Eram 6:30 da manhã de uma quinta-feira na Praça Djemaa El-Fna, coração de Marrakech. A maior praça de toda a África. O sol ainda não raiou, e poucos bares estão abrindo. Gradualmente os vendedores de rua e das lojas vão chegando, gritando animados uns aos outros em árabe, e dando início ao mega-movimento que domina a praça durante o dia. Várias vans e outros carros circulam e estacionam pelo grande calçadão da praça, algo que só lhes é permitido fazer até as 9 da manhã.
Perto de nós, um tio calvo de bigode e paletó anda pra lá e pra cá segurando dois cigarros na mesma mão: um normal, que ele fumava, e uma cigarrilha cubana, que ele carregava apagada entre os dedos e que parecia ser só para a pose. Ele coordenava os vários motoristas e, como diria a minha avó, parecia ser “o chefe do bando”, o homem do dinheiro.
Estávamos ali prontos para viajar, vários turistas. Em Marrakech, todas as agências de viagem parecem oferecer os mesmos passeios, o melhor deles ao Saara, uma jornada de três dias e duas noites atravessando a Cordilheira do Atlas, os vales de pedras, e chegando enfim a Merzouga, às bordas do deserto. De lá você pode fazer passeio de camelo e ir acampar na areia. Essa era a rota.
Mustafá, o nosso motorista, circulava com seu cigarro (um só), um árabe meio enfezado, de seus 40 anos, cara lisa, corte curto de cabelo e cifose — andava como se estivesse sempre com os ombros levantados, aquela pose de pistoleiro. Os passageiros estavam todos no calçadão esperando pra ver em que van iriam, até que aos poucos os “funcionários de solo” vão pegando o dinheiro sem lhe dar recibo nenhum e arrebanhando as pessoas pra dentro das vans. A coisa não é lá muito formal, nem particularmente cortesa, e a sensação é a de que você não tem controle de nada, mas é como funciona. Depois de esperarmos até umas 7:45, zarpamos na van de Mustafá.
Se você acha que o Marrocos é só terra seca e deserto, vai se surpreender.


Conforme vamos avançando na estrada e subindo na altitude, a temperatura cai. Chega ao ponto de ter gelo e neve na beira da pista. Pista, por sinal, cheia de curvas, sobes e desces. O vento, apesar de já ser primavera, é frio de você cruzar os braços. Paramos numa bodega pra tomar café ou chá, e tirar umas fotos.



Mustafá era motorista e guia, mas não falava muito. Só abria a boca pra dizer “photo-stop!” ou “20 minutos!“, na hora que parava. E ai de você que atrasasse. Os marroquinos não têm a menor cerimônia de lhe dar um esporro ou arranjar briga com você, ainda que não lhe conheça.
Paramos a seguir numa fábrica artesanal de óleo de argan, iguaria marroquina. (A gente sabe que há acordos entre as fábricas e a agência de turismo, mas a visita não é má).





Dentro de duas a três horas você atravessa a cordilheira e a paisagem muda radicalmente. Esqueça aquele verdejante das fotos anteriores. Agora é terra seca mesmo. Ainda não estamos no deserto: aqui são pedras, não areia, mas os oásis aqui e ali já dão o contraste, como ilhas verdes num mundo seco. Bem vindos à região de Ouarzazate.




Lá dentro há todo um vilarejo hoje dependente do turismo. O local é tombado pela UNESCO e usado pra filmagens ao menos uma vez ao ano. Fizemos um passeio pelas ruelas no interior, e o guia nos mostrou orgulhosamente no celular a sua foto com Emilia Clarke, a atriz que faz Daenerys em Game of Thrones. “Minha foto com a Khaleesi“, mostrava ele sorrindo, vários dentes faltando.




Dali fomos almoçar, seguindo viagem rumo ao Saara. Num restaurante de beira de estrada, pedi uma moqueca d´ovos. Bem, ao menos é o que parecia 🙂

Fiz esse trajeto pelo Atlas 2 vezes..é divino…Merzouga é demais…a energia desse lugar é impressionante..amo Marrocos