo).


E finalmente fomos à praia, uma faixa de areia não muito longa mas muito bonita entre as rochas, e com pouca gente.
Não tinha aquela extensão tropical arenosa com coqueiros como no Brasil, mas em compensação há belas vistas montanhosas dali mesmo da praia, e o ambiente é bem tranquilo. Colocamos as coisas no chão, e fomos apreciar.


A água é boa, só que praticamente não tem ondas, já que é um mar fechado. No Brasil a gente está acostumado com ondas porque a praia é de oceano. Também não tem muita areia fina; são mais pedras. E a água é um pouco fria, mas se supera.
Estávamos lá numa boa, mas aí é que nos chega (espia as coisas que acontecem comigo) um grupo de seus 30 a 40 nudistas…
…da terceira idade. Um bando de turistas alemães e nórdicos, nenhum com menos de 60, e uns assim que com 80 não morreriam mais. Umas tias que talvez tivessem sido até gatinhas… há uns 40 anos atrás, na época do Dancing Days. Foi aquele show de peito caído e binga de véio por toda parte. Minha amiga grega ficou toda desculposa, dizendo que desde pequena sempre ia ali e nunca tinha lhe acontecido isso.

Você olhava pro lado e via aquelas senhoras obesas, de ladinho. Affff. Com o cupim caindo pro lado. Show de horrores.
Depois dessa, só olhando MUITO pra o mar azul da Grécia e as rochas.
Terminado o Cine Trash, buscando reter as visões do mar (e não outras) em minha mente, voltamos a Rethymno e ainda demos uma volta de noitinha. Cedo na manhã seguinte, meu ferry sairia com destino a Santorini.