Os cariocas terão uma queda de pressão ao saber, mas “Copacabana” não é um nome originalmente do Rio, ou sequer brasileiro. É um nome indígena dos Andes, que viajantes bolivianos trouxeram à praia do Rio de Janeiro no século XVII. Desde antes da invasão dos espanhóis às Américas, há nas margens do Lago Titicaca — hoje na fronteira entre a Bolívia e o Peru — um povoado com o nome de Copacabana. As hipóteses sobre a etimologia exata do nome variam, a mais aceita na Bolívia é a do significado Kota Kahuana (“vista do lago”) na língua Aymara, nativa da região.
Dizem que nos idos de 1500 houve uma aparição de Nossa Senhora a um pescador daqui, que talhou uma imagem sua em madeira. Ela ficou conhecida como a Nossa Senhora de Copacabana, ainda hoje a santa mais cultuada da Bolívia e de partes do Peru. No século XVII, mercadores de prata dessa região em viagem à cidade do Rio de Janeiro lá ergueram uma capela à santa, na praia que então era conhecida no Brasil pelo seu nome Tupi, sacopenapã (significando “caminho dos socós”, que são aves da família das garças). Com o tempo, a capela de Copacabana deu seu nome à praia e ao bairro. A capela ficava onde hoje é o Forte de Copacabana, lá construído em 1914.

A cidade boliviana de Copacabana continua hoje sendo o pequeno povoado de sempre, construído ao redor do Santuário, só que ele é hoje muito mais turístico. Numa tarde você percorre ele todo a pé. Há a visitar, basicamente, o Santuário de Nossa Senhora de Copacabana e as margens do lago.
O Lago Titicaca é o maior lago da América do Sul e o mais elevado lago navegável do mundo, a 3.812m de altitude. Você nem se dá conta de que está a essa altura toda, exceto pela baixa de oxigênio no ar e uma certa dificuldade pra respirar, se você não estiver nessa altura já há algum tempo.
Cheguei num ônibus vindo de La Paz, básico porém confortável, como comumente o caso no Brasil. Li bastante sobre bloqueios de estradas na Bolívia, mas não vi nada disso. O curioso é que, como Copacabana fica numa ponta sinuosa às margens do lago, o ônibus o atravessa numa balsa para não ter que fazer uma volta muito grande. (Nisso, curiosamente, você provavelmente precisará já mostrar a sua documentação às autoridades peruanas, pois Copacabana é tão “na fronteira” que eles entendem que dali você já poderá facilmente entrar no Peru.)
As vistas para o lago são magníficas.




Chegando do outro lado, o ônibus lhe deixa numa das praças centrais de Copacabana. A cidadezinha, verdade seja dita, não é exatamente bonita. Os bolivianos e peruanos parecem sentir pouquíssima necessidade — e/ou terem pouquíssima condição — de rebocarem suas casas, então o mais comum é ver repetidamente por estas cidades do interior casas de múltiplos andares só no tijolo e com janelas de ferro e vidro. As ruas são repletas delas. De mais ajeitadinha, só mesmo a rua principal que desce para o lago, recheada de cafés e restaurantes com wi-fi (para turistas).


Apesar do jeitão de “caminho para a praia”, eu não vi ninguém tomando banho de lago, pelo menos não aqui. (A esta altitude e neste clima ensolarado porém frio, tenho a impressão de que a temperatura da água é muito pouco convidativa.)
À beira do lago, vi apenas barcos de pescadores e de passeios — como os que levam para a Ilha do Sol e outras com heranças indígenas no meio do lago.

Caminhando uns 10 minutos na direção oposta você chega ao Santuário de NS de Copacabana, uma área colonial e até bonita, embora simples. A arquitetura é portentosa, mas não senti aquela pretensão de outros templos coloniais, talvez pela simplicidade das paredes brancas e de seus arredores.



Não deu para tirar fotos do interior, mas recomendo a visita.
Este não deixa de ser também um bom trampolim por onde seguir em viagem ao Peru. Achei uma noite aqui o suficiente. Mas antes de partir para o Peru, tratei de terminar de gastar todos os meus bolivianos (a moeda, não o salgado brasileiro), e preparar-me para adquirir soles peruanos do outro lado. (Leve dólares, pois não é em todo lugar que trocam real!)
Em termos de comida, como sempre gosto de pontuar, não achei nada de especial aqui. O que você vê — como também verá no Peru — é a tenebrosa Inca Kola, um refrigerante amarelo com gosto de chiclete. Lembrou-me o róseo guaraná jesus do Maranhão, e é tão horrível quanto. (Todo o meu amor aos maranhenses e ao Maranhão, mas aquele guaraná é brabo. O mesmo se algum amigo meu peruano estiver lendo isso aqui.)

O sol caía por detrás do lago, dando a impressão de que havia vulcões em erupção (à là Mordor) nas montanhas além. A vista para o Titicaca é linda nesse entardecer.
No dia seguinte, tomaria uma chávena de chá de coca antes de partir para ter energia de carregar a bagagem no baixo oxigênio destes quase 4 mil metros, e seguiria para o Peru. Do outro lado do lago, a cidade peruana de Puno, e dali seguiríamos já diretamente para Arequipa, uma cidade maior. Arequipa fez o traslado valer a pena, mas foi uma das mais desgostosas viagens de ônibus da minha vida.
Deixo vocês, por ora, com o visual do lago à noitinha.



Gente, que espetáááááculo da natureza!… que visão esplendorosa, que anoitecer divino nesse belíssimo lago. Impossível não elevar a alma e o coração aos Céus diante do esplendor dessa natureza simples e harmoniosa com seus coloridos diáfanos,criados pelo grande Pintor do Universo. Que beleza para os olhos e para o espirito..
Lindo lago Titicaca. que belas, azuis e serenas águas um espetáculo de visão!…Um tesouro de beleza natural que precisa ser apreciado.
Lindo na sua simplicidade o Santuario de Nuestra Señora de Candelaria de Copacabana.
E que banho de História meu jovem amigo viajante. Muito bom . Ótimo saber das origens da denominação Copacabana.. Adoro saber essas histórias que o senhor conta tão bem. Seria um excelente professor de Historia e geografia. Com certeza os jovens iriam apreciar. Gostei do indio, da história e achei com semelhanças com as de Aparecida e Guadalupe.
Linda postagem bela região. Obrigada . beleza de viagens. É isso ai. Vamos que vamos. viajar é preciso. escrever tambem e o senhor o faz muito bem, diga-se de passagem. hahah Valeu!…