Bangkok é uma cidade que se transforma do dia para a noite. Durante o dia, temos uma cidade quente, moderna, de altos prédios reluzentes, combinada a uma de visível pobreza, com muitos mendigos na rua e casebres de madeira às margens do rio. Os lindos templos budistas são o que de mais belo há para se ver aqui nestas terras tropicais. O budismo tailandês sinceramente lhe proporciona um espetáculo difícil de superar por qualquer outro país.
Vamos por partes. Primeiro, prepare-se para o calor. Bangkok é uma metrópole tropical, calor nível Rio de Janeiro ou Nordeste do Brasil. Mesmo no inverno tailandês — de dezembro a março, a “alta estação” do turismo aqui — a temperatura fica na casa dos 30+ graus com aquela típica umidade tropical. Nada absurdo, mas venha preparado.
Segundo, Bangkok é uma cidade grande e movimentada, um tantinho suja, mas de bom transporte público e bastante segura. São 8.5 milhões de pessoas circulando pelo metrô subterrâneo, pelo BTS Skytrain (ótimo metrô de superfície), pelos barcos públicos com rotas fixas no rio, em seus carros particulares ou nos notórios táxis rosa-choque de Bangkok. De modo geral, o nível de infraestrutura — e de muvuca — das ruas é o mesmo do Brasil.
Precisando de ajuda, pergunte. Os tailandeses falam pouco inglês, mas em geral são gentis e simpáticos. Bem mais que os chineses ou coreanos, por exemplo, e são mais abertos que os japoneses. Em verdade, eles parecem tão bem humorados e irreverentes quanto os brasileiros. (Há, é claro, as exceções. Do mesmo jeito que no Brasil você não pode sob hipótese alguma ser “irreverente” sobre a mãe do outro, aqui você não pode ser irreverente sobre o rei, ou pode ir em cana. Mais sobre isso mais à frente neste post.)

Por fim, talvez o mais importante do ponto de vista do visitante: aqui você verá um autêntico budismo, não a versão à la carte ocidentalizada, individualista, e que só fala em meditação e karma, mas sem a prática social da religião com os seus rituais coletivos, idas ao templo, presença dos monges na sociedade, etc. Dizer, como às vezes se diz no Brasil, que budismo não é religião mas “filosofia de vida” é um desconhecimento sem tamanho. Inclusive, você por toda parte verá críticas à apropriação casual e desregrada que o Ocidente faz do budismo.

O budismo aqui na Tailândia é de linha Theravada, que é a mesma escola do Sri Lanka, Cambodia, Laos e Myanmar (antiga Birmânia), diferente da escola Mahayana de China, Coreia e Japão, e da escola Vajrayana comum ao Tibete e à Mongólia.
Não cabe aqui aprofundar-se nos detalhes sobre as diferenças entre as distintas escolas de budismo. Em síntese, as diferenças são ontológicas (ex. acerca da natureza da alma); escriturais (e.g. o budismo Theravada apega-se ao “cânone” dos primeiros registros dos ensinos de Buda na antiga língua Páli, enquanto que outras escolas usam também outras escrituras); litúrgicas (ex. rituais funerários); e de preceitos éticos (ex. a Mahayana solicita vegetarianismo, as outras escolas nem tanto). Além de uma infinidade de outros aspectos filosóficos.
“Buda é geralmente laudado como sendo o primeiro líder religioso a levar as pessoas a olharem para dentro de si na busca pelo divino.“
Vale pelo menos saber que Sidarta Gautama, depois chamado de Buda (“iluminado”), é uma figura histórica. Ele foi um príncipe na Antiga Índia, nascido nos Himalayas (em Lumbini, atual Nepal) por volta do ano 563 a.C.. Dizem que, aos 29 anos, chocou-se ao ver a pobreza e o sofrimento humano do mundo exterior ao seu palácio, o que o levou à reflexão. Após praticar ascetismo e mendicância para depuração por muitos anos, pregou o caminho do meio, “nem a auto-indulgência, nem a mortificação”. Pregou As Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, mas, tal como Jesus e Maomé, não escreveu nada, seus seguidores é que depois o fizeram. Diferenças e múltiplas vertentes surgiram com o tempo, embora todos adiram àqueles princípios.
Buda é geralmente laudado como sendo o primeiro líder religioso a levar as pessoas a olharem para dentro de si na busca pelo divino. Isso, numa época politeísta de sacrifícios aos deuses etc., foi algo revolucionário. (Talvez ainda hoje o seja.)
Em Bangkok há uma infinidade de templos e não dá pra ver todos, mas não deixe por nada neste mundo de visitar ao menos o Wat Phra Kaew (Templo do Buda Esmeralda), o Wat Arun (Templo da Aurora), e o Wat Pho (Templo do Buda Reclinado). O Wat Traimit (Templo do Buda Dourado) também vale a pena, se você quiser mais. (PS: Tailandês não é latim. O Ph não tem som de F, tem som de P seguido por um H aspirado, de “house”.)


Vamos às visitas. Por sorte, todos esses templos principais estão próximos uns dos outros, a distância que dá para cobrir a pé. Estão todos no centro histórico de Bangkok, aonde o metrô e o Skytrain não chegam, então é preciso tomar o barco a partir de uma das estações do Skytrain na beira do rio (a estação Saphan Taksin).
Lembre que os barcos só funcionam de dia. Se quiser ficar até a noite para ver os templos iluminados (o que vale a pena), terá de achar outra maneira de voltar. Foi o que aconteceu comigo.
Saindo do hotel na área de Sukhumvit, tomamos o Skytrain cruzando os prédios modernos da cidade e depois o barco, margeando algumas de suas partes mais humildes.



Nós começamos pelo Wat Arun, ótimo para passar a tarde. Há vários pavilhões e áreas externas. O complexo é extenso, então permita-se pelo menos um par de horas. Os lugares são lindos.





Você verá muitas coisas da prática do dia-dia do budismo tailandês, como a presença de monges em seus mantos laranja, as pessoas entregando-lhes alimentos como donativos ao templo (e para caridade), preces em grupo, fila para tomar água benta, e mais algumas práticas curiosas, tipo passar engatinhando por debaixo de um altar para ter boa sorte.






Os orientais em geral são muito espiritualizados e chegados nas coisas de sorte e astrologia. (Para um comparativo, veja o post Indo ao templo no Japão.) Um amigo meu de Bangkok inclusive diz que os tailandeses são muito mais animistas — ligados a crenças de que há espíritos em tudo — do que seguidores das escrituras budistas propriamente ditas. Acho que em toda religião há uma certa distância entre a teoria e as práticas e crenças populares.
Aqui, neste vídeo abaixo, estamos eu e o meu amigo nos divertindo com as pessoas na fila para tomar uma bênção de água benta. (Perceba o chão molhado. Aqui a água benta não é aquele pouquinho das igrejas cristãs, é quase um banho.)
Neste outro vídeo abaixo, gravei um grupo de jovens monges cantando um mantra, puxado por um mais experiente. É comum que outras pessoas (todas descalças) também estejam no templo, embora em silêncio. O mais curioso de tudo é que às vezes entram cães, que deitam-se ali tranquilamente em meio aos monges, sem nenhum problema.
Vamos, finalmente, aos demais templos.
O Templo do Buda Esmeralda (Wat Phra Kaew) fica nos precintos do Grande Palácio Real tailandês, a morada oficial do rei, e tem um status especial. O “Buda Esmeralda” — que é na verdade feito de jade, e se chama assim pela cor — é uma espécie de relíquia antiga, que dizem ter séculos se não milênios, uma pequena imagem do Buda que dizem trazer prosperidade ao lugar que a abrigar. É uma espécie de tesouro da Tailândia. Está no país desde o século XV, embora tenha mudado de localização. Segundo as lendas, elas foi feita na Antiga Índia ainda antes de Cristo.
Não é permitido fotografar o interior do templo. A imagem em si é relativamente pequena (48cm de altura) para lhe chamar muito a atenção, mas o lugar como um todo é de uma beleza fascinante.
Havia tanta gente, naquele calor úmido tropical que eu achei que estava na lavagem do Bonfim na Bahia. Acho que é porque era início de ano, e os tailandeses vinham com oferendas de flores querendo dar suas graças e fazer pedidos.






Não muito distante dali está o Wat Pho, templo do Buda deitado, ou reclinado. A imagem é mundialmente famosa. O que muitos não sabem é que ela “apertada” dentro de um templo, e tirar fotos é uma trabalheira.
O Wat Pho tem uma área ampla e menos congestionada que essa acima, do Wat Phra Kaew. Foi lá que posamos, eu e meu amigo, para tirar foto com uns monges e eles nos perguntaram de onde éramos. Ao dizer que éramos do Brasil, um deles disse jocosamente que queria aprender as danças brasileiras. Eles aqui em geral são bem-humorados e podem ser bastante divertidos. (Em alguns templos há, inclusive, algo conhecido como “monk chat”, em que um ou mais monges se fazem disponíveis para responder perguntas dos turistas estrangeiros e conversar sobre o budismo.)






Enfim, em Bangkok você pode passar dias e dias encantando os olhos com os templos.
É inevitável perguntar-se o quanto que a religião budista facilita a aceitação das liberdades sexuais e de gênero vistas aqui (ver Réveillon em Bangok! Bem vindos à Tailândia, a terra da libertinagem), em contraste imenso com o conservadorismo dos países de tradição judaico-cristã ou muçulmana nesse assunto. Os próprios tailandeses a quem perguntei foram dúbios na hora de responder isso.
O budismo tem seu machismo — alguns templos, por exemplo, são vetados às mulheres, e os monges, que aqui tem uma série de benefícios como não pagar transporte público e ter assentos reservados nas estações de trem, são uma classe quase que exclusivamente masculina. É inclusive dito que as mulheres não devem tocá-los ou mesmo sentar-se ao lado deles, para evitar a tentação. Aquela velha e predominante ideia da mulher como o carnal que atrapalha a nobre elevação masculina. Portanto, se o budismo é “mais leve” e leva algum crédito pelo liberalismo de gênero da Tailândia, certamente não é ele sozinho.
Seja como for, será que ainda há alguém aí que acha que budismo não é religião?



Marion, tudo bem?
Irei chegar em Bagkok no dia 31/01, estou pensando em passar a virada no Hotel, mas preciso muito de uma ajuda com o roteiro no dia seguinte, no dia 01/01, o que eu poderia fazer ? Os templos abrem no dia 01/01??
Obrigada pelas dicas, estou adorando o Blog!
Obrigada desde já!
Oi Nikole! Contente que você esteja gostando!
Os templos todos abrem dia 01/01, e são o que eu recomendo. Quanto a isso fique tranquila, só se prepare para uma certa quantidade de pessoas. Os tailandeses adoram ir aos templos no começo do ano para levar flores e pedir bons auspícios. Não é nada impossível, mas são dias movimentados (especialmente no Wat Phra Kaew, o do Buda Esmeralda, bastante popular). Como o rei morreu, é capaz que haja até mais cerimônias.
O Wat Arun é uma opção (o que eu próprio fiz no dia 01/01), mas ele fica do outro lado do rio e requer um pouco mais de tempo. Se você preferir, o Wat Phra Kaew (buda esmeralda) e o Wat Pho (do buda deitado) ficam de um mesmo lado e a uma distância que você pode caminhar entre eles. Aí dependerá do seu ritmo e de quantos dias você dispõe. Só se lembre que esses templos budistas todos fecham ao pôr-do-sol.
Qualquer dúvida, estamos aí!
Ave maria que templos lindos, parecem feitos de sonho. que resplendor, que riqueza, ue espetáaaculo para os olhos. Belissimos. dificil de descrever as emoçoes que perspassam pelos que apreciam de perto uma maravilha dessas. lindissimos. Indescritiveis. Gente que pais maravilhosos esse. E quanta beleza. E de encher os olhos. São visões indeléveis.. Maravilhas da arte e da religiuosidade humanas, feita por mãos habeis com efeitos divinos. O ‘clima que se respira nesses tempo chega perto do Nirvana. Que belos mantras . Inesqueciveis. Destino obrigatorio de quem quer ver o que ha de bom no Oriente.. Não se retorna o mesmo depois de passar por essas experiencias, particularmente do divino do sagrado no Oriente. Maravilha de viagem e de postagem. Parabens, viajante brasileiro, por tao bem retrarar uma das mais belas partes desse maravilhoso paraiso que é o mundo, apesar das pessoas, dos governos e das instituições. Congratulações.