Os Jardins de Rocha são uma das demonstrações mais curiosas da estética Zen. O Zen, como eu disse no post anterior, é uma vertente do budismo que enfatiza a meditação, o auto-controle e o auto-conhecimento. É muito popular no Japão há mais de um milênio (embora tenha surgido na China), e presente na maioria dos templos que se encontram em Kyoto.
Nós conhecemos bem os jardins zen — aqueles ambientes japoneses com plantas, moinhos de bambu, pequenos lagos e muita tranquilidade no entorno de templos budistas (ver Kyoto, Japão: Jardins Zen, o Caminho do Filósofo e o Pavilhão de Prata). Os Jardins de Rocha, por sua vez, não incluem plantas nem lagos, mas apenas rocha e areia. (Geólogos, regozijem.)
A ideia é auxiliar a imaginação e o exercício de introspecção do observador, com imagens — feitas com o arranjo cuidadosamente disposto de rochas — que visam a representar paisagens ou elementos da natureza.
Nesse arranjo abaixo, por exemplo, do século XVI, as rochas representam um rio em corredeira com montanhas ao redor, segundo dizem.

Como você pode perceber, a ideia neste caso não é estar no jardim, e sim observá-lo. (É proibido entrar no arranjo, é claro.)
Nesse outro abaixo do templo Ryoan-ji, do século XV, que eu visitei, o artista não se deu ao trabalho de explicar o que seu arranjo representa. Há interpretações que sugerem rochas ao mar, e outras que sugerem que são picos de montanha trespassando as nuvens no céu. Fica em aberto, e o ideal é exatamente esse: exercitar o imaginário e fazer você ir além do puramente racional.
