Pense na Grécia. Se você não imaginou ruínas da Antiguidade (ou a crise econômica), o mais provável é que tenha pensado em casinhas brancas junto ao mar azul. Pois é, isso é Santorini.

Santorini é talvez a mais clássica das ilhas gregas, aquela aonde você não pode deixar de ir. Muita gente pensa que todas as ilhas gregas têm esse jeitinho de casas brancas e telhados azuis, mas esse não é o caso.
Apenas este grupo de ilhas, as chamadas Cíclades, entre Atenas e Creta aqui no Mar Egeu, é que tem essa estética. E Santorini é a “rainha” delas, aquela aonde você vem e gasta todo o seu cartão de memória. Você vai entender por que.
Quando eu cheguei era dia — saí de manhã cedo de Creta, e cheguei a Santorini a tempo do almoço. Santorini é uma ilha pequena, coisa de uns 15km de norte a sul e somente uns 4km de leste a oeste. Do alto você vê o mar dos dois lados, o que dá a sensação de pequeneza — e, bem, de vulnerabilidade também.
No porto já me esperava o Seu Giorgios (Jorge), da pensão onde eu fiquei. Sujeito alegre, de seus 40 e poucos anos. Chegando lá estava, com um balde lavando o chão, a Tia Stella, da mesma faixa. Ela dá nome à pensão.

Em Santorini, por toda parte quase só se veem branco e azul — dá a impressão de que o governo fornece tinta gratuita nessas cores.
Embora a ilha seja pequena, ainda assim ela se divide em “municípios” (que mais são vilarejos, separados por pedaços de estrada). O principal deles é Fira (às vezes escrito Thira) seguido por Ía (às vezes escrito Oia) na outra ponta, mas todos são realmente bem pequenos, que você caminha de uma ponta a outra em 15 minutos. Karterados, onde fiquei, é bem menos turística, com apenas algumas casas e restaurantes, e por isso mais barata. (No geral, recalibre o bolso para preços altos. O meu recorde foi o suco de laranja que encontrei a 8 euros. Vai um?).
Permitem-me almoçar antes de ir à cidade? Foi a primeira coisa que eu fiz após deixar as trouxas na pensão.
O meu almoço — confesso, não foi assim um banquete — incluiu aquele pão com azeite de oliva e tomate com queijo feta por cima (dakos) que lhes apresentei na Ilha de Creta, purê de berinjela temperado, e rolinhos de arroz em folha de videira (pé de uva). Nada mal. Ainda mais sendo que o cara do restaurante resolveu me trazer sobremesa de graça, como cortesia (e funcionou, pois eu voltei pra comer lá durante toda a minha estadia): um maravilhoso iogurte de cabra com doce dessa frutinha aí preta, que em Portugal eles chamam de amarena ou ginja, e que eu nunca vi no Brasil (é da família da cereja, só que mais azedinha).


Mas Santorini é mesmo para as paisagens. Algumas pessoas vão à praia, mas aqui as praias são de pedregulhos, e para quem vem do Brasil faz pouco sentido. O melhor achei mesmo andar pelas ruelas, entre as casinhas, e avistar o sol dos penhascos.
No primeiro dia fui até a vila de Fíra, a uns 20min de onde eu estava. A brancura com a luz do sol às vezes até dói a vista. (Saia com uma garrafinha de água, caso contrário vai passar ou sede ou o desgosto de ter que desembolsar 3 euros numa.)






E vocês devem estar imaginando como é pra descer lá embaixo, até o porto. Hoje em dia as pessoas em geral descem de carro, pela estrada que há, mas eis aqui o meio de transporte mais tradicional:


Eu não fui nos burros, pois lá embaixo não há muito o que fazer — é basicamente um bate-e-volta. Além do mais, o bem-estar dos burros não me convenceu, então eu preferi não compactuar com a coisa. Além do mais, é caro e eles fedem pra cacete (num calor desse, com pêlo e sem tomar banho, nós também federíamos).
Preferi ficar no alto de Fira para apreciar as ruas, ruelas, e as vistas — e cada cantinho.


O trajeto clássico a se fazer em Santorini é vir a Fira e, daqui, ir a Ía. (Tá bom, não vou fazer trocadilho desta vez). Ía, que fica naquela ponta ali na foto, é o mais famoso ponto de Santorini onde assistir ao pôr do sol, e dá pra se fazer o caminho a pé margeando os penhascos.
Eu estava com a minha sandália de couro — que uma amiga mineira certa uma vez chamou de “sandalinha de Jesus pregando no deserto” —, não é assim o calçado mais robusto do mundo, mas o paveamento nas vilas é tranquilo. É só mesmo o sobe e desce — haja coxa! As mulheres podem vir pra cá na certeza de que sairão daqui saradas da cintura pra baixo.
Mesmo já sendo meados da cidade, segui caminho.



O problema foi que eu ACHEI que aquela ponta lá era Ía. Não era. Pra se chegar a Ía ainda era preciso contornar umas montanhas. Olha as fotos abaixo.

Então de repente o caminho ficava assim:



O negócio era que, não sei se vocês notaram, mas o sol estava quase se pondo. Conseguiria eu chegar até Ía? Bom, eu me atrevi. Até mesmo porque a essa altura não faria sentido voltar o caminho inteiro (eu nem sei mais se acertaria tomar de volta o caminho por onde cheguei até aqui. Eu havia até mesmo pulado muro pelas terras dos outros pra chegar aqui).



Eu e a minha sandália já estávamos competindo com Paulo pregando pelo deserto nos tempos da Bíblia; pé preto de terra, daquele bom de se entrar numa loja de souvenir. E escuro também já estava o arredor. O caminho já tinha virado um mato, Ía ainda lááá na ponta no fim da foto, e eu ali, há mais de 1h sem ver ninguém, já começava a entreter pensamentos do tipo: E se eu tiver que dormir aqui?
Bom, eu persisti. A trilha já era quase impossível de ver (se é que havia alguma), e eu basicamente ia vendo um jeito de ir pra frente e de me aproximar das luzes que via no horizonte.
Depois de mais um bom tempo, eu no final das contas adentrei Ía. (Vai, sacana!)

Jantei por lá (eu estava la classe, suado e sujo no restaurante, mas faz parte). Como eu sabia, haveria ônibus pra voltar a Fira e redondezas até mais tarde, então peguei ele após dar um bordejo à noite. (O ônibus pega a rodovia mais abaixo, diferente do caminho que fiz a pé.)
Falhei em chegar a Ía a tempo de ver o famoso pôr-do-sol de lá, obviamente, mas no dia seguinte eu estaria ali batendo ponto. Não, não caminhei tudo outra vez; o ônibus faz o percurso nos dois sentidos, então foi mais fácil.
Eu cheguei a Ía durante na tarde seguinte, e estava lá junto com centenas de turistas (metade deles chineses) vendo o pôr-do-sol. Deixo vocês com as imagens, pra entenderem melhor o porquê de eu ter dito que aqui em Santorini você usa todo o cartão de memória.
Muitos Parabéns pelo site. As imagens são simplesmente lindas e os conselhos muito úteis. Como esteve tanto em Creta como em Santorini acredito que me possa ajudar. Irei no final deste mês para Creta e gostaria de num dos dia visitar Santorini, ir e vir num mesmo dia de ferry. A questão é: Isso é possível? Posso ter estas fantásticas vistas sem ter de alugar carro? Muito Obrigada.
Bem vinda, Tânia! Acabei de te responder pela mensagem na página do site no FB. Qualquer outra dúvida, estou aí para ajudar. Um abraço
Uuuuuuaaaaaauuuuuu! que espetáaaaaaaaculo. Arremaria.. parece o céu na terra!….. que paraíso é este, meu jovem!…. que azul diáfano é este, que céu de anil é este, e que lindas essas casinhas brancas, esses belos penhascos, esse mar de cobalto que mais parece uma pintura e esse ocaso de encher os olhos.. Sem palavras. Lindo demais. Uaaauu. Maravilha. Um pedacinho do ceu, diria aminha mamma. Perfect. muito bonito. Impossível não visitar tao belo recanto. Valeu. Adorei.