Zoeiras Peruanas 1 01
Peru

Zoeiras Peruanas: Da malandragem ao cuspe de lhama, e mais

Aí estão as tias me enrolando. Eu paguei pra tirar uma foto com um filhote de lhama, e aí estou eu sendo enganado antes de me dar conta — muito depois — de que esse é um filhote de cabra. Quem quiser que caia naquele conto de que malandragem e criatividade só existem no Brasil.

Somos de Peru, carajo!!“, dizia o homem com voz de Velho Barreiro na gravação. Estávamos num tour pelos arredores de Arequipa e, por alguma razão que desconheço, puseram o conversê gravado de um velho da roça no final. O veículo era um daqueles ônibus turísticos abertos onde as pessoas sentam lá no segundo andar, e ao final nos puseram esse monólogo — com som de gravação do Disque Piadas — em que o velho contava um ‘causo’ e concluía com a assertiva nacionalista.


Antes do velho, tivemos 4 horas de Katy, a nossa guia, uma daquelas pessoas que falam como se estivessem permanentemente sorrindo (tipo Netinho, o cantor de axé do clássico “Oh Miiiillaaa“) — e você percebe isso na voz. Some-se àquilo o hábito, estilo professoras do infantil, de pronunciar as palavras sílaba por sílaba para explicar as coisas (A-re-qui-pa!). Ela usava um chapéu largo, luvas finas de ladra, e lembrava uma versão persistentemente alegre de Carmen Sandiego.


Não foi um tour que eu exatamente recomende. (Este é o tour campiña, oferecido em Arequipa pelos seus arredores semi-rurais. Me pareceu bobo e pouco bonito. Afora algumas hortinhas, o entorno de Arequipa é pobre e tão seco que, só de olhar, dá sede.)


O mais memorável no tour foi quase tomar uma cusparada de um parente de lhama. Fomos (naturalmente) a um lojão caro, incluído no tour, para turista. Esse era de alpacas, lhamas, e produtos de lã desses camelídeos dos Andes (veja detalhes deles aqui). Um deles é o guanaco, um selvagem e que quase me acertou gosma na cara.


”Lhama cospe?“, perguntaram-me aos montes. A resposta é: Cospe, e cospe longe (ou seja, cospe com força, e tomar aquilo na cara não deve ser nada legal). É uma forma natural entre elas e seus parentes de demonstrar desagrado ou irritação. 


Resolveram mexer com o tal guanaco num corredor estreito, estilo zoológico, entre duas áreas gradeadas onde os animais estavam. Estávamos — eu e o meu grupo de turistas — transitando ali (“Olha como é bonitinho!“) e dando ramo de planta para os animais comerem, até que o guanaco se irritou e lançou uma cusparada que, me pareceu, não acertou em ninguém. Só o grupo ficou dividido (entre os que já estavam mais à frente e os que ficaram pra trás), e daí em diante, colega, a sensação era de estar num corredor polonês com um sniper lá em cima esperando liquidar — com um líquido bem gosmento — o primeiro a passar. 


Eu, naturalmente, me encontrava com aqueles que não haviam passado ainda. Foi pura adrenalina. O bicho urrava — ou seja lá qual for o nome do som que guanaco faz — e preparava-se pra lançar outra dose quando uma mulher se atreveu a passar gritando e correndo, com as mãos na cabeça como se fosse proteger-se de alguma coisa caindo do céu. O cuspe varou o alto e foi parar na área do lado oposto. Foi sorte as lhamas não terem revidado e iniciado uma guerra, ou estaríamos ferrados.   


De repente, todos muniram-se daquele sentimento de “É agora ou nunca!” e atravessamos em grupo. Algum instinto primevo de defesa em manada deve ter entrado em ação aqui, e passamos ilesos. 


Boa diversão quando for visitar as lojas de lã de alpaca.

Zoeiras Peruanas 1-02
O meu amigo guanaco, antes de cuspe.

O Peru é uma zoação tão grande quanto o Brasil, caso você tivesse alguma dúvida. Nas ruas da própria Arequipa, naquele mesmo dia, eu encontraria a seguinte “briga” do vídeo abaixo, proporcionada por uma casa de celulares seduzindo as pessoas a trocaram os seus aparelhos analógicos por smartphones.


(E caso você seja daqueles que dizem que “mulher bonita só no Brasil”, verá também que não é bem assim.)

Ali, saindo de Arequipa, me aguardava outra linda viagem de ônibus de 6 horas até a cidade de Puno (ver Emoções de ônibus no interior do Peru). De lá uma viagem de trem me aguardava até Cusco, a capital histórica dos incas, no alto das montanhas, a 3.400m de altitude.

Fenix chicken
Uma casa de frango assado em Arequipa. Será que esses renascem das cinzas?
Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

2 thoughts on “Zoeiras Peruanas: Da malandragem ao cuspe de lhama, e mais

  1. Hahahaha que beleza de postagem hahaha ate hoje dou risada com a descrição da guia la mais parecendo uma gasguita a repetir A- re -qiiii- paaa hahaha olhe meu amigo. engraçadíssimo.
    E coitado de voce com um cabrito nas mãos em vez de uma lhaminha haha. Malandras as peruanas la haha sabidas haha
    Outra parte engracadissima e cheia de adrenalina foi mesmo a cusparada do camelideo haha…com o linguáo do lado de fora enrrolada pronto a dar o bote haha. E o povo ouviu alguem dizer: cuidado com o cuspe haha… Quem disse que deu tempo..o cuspe passando voando com a rapidez da bala haha e o povo abaixando a cabeça com medo de outro .. e o medo de passar e receber um na cara haha e a cara de poucos amigos do talzinho haha uma graça. Menino, que adrenalina haha
    Outra parte hilárica foi a disputa mostrada pelo video. haha otima.
    Muito divertida a postagem. O tour deu e deixou. haha

  2. Sua descrição é divertidíssima!
    Quem diria que senhoras tão distintas fossem duas golpistas aproveitadoras de quem não creceu na roça… kkkkkkkkk fiquei com dó de vc pela cabritinha.
    Imagine você que uma vez fui alimentar uma camela e ela não curtiu minha falta de prática, me cuspiu feio, no rosto… argth

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