Você gosta de comida japonesa? Adora um sushizinho bem preparado na praça de alimentação do shopping ou na “temakeria” à noite? Gostando ou não, você certamente conhece esses populares rolinhos de arroz envoltos em alga e com um recheio pra inglês ver, que hoje em dia quase todo restaurante a quilo tem. Deve conhecer também o sashimi (peixe cru), e talvez o yakissoba (macarrão frito com legumes, molho de soja e às vezes carne).
No entanto, meu amigo, minha amiga, sinto lhe dizer que isso não é nem o começo. É o mesmo que gringo achar que a culinária brasileira se resume a churrasco e feijoada (e, só pra constar, a maioria deles acha isso mesmo, em parte porque é o que os raros restaurantes brasileiros no exterior enfatizam. Ainda estou pra achar um tutu mineiro, um vatapá baiano, ou um pato no tucupi paraense no exterior. Nem no Brasil a gente conhece direito a culinária dos outros estados).
Mas vamos a algumas guloseimas da culinária japonesa que você provavelmente ainda não experimentou, e que talvez nem tenha ouvido falar. Não digo que vi tudo, mas estas semanas aqui têm me dado uma imagem mais fiel do que o estereótipo que eu tinha antes de vir ao Japão. E, convenhamos, metade do que eles comem aqui dificilmente faria sucesso no ocidente.
Pra começar, que tal jogar um belo ovo cru por cima do seu macarrão ou do arroz? Aqui muitos pratos vêm com o ovo cru incluso, já quebrado ou pra você mesmo quebrar por cima do prato. Bem costumeiro é quebrá-lo no caldo do macarrão e deixar ele cozinhar dentro (ou não). (Abaixo é o meu amigo da Letônia, porque eu próprio não encarei).

Estou pra ver o dia que os restaurantes japoneses aí vão começar a lhe dar ovo cru pra você jogar por cima.
Outra guloseima aqui são as bebidas e iogurtes de aloe vera, vulgo babosa, esse que aí no ocidente é usado para xampu. O nome “babosa” não deixa mentir: o aloe vera é uma planta estilo caatinga (xerófita), suculenta. E esse, não vou negar, é gostoso mesmo. Daqui a pouco vai fazer sucesso aí no Brasil. Ouvi dizer que a ANVISA já liberou. É popular por todo o leste da Ásia.


Agora vem um que na minha opinião é uma das coisas mais tenebrosas que eu já experimentei na minha vida: feijão fermentado (natto). No japonês, eles traduzem meio que como “feijão estragado”. Há quem goste. Umas amigas brasileiras que eu encontrei aqui comem animadas, mas dizem que é comida de velhinha. Esse eu comi, e o gosto é exatamente o que você imagina. Como diz o Datena: mostra as imagens, mostra as imagens do feijão estragado…

Eles aqui comem muito feijão, mas quase sempre é em forma de doce. Eles adoçam o feijão, e comem ou em forma dos grãos mesmos açucarados ou amassam e fazem uma pasta doce usada muito como recheio. Não é má, mas é fácil de enjoar se você comer muito.
Por exemplo, eles aqui também fazem a nossa mistura de arroz com feijão, mas no doce.


E aqui um belo picolé de chá verde com recheio de feijão.


Esse picolé não é mau, embora a princípio seja meio estranho mosdiscar os grãozinhos de feijão e sentir o sabor doce. Questão de hábito, imagino eu.
Já essa massa de chá verde eles aqui usam pra tudo: sorvete, recheio de bolo, de biscoito, cobertura de chocolate, etc. Isso eles fazem com o matcha, que é um pó verde de chá verde, misturado na água quente para fazer o chá ou usado para fazer esses doces (aqui eu experimentei substituir o chocolate por ele para fazer brigadeiro).
Passando de feijão para frutos do mar, que tal esses polvos com um ovo de codorna na cabeça?


Eles também usam pernas de polvo secas como lanchinho. Abaixo umas com o meu amigo letão, que é mais avestruz do que eu.

Pra me redimir, e não ficar uma imagem negativa, há coisas deliciosas também. Eu disse que no sushi do ocidente o peixe é para inglês ver; saquem só como é o daqui.

Nesse restaurante os pratos vão passando, você pega o que quiser e paga proporcional. Eles vão fazendo na hora. Sushi aqui, eu tenho a impressão, é como pizza aí no Brasil: não é algo que você coma sempre, mas de vez em quando você dá aquela saída e vai no lugar especializado. Os próprios japoneses dizem que não é comida de todo dia. O todo dia aqui costumava ser arroz e peixe mesmo, mas já há algumas décadas vem mudando. Hoje em dia eles comem muita carne de porco (da gorda), e há bastante coisa frita também. Meio que me surpreendi, com toda aquela fama de “dieta saudável” que eles tem. Não é a toa que, em uma geração, diabetes e obesidade aqui já se tornaram problema de saúde pública como em outras partes do mundo. E certamente não é pelo feijão fermentado, nem pelo aloe vera ou pelo ovo cru.

[A quem gostou do tema, veja mais guloseimas — e comidas japonesas estranhas — em Um jantar em família japonesa em Osaka]