Esta é a vista de um restaurante numa das centenas de ilhas na costa da Croácia. As vistas aqui são de acalentar o coração.
É verão na Europa, e com ele milhares de turistas vêm visitar os litorais quentes do sul do continente. Portugal, Espanha, França e Itália fizeram fama no século passado com tradicionais destinos badalados por celebridades (Ibiza, Cannes, entre outros). Hoje, no entanto, digo que a costa mais popular e “revelação” neste século XXI na Europa é, sem dúvidas, a da Croácia.
Membro da antiga Iugoslávia no leste europeu (junto com Sérvia, Bósnia, Eslovênia, Montenegro, Kosovo e Macedônia), a Croácia hoje é a queridinha do grupo na Europa. É a mais recente adição à União Europeia, desde julho de 2013. Enquanto aqueles demais países continuam relativamente pobres, impregnados de corrupção, e têm às vezes conflitos internos, a Croácia (e a Eslovênia, que já havia se unido à UE em 2004) são vistas como estáveis e bem-vindas ao clube de países europeus mais “adiantados”. Esta ao menos é a visão geral aqui na Europa.
Política à parte, sua costa linda e o mar azul é que dão muito do charme que a Croácia tem. Seu litoral pode não ter daquelas praias paradisíacas do Brasil ou da Austrália, mas tem casario antigo em vilarejos tradicionais, um mar belo e muita história (estes sim são o forte na Europa). Já falei um pouco da história local no post anterior (ver Split: Ruínas Romanas na Costa da Croácia). É hora agora de falar do sabor do lugar e da curtição.


É tudo muito belo e bem cênico. Mas tem um outro lado.
Eis uma síntese do que você vai encontrar aqui: Mar (mais do que praia), lindas casas, ruelas e vilarejos de pedra, festas, música eletrônica, pizza e fast-food, croatas alugando seus apartamentos, comilanças doces típicas destes países da ex-Iugoslávia. E fique longe do sorvete, por favor.
A região emana sossego mas se tornou altamente turística.
Há quem alugue barcos pra navegar pela costa, mas é perfeitamente possível tomar ferries diários e sair de uma ilha pra outra, usando Split, Zadar ou alguma outra cidade costeira como ponto de apoio. Você será acompanhado por centenas de jovens holandeses, ingleses, alemães, italianos, franceses e espanhóis procurando festa, folia, calor e curtição. Prepare-se para algazarra, filas homéricas, bares cheios, e a galera virando a noite na rua. Não estou criticando; eu mesmo aproveitei bastante; mas venha preparado.
Cheguei pelo aeroporto de Split, e olhem aí a sugestiva propaganda que encontrei logo de cara, recepcionando os viajantes.

As várias ilhas são muito parecidas, então não se preocupe em visitar todas elas (são mais de 700, 48 delas habitadas). Eu fui à ilha de Brač [Brátch], à cidadezinha costeira de Trogir, e à famosa ilha de Hvar, todas essas nas proximidades de Split.
Em Brač eu fui à praia. É difícil falar realmente de praia aqui na Croácia, sobretudo se você está acostumado com o Brasil. Na Croácia o que realmente tem são partes costeiras de águas rasas, com pedrinhas em vez de areia, e água fria. Refresca do calor, mas acho melhor de ver do que de entrar.




Definido que você não vai passar muito tempo nessa água fria, ou você vai pegar um bronze no sol, ou vai bordejar pelas ruelas históricas dessas cidadezinhas. Foi o que eu fiz.
Enquanto nos onipresentes calçadões à beira-mar o que você tem são hordas de grupos de jovens tentando vencer a ressaca da noite anterior, tomando café preto e preparando-se para tomar o ferry pra algum lugar, a uns passos dali, vilarejos adentro, você tem ruelas pacatas e sossego.





Só é uma pena que a “boa mesa” seja mais no aspecto ambiental do que gastronômico. Enjoei-me de comer peixe grelhado ou massa todo dia no almoço e no jantar. Ah, eu adoro massa. Eu também, mas quero ver você dizer isso depois de uma semana comendo macarrão com molho ou pizza. Sem contar que, como a clientela é quase inteiramente turista, eles vendem qualquer coisa e a qualidade nem sempre é das melhores.
Eles gostam de se vender um pouco como uma segunda Itália, até pelas origens históricas em comum, mas na gastronomia eles aqui ficam devendo. O sorvete então, saboroso na Itália, aqui é todo daquela qualidade de terceira, colorido e açúcar puro.
No geral, eu senti aqui a falta de uma maior expressão cultural própria. Não é que não exista, mas é que você quase não vê — só no cenário, mas não nos serviços. Na Grécia você facilmente encontrará música grega ao vivo por toda parte, iogurte grego, coisas típicas. Em Portugal, ouvirá fado, beberá vinho do Porto, e comerá bacalhau. Na Espanha, verá e ouvirá flamenco, comerá tapas e beberá sangria. Já aqui na Croácia, parecem coisas tão genéricas (festas regadas a música eletrônica de discoteca e comida fast-food por toda parte) quanto o público turista jovem que consome esses serviços.
Os croatas aparecem em cena basicamente alugando seus apartamentos (esqueça hotéis, aqui é tudo na base de AirBnB ou CouchSurfing, e o Booking.com te dará opções basicamente de quartos que os croatas alugam; é bom e vale a pena, mas guie-se pelas avaliações dos clientes anteriores, pois aqui tem malandro que gosta de passar gato por lebre). E há no máximo uma coisa ou outra característica daqui, como os crepes doces que são típicos do leste europeu.

Parece que a costa foi toda tomada de assalto; as pessoas locais tiram um trocado com essa clientela, mas não parecem participar muito. No geral você só sente que está na Croácia pelo cenário e pela paisagem, quase nada pela parte cultural humana. Não é que a cultura local não exista, é claro que existe, mas não a vejo ser integrada, constituir e fazer parte dessa economia do turismo. Parece-me mais espremida de lado, em troca de generalidades (seja a música eletrônica pop, a comida fast-food, e outros).
Feita a minha crítica, não posso negar o charme do lugar. É como se ele por si só tivesse uma expressão própria que se oculta por detrás da badalação.



É semelhante à sensação que tive em Malta, outro lugar dominado por esse turismo europeu sem personalidade cultural própria.
As festas daqui você encontrará lá, noutros países da Europa ou no próprio Brasil. Não precisa vir à Croácia para isso. Aqui o que merece sua visita realmente são as vistas, o visual, o cenário. Você, no entanto, vai precisar ter uma conversa própria, íntima com ele, assim entre a Dalmácia e você, no tete a tete, um pra um. Quase não a encontrará nas pessoas; terá de conversar com as pedras.

Permita eu discordar de você quanto a gastronomia. Passei 16 dias na Croácia e comi bem todos os dias. Massas excelentes, frutos do mar fresquíssimos e os sorvetes tão bons como na Itália. Achei o povo simpático e honesto. As praias, embora de pedrinhas, tem tons de azul e verde fantásticos. E a água fria não chega a ser um problema.
Concordo com vc, estou na Croacia , ja no sul. Entrei por Eslovenia/ Pula e a Croacia me passou o fest food que vc falou. Experimentei restaurantes bons , inclusive um prato que amo o Risoto de Nero Sepia e nao lembrava o sabor da Italia. Conheço bem a Italia a anos e impossivel compararmos a gsstronomia.
Infelizmente p mim a Croacia perdeu a identidade esta mais peocupada em euros….
Trabalho com turismo no Brasil, aqui estou de ferias