Nara é uma cidade bastante budista. Ela foi a primeira capital do Japão (710-794 d.C.), antes mesmo de Kyoto. Durante os anos 600 o Japão recebeu forte influência da China: administração centralizada, técnicas e estilos arquitetônicos, e também as filosofias confucionista e budista. A China estava experimentando uma era de ouro, de unidade e de muito desenvolvimento intelectual e organizativo com as dinastias Sui (581-618) e Tang (618-907), e muito disso se filtrou para o Japão. A corte imperial Japonesa assim empreendeu uma série de reformas (as chamadas “Reformas Taika”) para consolidar seu poder central, adotando princípios de administração chinesa. Nara foi, assim, a primeira capital do Japão sob o budismo.

A título de curiosidade, vale dizer que a corte japonesa foi além de aprender coisas dos chineses e teve a brilhante ideia de alterar as lendas e mitos populares inserindo-se nelas, construindo uma ideia de que eram herdeiros dos deuses e de que portanto governavam segundo uma forma de “direito divino”. (O mesmo princípio dos imperadores chineses.) Por exemplo, inventaram histórias envolvendo os deuses criadores do Japão nas lendas populares e tesouros imperiais que ainda hoje são guardados como relíquias. É como se os suecos ou os dinamarqueses dissessem que tem guardado o martelo de Thor ou alguma coisa assim.
Esses mitos japoneses hoje recheiam sua cultura pop. Para os fãs de Naruto, por exemplo, é daquelas lendas que vêm os nomes Amaterasu, Susano’o e Tsukuyomi, os três deuses mais importantes. Nessas lendas a corte inseriu a espada Kusanagi (que dizem guardar até hoje), com a qual Susano’o matou a serpente de oito cabeças, um espelho (que já estava na corte) e que disseram ter sido usado pela deusa Amaterasu, e uma conta de colar em forma de vírgula, que se tornou insígnia imperial. São as três relíquias do império ainda hoje.

Mas vamos a Nara. Era uma sexta-feira, fria mas ensolarada. Eu deixei o albergue sozinho pela manhã, deixando as minhas coisas em Kyoto, já que é uma viagem curta de não mais que 30-40min. Além disso, meus amigos ainda me cobravam fazer os brigadeiros de chá verde antes de ir embora. Era, portanto, uma viagem de um dia só (até porque Nara é pequena).
Lá, chegando de trem, me dirigi logo ao Parque de Nara, onde estão concentradas as principais atrações — inclusive o grande daibutsu, a maior estátua de Buda do Japão.
À entrada você logo encontra o Kofuku-ji, um templo (budista) estabelecido em 710 d.C., e um dos oito patrimônios mundiais reconhecidos pela UNESCO na cidade.


O Parque de Nara tem uma grande quantidade de gazelas passeando livremente em meio às pessoas, e você pode comprar um biscoito de ração pra alimentá-las (com um grande aviso de “Impróprio para o consumo humano“). No xintoísmo elas são tratadas como mensageiras dos deuses.



É engraçado porque elas te seguem mesmo, se perceberem que você está com comida na mão. Quando você menos percebe já tem uma gangue ao seu redor. Mas não vi fazerem nada demais não, embora haja avisos pra se tomar cuidado mordidas e coices.
Como já tenho visto muitos templos ao longo destes dias, optei por ir direto à estátua gigante do Buda e ir andar pelo parque.


O templo Todai-ji é a maior edificação de madeira do mundo. Veja pelo tamanho minúsculo das pessoas entrando nele na foto. Ele também abriga a maior estátua de Buda do Japão, com 16m. É um ponto de peregrinação para muitos japoneses. Aqui era o centro da religião budista e onde eram feitas as ordenações de monges durante a época em que Nara foi a capital.



