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Tailândia

Pelas ruas e mercados de Bangkok experimentando a comida tailandesa, a melhor do mundo

A Tailândia é uma diversão. Está no espírito dos tailandeses, como no dos brasileiros.

Esse “a melhor do mundo” é a minha desavergonhada opinião pessoal. Talvez. Sempre me perguntam qual a minha culinária favorita, e esta é sempre uma pergunta difícil. Amo a Itália, a Índia, a minha comida baiana de origem, mas a Tailândia também está sempre em disputa lá no topo. Embora essa seja uma questão de gosto pessoal, é indiscutível que a culinária tailandesa é riquíssima em sabores, e que uma viagem aqui não está completa sem experimentar as comidas.


Não seja como os que viajam para o exterior e comem apenas em McDonald’s e Subway. Aventure-se. Faz parte do conhecer o outro país. E, aqui na Tailândia, essa é uma descoberta intensa e gratificante — se você estiver preparado para os seus sabores. A culinária tailandesa é das mais celebradas do mundo, admirada Europa afora e na América do Norte. A nós na América do Sul faltam os imigrantes, mas na hora que os tailandeses descobrirem o Brasil e abrirem restaurantes aí… vai ser uma febre.


Eu como foodie assumido, fissurado por experiências gastronômicas deliciosas, fiquei contentíssimo em poder experimentar aqui na origem — e por preços bem mais camaradas — o que eu já conhecia de restaurantes tailandeses no estrangeiro, além de mais algumas coisas novas.


Comecemos pelas frutas nesta Ásia tropical, seguidas pela comida tailandesa propriamente dita, e depois passo às coisas realmente estranhas, exóticas, que os ocidentais se divertem em encontrar na Ásia. Os mercados de rua na Tailândia são uma folia. (De quebra, como um país oriental e barato, a Tailândia também acontece de ser um ótimo lugar pra comprar aquelas decorações exóticas por um preço bom. Melhor que a Índia até, embora os produtos não sejam idênticos. Mostrarei um pouco disso também.)

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Tomando sorvete de côco na casca do côco, junto com a fruta. A coisa mais maravilhosa do mundo. De cobertura, tirinhas de abóbora doce. Quem já imaginava que o clássico abóbora com côco também tinha a sua versão gelada, e aqui do outro lado do mundo?

Eu sempre digo que o Sudeste Asiático é a contrapartida asiática da América Latina. Eles aqui têm a mesma riqueza tropical que nós. Inclusive, muitas de nossas frutas tropicais como a manga, a jaca e a banana, entre outras, são originárias daqui, e foram levadas às Américas pelos portugueses. No caminho reverso, o mamão, o abacate, o abacaxi e o maracujá, além de todas as pimentas coloridas hoje essenciais à culinária tailandesa, são originários das Américas e fizeram o caminho contrário.


Você encontrará algumas frutas familiares, outras não. (A gente no Brasil tende a achar que conhece todas as frutas que existem. Ledo engano.)

Frutas na rua
Frutas à venda nas ruas de Bangkok. Abacaxi ali amarelo, e o vermelho à direita que eles estão traduzindo como “rose apple” é jambo. O vermelho-escuro é mangostim, uma fruta azedinha e branca por dentro que não costumamos encontrar pelo Brasil. (Se você estiver curioso pelos preços, pra ter uma ideia em reais basta cortar um zero, aproximadamente.)
Fruta dragão - pitaia
A fruta-dragão, chamada assim por lembrar os dragões do folclore chinês, é na verdade original das Américas, onde se conhece em português e espanhol por pitaia. Aqui no Sudeste Asiático ela está por toda parte.
Fruta dragão batida
Por dentro ela é branca com carocinhos pretos. Não tem muito gosto; os sucos em geral são batidos misturados com laranja ou limão pra dar mais sabor.
Manga seca
Manga seca, uma coisa que poderíamos vender no Brasil.
Frutas na rua - com pimenta
Os tailandeses têm muitas das mesmas frutas que nós, mas, como os mexicanos, às vezes gostam de adicionar molho de pimenta por cima. Argh!
Comida de rua 5
Suco de romã, também muito comum aqui. Mas saiba que aqui eles o vendem batizado com água.
Comendo durian
Uma fruta asiática que (graças a Deus) não fez a travessia às Américas foi durian, conhecida como “o rei das frutas” em partes do Sudeste Asiático. Parece jaca por fora e por dentro, mas tem bagos bem grandes, como você vê na foto, e o gosto é bastante diferente. É horrível, embora muitos tailandeses o amem. Essa minha cara de felicidade aí foi antes de experimentar. (O diacho aqui estava meio verde, pois não era estação. Quando maduro, o cheiro disso chega longe, e é inebriante, pois a fruta contém enxofre.)
No durian
Numa das pousadas onde ficamos. Isso deve lhe dar uma ideia do quanto a fruta fede.
Picolé de durian
Apesar dos pesares, eu ainda fui atrevido e comprei picolé disso. Tudo pela experiência. O gosto dura horas na boca.

Mas vamos à comida tailandesa propriamente dita. É uma culinária de sabores fortes, como a indiana. Porém, se os indianos se especializam nas especiarias (curry, pimenta-do-reino, cravo), os tailandeses capricham nos temperos verdes (coentro, cebolinha, e até erva-cidreira), no leite de côco e nas pimentas. Prepare-se. Os restaurantes voltados aos turistas tendem a dar uma amenizada, e normalmente servem versões “café com leite”, “pra criança”, quase sem pimenta. Se você quiser a experiência autêntica como eu, coma onde os tailandeses comem.


Nós descobrimos logo um supermercado 24h (é cheio deles nos distritos comerciais mais badalados) perto do hotel e que tinha também uma praça de alimentação. É comum aqui. Pratos pelos quais te cobram 15-20 euros na Europa aqui saem a R$ 5. Eu me esbanjei.


A base é o arroz, como em todo o leste e sudeste da Ásia, sempre acompanhado de um prato principal com molho, que pode ser de carne, peixe, camarão, e/ou verduras. O molho, segundo os próprios tailandeses, podem combinar de três a cinco sabores básicos — doce, salgado, azedo, amargo e apimentado. É comum haver toques de doçura, mais suave que aquela coisa escancarada dos vagabundos molhos cor-de-rosa de restaurantes chineses no Brasil.

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Camarões num delicioso molho apimentado com uma pitadinha de doce.
Comida de rua 2
Pad Thai, talvez o prato tailandês mais famoso. Talharim de arroz (e não de trigo), num molho de cor alaranjada que leva até extrato de tamarindo e açúcar de cana, mexido com ovo e amendoim moído. Às vezes leva tofu ou frango, como você pedir, e é servido com uma metade de limão pra você espremer a gosto. Eu sei, soa até exótico demais, mas é uma delícia. Em restaurantes tailandeses pelo mundo, você o encontra bem mais decorado, mas ele originalmente é um prato de rua, simples como este que fotografei, e que você come aqui por 5 reais.

Caso alguém esteja se perguntando, não se usam pauzinhos para comer aqui no Sudeste Asiático, mas garfo e colher. Pauzinhos são algo do nordeste da Ásia (China, Coreia, Japão). Em qualquer caso, faca você nunca verá, pois os orientais acham inadequado você comer armado. Como tantos dos hábitos asiáticos, a origem disso está nos ensinamentos de Confúcio (551-479 A.C.), filósofo chinês da antiguidade e que era vegetariano. Tudo já vem cortado em pedaços pequenos que você possa pegar numa garfada, sem precisar cortar nada.


Outra coisa curiosa é que aqui no Oriente eles fazem realmente uma refeição de manhã. Não há o hábito ocidental de fazer apenas uma boquinha leve. Eles aqui realmente batem um prato de comida, ou tomam sopa.


Eu me adaptei bem, porque gosto de refeições fortes de manhã. (Eu abomino aqueles cafés da manhã europeus de pão com geleia.) Já o meu amigo, depois dos primeiros dias, pediu arrego após uma apimentadíssima sopa de frango no curry verde às 9 da manhã.


”Porra, eu que sou baiano não tô aguentando. Meus amigos lá do Rio Grande do Sul não iriam durar nem duas colheradas disso aqui“, disse ele num misto de choque e indignação, sem terminar a sopa. Depois resolveu seguir a influência gaúcha e passou a procurar por “coisas de padaria” de manhã.


Eu segui nos pratos asiáticos. (Passei um mês e meio comendo essas coisas todo dia de manhã na Indonésia, e me acostumei.)

Comidas na praça de alimentação
Nossa matinal praça de alimentação. Ali meu café da manhã num dos dias em Bangkok: omelete cobrindo arroz, e sopa com bolinhos de peixe.
Tom Yam Gong
Tom Yam Goong, a sopa que você tem de experimentar na Tailândia (embora não de manhã). Leite de côco com capim-limão (erva-cidreira), tomates, cogumelos asiáticos e camarão. É uma de-lí-cia. (Tem pimenta, mas não seja frouxo.)
Eu experimentando kow soy
Eu experimentando kow soy, um prato típico do norte da Tailândia, para onde seguimos após Bangkok.
Kow soy
O kow soy (ou khao soi), típico do norte da Tailândia e raramente visto em restaurantes tailandeses no estrangeiro, é um prato de talharim de ovos no molho de legumes e especiarias com uns crackers fritos dentro. Pimenta daquela de fazer o cidadão chorar e ficar com a cara formigando.

Eu sei que as pessoas às vezes ficam cismadas em comer coisas na rua, sobretudo nestes países mais pobres. Contudo, digo que comemos na rua quase todos os dias e nenhum de nós teve qualquer problema. Evite coisas cruas que podem estar mal lavadas, e evite carnes deixadas ao ar livre, mas comidas quentes e cozidas, em geral feitas ali na hora, não costumam dar problema. (Em verdade, elas podem ser até mais novas que as de um restaurante, onde pode haver coisa velha e você não vê a preparação.)


E os doces? No reino das sobremesas os tailandeses também gostam muito de leite de côco, de arroz doce, sorvetes e gelatinas. Um clássico da Tailândia é o tub tim grob, ou “rubis” com côco verde no leite de côco, que essa menina aí abaixo está preparando. Os “rubis” são castanhas d’água chinesas (water chestnut em inglês), bastante macias. Você toma como um ponche frio. (Os tailandeses consomem isso em enormes quantidades. Fui numa festa de graduação tailandesa certa vez, e havia um vaso enorme disso que mais parecia um aquário em cima da mesa.) É gostoso, aquele gostinho mesmo de côco levemente adoçado.

Water chestnut
Tub tim grob, sobremesa tailandesa de côco verde, leite de côco levemente adoçado, e castanhas d’água chinesas.
Sorvete de côco
A preparação do sorvete de côco no côco, que mostrei no começo do post. Eles aqui gostam de pôr abóbora, castanhas, ou gelatina por cima. De brinde, nesta barraca ainda lhe dava um copo de água de côco.
Mango with sticky rice 2
Manga com um arroz grudadinho levemente adocicado, uma outra sobremesa tradicional. Delicioso.
Geleia negra thai
Sorvete com geleia negra e tubinhos de biscoito. Essa geleia, comum na Ásia, é feita a partir de uma gramínea. É levemente doce com um toque de amargo. Dizem que é um alimento yin, bom pra contrabalançar o forte yang do clima quente.
Com o sorveteiro thai
Eu com um sorveteiro na rua, num dos cantos de Bangkok.

Essas coisas você encontra por toda parte, mas um ótimo lugar onde “fazer a festa” é o Mercado Chatuchak, que opera aos fins de semana em Bangkok. Vá logo pela manhã e passe o dia, pois é grande. Foi lá que tomamos tub tim grob e achamos o sorvete mais gostoso.


De quebra, esse mercado é também um ótimo lugar para os turistas que amam fazer compras. Os preços em geral são melhores que nos pontos turísticos da cidade. Não se esqueça de pechinchar.

Ceguinho cantor
No Mercado Chatuchak em Bangkok. O ceguinho cantor é presença característica do Sudeste Asiático. No primeiro post sobre Yogyakarta na Indonésia, tem outro. É tão clássico quanto era a maçã do amor nas festas de rua do Brasil.
Decorações no mercado 2
Muitas lojas com decorações orientais em estilo tailandês e ótimo preço. Venha com espaço na mala, e lembre-se de sempre negociar antes de comprar.
Decorações no mercado
Embora os monges reprovem a comercialização de imagens de Buda, há umas lindíssimas, e elas estão por toda parte no mercado.

Eu sei que dentre os leitores sempre há aqueles mais apaixonados por coisas bizarras. Os que, quando ouvem falar em comida na Ásia, pensam logo em escorpião no palito e essas coisas.


”Os tailandeses da zona rural comem tudo que voa, exceto avião, e tudo que tem perna, exceto cadeira e mesa.

Sim, os asiáticos comem mesmo essas bizarrices. Como bem colocou um amigo meu tailandês de Bangkok, “os tailandeses da zona rural comem tudo que voa, exceto avião, e tudo que tem perna, exceto cadeira e mesa.” Mas é como ele disse: na zona rural. Na cidade, a venda de insetos fritos e essas coisas é essencialmente pra turista.

Barraca de insetos fritos
Eis um turista ocidental aqui admirado com a barraca de insetos fritos do tio tailandês. Vai uma conchada?
Insetos fritos em detalhe
Aqui temos grilos e baratas fritas. Há também larvas de inseto grelhadas.

Não, não experimentei nada disso, então não me perguntem que gosto tem. (Você pode descobrir isso aí no Brasil mesmo.) O meu amigo disse que ia comprar pra comer, mas começou com aquela coisa de “na volta a gente compra”, e não comprou.


Pra terminar, além da gastronomia propriamente dita e das bizarrices, há ainda um terceiro elemento da “comida tailandesa”, que é a gama enorme de produtos coloridos e industrializados comuns por todo o leste da Ásia. Bolos cor-de-rosa, batidas de pó de chá verde, café de latinha, sucos com sabores de flores, etc. São coisas que os orientais adoram, e que eu não poderia omitir, pois você vai encontrá-los aqui em cada esquina.

Comida indust - geladeira colorida
Uma típica geladeira de supermercado em Bangkok. A estética oriental adora produtos e propagandas mega-coloridas.
Comida indust - crisantemo
Este foi um suco de crisântemo que eu comprei e ninguém gostou, tive que tomar todo sozinho. Tem mesmo o gosto da flor.
As bebidas coloridas na rua
Uma casa de sucos na Tailândia. Rola de tudo: suco batido com gelatina, pó de chá verde, leite e o escambal. Prepare-se para quilos de gelo dentro do copo, açúcar líquido transparente, e opções das mais diversas.
Eu tomando milk-shake de chá verde
Tomando um milk shake gelado de chá verde em Chiang Mai, no norte da Tailândia.

Ele só não supera mesmo o café tailandês, café adoçado com leite condensado. Uma delícia. Peça por Thai coffee e não se arrependerá.


A esta altura, eu creio que você já se convenceu de que a comida tailandesa tem grande riqueza de sabores, mesmo que ela ainda seja pouco conhecida de nós no Brasil. Como qualquer coisa dotada de identidade forte, você pode até não gostar, mas é difícil lhe ser indiferente. Eu a amo, e acho que muitos brasileiros, se viessem aqui, a amariam também.


Algumas coisas mais específicas eu guardo pra depois, quando revê-los agora no norte da Tailândia, a partir do próximo post. Ê vida boa.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

2 thoughts on “Pelas ruas e mercados de Bangkok experimentando a comida tailandesa, a melhor do mundo

  1. Esta postagem é uma ”onnnda!”…. engraçadisssima, sobre a exótica, picante, espantosa nas suas iguarias, e muitas vezes saborosa, comida tailandesa!… haha É tambem uma das minhas preferidas. Adoro comida asiática, desde que vegetariana ou no muito com frango ou peixe; de resto tô fora haha
    Admiro suas experiencias gastronômicas meu caro amigo viajante e sua coragem em experienciar tantos e diferentes tipos de comilanças dos mais diversos rincões desse ”mundel ”haha
    Esses sucos horrorosos , tenebrosos hahah haha com essas cores marca texto são mesmo de tremer haha oh coragem, seu menino haha
    E o que dizer dessa insetada e outros invertebrados e vertebrados estranhos ao paladar haha… terrrriiiiible haha eita coisa louca. E que horror o cheiro de podre daquele fruta louca que ninguem quer que entre nos lugares hahaha. Deus nos livre arrrremaria..haha
    O grande ‘tchan’ como se dizia na década de 1970, são mesmo as lojinhas e os seus produtos de babar haha desses grandes mercados maravilhosos, alem das iguarias ‘comiveis’ haha das barraquinhas. Que sorvete de coco!….. uma delicia dos deuses. Ótimos e lindos souvenirs nesses locais populares. Uma ótima pedida.
    Terra com lugares óóótimos para as comilanças, com o onipresente arroz, o gostossissimo coffee tay., o ambiente gostoso limpo e variado, uma beleza. Haja coragem para o nivel das pimentas hahah so mesmo para Mairon Polo comedor inveterado haha dos 7 mares e ares nunca dantes navegados haha
    Infelizmente ha aquele lado de abandono e pobreza que ja sabemos ser comum ( mas que sempre causam revolta) em países explorados como os do SE Asiático, da África e da Latinoamérica.
    Excelente passeio, ótima e divertida postagem. Valeu viajante. Gostoso ” viajar” nessas suas experiencias.

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