As brumas se juntavam conforme avançávamos dentre as montanhas. Entre Puno e Cusco, no Peru, está talvez a melhor rota de trem da América do Sul. São 8h de uma viagem confortável margeando os Andes, seus rios e montanhas, e passando por vilarejos bucólicos. O custo da passagem pode ser ligeiramente alto (ver preços atuais em PeruRail.com), mas vale muito a pena.
Você compra tudo online, com cartão de crédito, e leva um voucher impresso em casa para trocar pelas passagens cá no Peru (em Puno ou em Cusco). Lembre-se de ter consigo o cartão de crédito usado na compra. Eu tenho o hábito de às vezes viajar só com um cartão, em vez de todos, e “pisquei” porque não lembrava se era o mesmo que havia sido usado online. No fim, foi, mas evite esse aperto.
As refeições estão todas incluídas, além de drinques típicos (pisco sour), música tradicional andina e uns desfiles de “moda” para turista ver. É divertido. Obviamente, peruano não usa esse trem — ele se parece mais com um Expresso Oriente (ou, às vezes, um expresso de Hogwarts) para turistas pelos Andes.
Foi uma diversão.





Enquanto isso, do lado de dentro do trem, você fica naquela pose sólida de quem está ali pra ser servido. Um bombonzinho… uma papa à là huancaína (ver detalhes da comida peruana aqui)… um pisco sour, o drinque típico da costa pacífica da América do Sul, feito com destilado de uva (pisco), limão e clara de ovo batida. Parece estranho, mas é gostoso.
O interior é todo bem decorado e confortável, e você troca de ambientes à vontade — entre o seu assento “normal”, a área do bar, e o vagão Vistadome, o mais popular, com vidro por todos os lados (inclusive no teto) e as melhores vistas da paisagem. E o fundo é aberto pra valer, onde você pode sentir o vento.





Só que, como a zoeira perpassa quase tudo, esta viagem no Andean Explorer não poderia escapar.
Eu comecei a observar já desde o começo, desde antes de entrar no trem, na sala de espera. Rodeados de gringos, os músicos peruanos contratados pela empresa tocavam sua violinha com o estojo do violão já modestamente armado ali no chão para receber as gorjetas. Em serviços turísticos América Latina afora, graças às visitas frequentes de estadunidenses e canadenses, tornou-se quase impossível receber até “bom dia” sem esperarem uma gorjeta sua.
Na TV ligada, um vídeo em eterno replay mostrava o que nos esperava, com um tiozão gringo de chapéu de safari contando como tinha achado tudo maravilhoso.

Saindo dali, antes de chegarem as paisagens verdejantes, não posso esconder que você passa pela cidade mais feia que eu já vi na vida: Juliaca. É um espetáculo incrível de balacobacos e coisas diversas que não ficam devendo nem à Índia.

A equipe do trem era pura simpatia, exceto por um clone triste de Nerso da Capitinga. Ele era o chefe da equipe, e andava em pose formal para lá e para cá com ar de pesar.

Além dos funcionários, havia no trem um grande grupo de turistas belgas — além de muitos outros. Como eu disse, afora as belas paisagens nós fomos entretidos por um desfile de roupas tradicionais e por mais músicos andinos. A gente sabe que não é exatamente o tipo de música que toca nas rádios peruanas, mas não deixa de ser algo genuinamente daqui. E o mais divertido era ver a empolgação dos turistas. Fiz um vídeo que já tenho dificuldade de assistir sem desviar a atenção para o tio ali atrás dançando feito “bonecão do posto” (aqueles de ar).
E, porventura, parávamos aqui e ali no meio da viagem para apreciar a paisagem ao ar livre e ser abordado por vendedores. Digo assim mas era tranquilo. Havia desde gente vendo roupas até senhoras em trajes tradicionais (ou acompanhadas à disposição para tirar foto por um preço). Eu não resisti à velhinha e concordei em dar um trocado para tirar uma foto com ela. (A mão quase que vai onde não devia…).
Acredito que, vista a idade, hoje ela já está com o Pai (ou com Pachamama, como preferir), mas fica a dica, a recomendação para tomar o trem dos Andes e se divertir.
Uaaaauuuu!… que viagem fanntáaaastica essa através da maravilhosa natureza peruana, em plena Cordilheira. Belíssima paisagem, magnifica viagem, engracadissimas passagens e personagens, comilanças ótimas, musicas e músicos excelentes, programação e serviços de bordo muito bons, conforto e diversão. Uma beleza. Espetacular a visão da natureza que acompanha toda a viagem. Uma experiência fantástica no coração dos Andes Peruanos..
A lamentar a situação caótica das cidades peruanas do interior como Puno e Juliaca, em particular Juliaca, onde não se sabe como aquele povo consegue sobreviver em semelhante hecatombe urbana e pobreza. Uma tragedia social, administrativa e econômica. Pobre e tão rica Latinoamérica. Pobres pessoas de Juliaca e Puno. É de ‘cortar o coração’ como dizia minha dindinha, ver o abandono em que vivem aquelas pessoas. Um horror.!..
Afora este aspecto tudo é beleza e riqueza cultural. Linda viagem. Impossível esquece-la. Se for ao Peru, é programa obrigatório.
Parabéns, mais uma vez, viajante brasileiro, por mostrar de maneira tão leve e divertida a beleza da nossa querida Patria Maior: a Latinoamérica.