Bem vindos ao Japão! Há muitos anos eu queria vir pra cá, e finalmente a chance chegou. Estarei aqui durante quase um mês participando de um evento na Universidade das Nações Unidas esta semana, e passeando em seguida. Não faltam coisas a ver nem a contar. O que nestes primeiros dias eu já percebi é que o que a gente sabe sobre o Japão no Brasil é a mera ponta do iceberg.
38 graus devia ser a temperatura… da minha febre quando eu embarquei no avião. Peguei uma gripe em Amsterdã, das que sempre circulam naquela cidade molhada, depois de uma bela viagem pela Escandinávia, e achei que fosse descansar nas 2h de voo até Roma e nas 12h de lá até Tóquio. Vale registrar que essa é mais ou menos a mesma distância da Holanda até São Paulo, e você não imaginaria, né? O Japão parece tão longe… Culpe as projeções do globo feita nos mapas planos e que distorcem as coisas.
Doze horas depois, eu estava mais quebrado do que tudo. Não voem Alitalia. Comida péssima, insossa, e atrasamos porque na hora da preparação pro voo a tripulação entrou em greve. (Eu também fiz essa cara que vocês estão fazendo aí). Não sei o que resolveram, mas 1,5h mais tarde saímos, não sei se com a mesma tripulação (apaziguada) ou com outra.
Era manhã de sábado quando aterrissamos no Aeroporto de Narita em Tóquio, meu ritmo de sono em parafuso completo depois de 9 horas de mudança de fuso horário.
Narita é o aeroporto mais quieto por onde já passei, rivalizando com os aeroportos de mosca de Jambi, na Sumatra, e em São Luís do Maranhão. A diferença é que em Narita passam milhões de passageiros — os japoneses é que são quietos mesmo. (A exceção ficou por conta de um japonês sósia de Joãosinho 30, um baixinho meio moreno e de cabelo cinza, vestido de verde e rosa e gritando sabe-se-lá-o-que. Vi a hora de ele cair no samba).
Na alfândega, uma surpresa: toda a informação em português, com videozinho narrado por algum nissei com sotaque paulistano e tudo. Até pensei fosse o dublador do Jaspion, mas não era. Certamente se deve à grande quantidade de visitantes e imigrantes brasileiros, muitos deles de origem japonesa.
Eu passei tranquilo pelas autoridades. O visto eu já havia tirado, precisando informar a eles o meu roteiro de viagem, onde me iria hospedar e tudo, mas a esta altura já não havia mais dor de cabeça.
Eu só rezava para as informações de orientação continuarem a estar também em inglês (o português é só na imigração e na alfândega). Afinal, eu ainda precisava pegar um trem e chegar dali no albergue; e sem o inglês, meu filho, não há nem a mais remota esperança de ler nada.

Felizmente os avisos em inglês continuaram (e estão mesmo por toda parte), e com a ajuda de funcionários muito educados e prestativos, eu consegui achar meu caminho.
Peguei uma linha de trem direta, cruzando subúrbios de Tóquio, e vim parar no distrito de Asakusa, onde estou hospedado. Tóquio, a cidade mais populosa do mundo, com mais de 35 milhões de habitantes, tem dezenas de distritos, cada um com suas características, que eu comentarei nos próximos posts. Asakusa é um dos mais tradicionais (e onde eu recomendo se hospedar). Aqui o forte são os templos e o jeitinho mais antigo de ruelas onde as pessoas ainda andam de bicicleta. É um belo mergulho cultural.



Deixei a mochila no albergue e fui matar quem estava me matando: a fome.
A minha primeira experiência gastronômica no Japão e a primeira lição: esqueça a ideia de que japonês só come arroz e peixe. Eu fui perto do albergue a um bar de ramen, uma sopa de macarrão com um bocado de coisas dentro (a ideia que o macarrão instantâneo tenta imitar), e que aqui é pedido e tomado como num balcão de bar. Aqui, claro, o macarrão é feito de arroz e não de trigo. Ele aqui é o cuscuz com o ovo do trabalhador japonês.
Ninguém falava inglês, nem se mostrou muito disposto a tentar. (Os asiáticos parecem ter uma dificuldade sério com o sentimento de vergonha, e muitas vezes nem se aventuram.) O bar de ramen, numa bela demonstração da onipresença da tecnologia na vida japonesa, tinha uma máquina colorida onde você põe o dinheiro, aperta o botão da refeição que quer, e a máquina produz uma ficha que você entrega ao cozinheiro. Se você não souber ler japonês (o meu caso), tem que escolher baseado em pequenas fotos do prato (quando há), então cada refeição aqui é um salto no escuro.


Os japoneses levantam o prato para ele ficar mais perto da boca, e vão sorvendo o caldo fazendo barulho — coisa que no ocidente custa a eles uma dor de cabeça danada, já que é considerado falta de educação. Já aqui no Japão é uma sinfonia de gente chupando macarrão (que, por sinal, respinga por toda parte quando balança; é uma maravilha para a sua roupa).
Era só o começo da viagem, com muitas experiências interessantes e exóticas ainda por vir. Essa mistura curiosa, mui japonesa, de tradição e tecnologia ainda teria muito para me mostrar.