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Turquia

Pamukkale (o “Castelo de Algodão”) e as antigas ruínas de Hierápolis

Pamukkale (castelo de algodão em turco), patrimônio da humanidade reconhecido pela UNESCO junto com as ruínas da cidade greco-romana de Hierápolis, neste sítio. Estamos a algumas horas de viagem do Mar Egeu, no interior da Turquia.

Embora as colinas brancas pareçam neve, não há nada de gelo e nada sequer frio ali. São, na verdade, fontes termais junto a formações calcárias chamadas travertinos (carbonato de cálcio vindo com as águas e se depositando ali ao longo dos séculos). A sensação é a de estar pisando em pedra lisa (e, cuidado, escorrega).

Você paga uma só entrada e pode visitar tanto estas colinas quanto as ruínas de Hierápolis, no mesmo complexo. Estas termas eram, na verdade, usadas pelos gregos antigos e pelos romanos que habitavam a cidade.

É preciso ficar descalços para caminhar na área branca, para não danificar as formações. (Um tiozinho estará ali controlando o acesso e monitorando.) Você leva os sapatos nas mãos, pois a entrada não é a mesma saída — Hierápolis fica do outro lado.

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Parece gelo, mas não é. São formações calcárias, o “castelo de algodão”.
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Plantas e água em meio à paisagem branca em Pamukkale.
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A vista. (Se você não olhar muito longe, a paisagem parecerá que é da Antártida.)
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Um show à parte é assistir às turistas russas posando pra foto como se estivessem fazendo algum ensaio para a Playboy.

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Curtindo uma aguinha nas pernas. (É raso demais para nadar, como você pode perceber, mas mesmo assim uma delícia.)

É interessante que, numa caverna perto daqui, junto com o calcário das águas quentes vinham também vapores tóxicos do subsolo. Fizeram um templo nessa caverna na Idade Antiga, o Plutonium, como ficou apelidado esse templo ao deus Hades/Plutão, a divindade greco-romana do mundo dos mortos. Dizem que só uma classe especial de sacerdotes eunucos sobreviviam aos vapores. Originalmente, ele era associado também ao culto a Cibele, uma “deusa-mãe” cultuada aqui na Anatólia e depois absorvida pelos gregos e romanos. A caverna foi selada pelos cristãos no século III, mas supõe-se que os vapores continuam lá (algum eunuco aí se habilita?).


Isso era na época gloriosa de Hierápolis, a “cidade sagrada” que tinha essas termas como um spa local. A cidade surgiu na época em que esta terra era o Reino da Frígia, no século III a.C. Após a Batalha de Magnésia em 190 a.C., os romanos obtiveram domínio sobre esta região, vencendo os herdeiros políticos de Alexandre, o Grande, do Império Selêucida. (O nome da batalha é engraçado, e a vista branca lembra até mesmo leite de magnésia, mas o nome se deve à cidade de Magnesia ad Sipylum, que ficava aqui perto. Magnésia, claro, vem de magno, “grande” em latim. Não me perguntem porque o elemento químico recebeu esse nome.)

Hierápolis teve seu ápice nos primeiros séculos depois de Cristo, quando chegou a abrigar mais de 100 mil habitantes. Quem esteve aqui à essa época foi o apóstolo Filipe, pregando o cristianismo, e que acabou sendo martirizado, crucificado de cabeça pra baixo no alto de uma colina.

Com o fim do império romano no Ocidente e a transferência do centro de poder para Constantinopla (aqui perto, atual Istambul), Hierápolis continuou a prosperar, mas seria arrasada pela invasão dos Persas no século VI d.C., antes de um terremoto “terminar o serviço”. Ficaria abandonada pela grande parte dos séculos a vir daí em diante. As ruínas, no entanto, permanecem. 

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Ruínas e flores na antiga Hierápolis.
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Estas ruínas são extensas. Não há nada tão compacto e grandioso quanto em Éfeso, mas em compensação a visita aqui é muito mais sublime e tranquila. Você pode ficar a sós e sentir o lugar.
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Por dentro das construções.
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Do alto do imenso anfiteatro romano em Hierápolis.
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Essa escadaria leva à colina onde o apóstolo Filipe foi crucificado de cabeça para baixo.
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A tranquilidade em Hierápolis.

Preveja, no entanto, que o lugar é quente na maior parte do ano. E, como eu, você não está vendo nenhum abrigo do sol aí. 

Eu estava com fome e sede. Depois de caminhar aí umas 2h (pois leva tempo para subir ao anfiteatro e à colina de São Filipe), era hora de deixar os césares para trás e retornar à vila de Pamukkale para comer.

Na própria área turística entre as ruínas de Hierápolis e as formações calcárias, só havia lanchonetes, restaurantes caros (que Mairon, por definição, evita), e piscinas pagas que estavam sendo usadas basicamente pelos turistas russos. Por mais tentado que eu estivesse a me imiscuir junto às russas na piscina, elas parecem quase sempre viajar em casal, e piscina se acha em qualquer lugar. Tomei um suco de romã, papeei com as simpáticas vendedoras turcas (que falavam comigo em turco e custaram a acreditar que eu não era turco), e fui embora.

Pra quem torceu o nariz pra o suco de romã, saiba que não é aquela fruta demoníaca, amarga, que a fama diz. Aqui nessa parte da Turquia tem pé de romã pra todo lado, e vende por toda parte igual a suco de laranja aí no Brasil. É azedinho e forte. Mas, tal qual limonada concentrada, dá mais fome ainda.

De retorno à vila de Pamukkale, entrei num restaurante e fui pro andar de cima onde havia varandas, num lugar bem agradável. Como já havia passado um pouco do horário do almoço, estava vazio. Só duas garotas japonesas almoçavam, discretas como costumam ser.


Tirei a barriga da miséria. A propósito, devo dizer que em geral comi muito bem na Turquia. Pedi um pide [pidê], uma espécie de pão chato assado no forno como uma pizza, com queijo, tomate e especiarias em cima. Para a sobremesa, um prato de iogurte de cabra com frutas que mais parecia outra refeição.

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O arejado restaurante turco em Pamukkale, na varanda do segundo andar.
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O meu pidê. A textura é a mesma de pizza. O sabor é parecido, só que com menos molho de tomate. Já ali no pratinho é sumak, uma especiaria asiática, muito comum aqui no Oriente Médio, que é levemente acre e levemente ardido, e as pessoas usam tanto para cozinhar quanto direto em cima da comida. (Não sei se seu azedinho iria fazer sucesso no Brasil, mas vale experimentar.)
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O meu cavalar prato de sobremesa. Estava uma delícia. Iogurte grosso de cabra, mel, e frutas cortadas por cima.

Eu já estava na sobremesa quando as japonesas pediram a conta e foram congratuladas com uma performance do dono, um turco obeso, dançando Gangnam Style. Ele fazia os movimentos com dificuldade, devido ao peso, e só sabia o refrão, mas dava os pulinhos com uma empolgação invejável. As japonesas tentaram — uma vez, e baixinho — dizer que a música não era japonesa, mas coreana, mas de nada adiantou.


Ainda no centro, fui comprar uma toalha de banho e uma de mesa. Não que eu tivesse a intenção de comprar, mas aqui na Turquia os tecidos são tão de babar e, mesmo sem querer, você compra. (Traga espaço na bagagem.) O vendedor me perguntou se a minha mesa era de 1,5m ou de 2m, e eu não sabia. (Na verdade, eu nem tinha exatamente uma mesa em mente em que pudesse pôr). Mas mesmo assim comprei pra deixar guardada… a mesa eu compro depois, uma sirva pra a toalha.


Comprei também a minha passagem de ônibus para a noite, pois já era hora de seguir para a Capadócia, no centro do país. Desta vez seria uma viagem mais longa, e eu só chegaria lá no outro dia de manhã.

Fui para o hotel pegar minhas coisas e fiquei de papo com um mexicano. Ficamos trocando impressões sobre a Turquia e chegamos à conclusão de que os turcos se parecem muito com os latino-americanos, na aparência como no comportamento. Só que os turcos são mais pavio-curto e tem menos jogo de cintura e molejo pra lidar com as coisas do que nós. Ao menos é a minha percepção. Mas são muito animados e calorosos.

A viagem segue.

 

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

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