Barcelona tornou-se uma das sensações da Europa (e do mundo) nos últimos tempos. Uma cidade descolada, animada, e muito diferente do espírito monarquista da Espanha. Aliás, uma cidade diferente de toda aquela Europa tradicional. Barcelona representa a nova Europa: da União Europeia, do multiculturalismo liberal, e dos jovens festeiros que não querem nada com o conservadorismo da Europa de outras eras que você costuma imaginar.
Eu cheguei a Barcelona para o início do que seria uma jornada solitária de 4 meses, uma volta ao mundo que me levaria daqui ao norte da África, ao Oriente Médio, a países da Ásia ainda não visitados, à Nova Zelândia, e a países do Oceano Pacífico como Fiji, Samoa e Taiti — até a lendária ilha de Bora Bora — para retornar ao Brasil pelo outro lado do planeta. Relatarei aqui na página em detalhes essa volta ao mundo em 120 dias.

“Que hago? Me teletransporto y compro frutas?!“, perguntou revoltada a adolescente espanhola ao pai no aeroporto de Salvador. A garota dizia estar faminta, a Air Europa não prometia muito em termos de comida para o nosso voo a Madrid, e seu pai havia esculhambado todas as opções de comida existentes na sala de embarque do aeroporto (“porquerías“).
Era um Sábado de Aleluia (véspera de Páscoa) na Bahia, e eu me preparava para iniciar a minha volta ao mundo. Solitária pero no mucho, pois eu havia marcado de encontrar alguns amigos pelo caminho, e faria novas amizades com umas figuraças dos mais variados países que eu viria a conhecer. Em Barcelona, Raluca, uma amiga romena, me aguardava.
Na mal-afamada imigração espanhola, tudo o que o oficial quis ver foi a minha passagem para a Tunísia uma semana depois. Passei tranquilamente pelo velho Aeroporto Internacional de Barajas em Madrid e cheguei no novíssimo aeroporto El Prat de Barcelona, onde letreiros exibem orgulhosamente tudo na língua catalã. Para quem não sabe, Barcelona é a capital da Região Autônoma da Catalunha na Espanha, que fala uma língua diferente do espanhol habitual (o castelhano). Há décadas a Catalunha busca independência, negada por Madrid, mas que Barcelona & região parecem cada vez mais próximas de conseguir. Acho que ainda assistiremos a isso num futuro próximo.

Instalei-me entre a Avinguda Meridiana e o Carrer de la Nació (note como os nomes são diferentes do espanhol castelhano habitual), no apartamento de uma amiga de Raluca que não estava lá. Com tempo, o metrô de Barcelona te leva a qualquer lugar da cidade.
Fomos comer umas patatas bravas, pois a Air Europa não me alimentou adequadamente e eu tampouco pude me teletransportar para comprar frutas. Patatas bravas são umas batatas assadas com um molho levemente picante por cima (no México, onde eles comem picante de verdade, esse nome seria motivo de risada). Matar a saudade de uma crema catalana também foi ótimo.




Esta não era a minha primeira vez em Barcelona. Eu a havia visitado em 1996, quando a cidade estava na escalada da fama após sediar as Olimpíadas de 1992. Barcelona viria a encarnar muito bem o espírito da Europa pós-Guerra Fria dos anos 90 e 2000: cosmopolita com o multiculturalismo da União Europeia e celebradora do carpe diem — viver o momento, curtir a vida. Filmes já clássicos como O Albergue Espanhol (2002) e Vicky Cristina Barcelona (2008) mostram bem isso. As pessoas passaram a vir a Barcelona em busca de sol, calor humano, arte, música, emoção, vinho, café e sexo.
Esses interesses dos europeus do século XXI continuam a ser muito bem atendidos aqui em Barcelona, mas eu acho que a cidade mudou um pouco. Houve um influxo imenso de imigrantes pobres que hoje lotam as estações de metrô da cidade vendendo bolsas falsificadas. Roubos não são raros. Além disso, a crise financeira e do euro, gerando enorme desemprego na Espanha, deu uma baqueada no “sonho europeu”. A cidade estagnou-se um pouco, e o “efeito novidade” — sempre em busca de novos lugares — parece-me hoje ter se mudado para novas “sensações” crescentemente atraentes na Europa, como Lisboa, Berlim e Ljubljana.
“As pessoas passaram a vir a Barcelona em busca de sol, calor humano, arte, música, emoção, vinho, café e sexo.”
Apesar disso, Barcelona continua sendo uma cidade voltada para o futuro — o que é raro na Europa —, no mínimo porque a sua principal atração, a Basílica da Sagrada Família, continuará em construção ainda até pelo menos 2026. Ela é edificada desde 1882, o seu mentor — o arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926) — já é falecido há quase um século, mas ela segue em obras, concretizando os planos deixados por ele.
A Basílica da Sagrada Família é um dos monumentos mais impressionantes do mundo, um templo como nenhum outro. Gaudí imprime um estilo naturalista, “orgânico”, que faz os seus prédios se parecerem com cavernas ou formações rochosas naturais. Esta basílica faz parecer que você está visitando alguma gruta grande na Capadócia, de rochas erodidas pelo vento, só que com magníficas luzes que entram coloridas pelos vitrais. (Certifique-se de visitar a basílica durante o dia, quando houver sol, e compre as entradas online, pois elas às vezes esgotam-se com dias de antecedência.)










É fenomenal. Uma música sacra meio New Age tocava de fundo no dia em que eu visitei. Você pode ficar horas ali, sentindo o ambiente e investigando os detalhes. Há uma capela subterrânea por debaixo dessa nave principal da igreja, e um museu contando o histórico de sua construção. Houve incêndios, reconstruções e todo o tipo de coisas.

Saindo dali, você encontra facilmente uns buffets, hoje abundantes em Barcelona, onde você paga um preço fixo e come à vontade uma comida que não tem gosto de nada. (Como sou comilão, caí várias vezes nessa armadilha.)
Há outras obras de Gaudí por toda a cidade, como no Park Guell e a Casa Batlló. O estilo é o mesmo: naturalista e te dando a impressão de que você está a caminhar por uma terra encantada, de prédios coloridos, arredondados, e meio engraçados. É quase um Alice no País das Maravilhas. (Acho que Gaudí dava umas viajadas no naturalismo dele.)




Sem dúvidas uma mente muito criativa, Gaudí. Não deixe de ver essas obras únicas quando visitar Barcelona.
Mas nem só de Gaudí vive Barcelona, embora ele seja o seu maior astro. Perdi a conta de quantas vezes andei por La Rambla, a avenida mais popular (e turística) da cidade. A artéria leva da Plaza de Catalunya, coração de Barcelona, até o mar.
Barcelona é uma daquelas cidades que não dormem, sobretudo no verão. Nesta minha visita era ainda fim de inverno, mas mesmo assim o movimento não morria. Até nas altas horas da madrugada, quando as ruas ficam mais quietas, você inevitavelmente se depara com aqueles grupos de jovens saídos de alguma festa, finalizando a noite na rua.



Comemos numa bodega, que em espanhol é um lugar digno de respeito, e fomos encontrar — às 11h da noite — uns amigos da minha amiga Raluca num restaurante. No caminhar pelas ruas à noite você repara o “cansaço” de Barcelona depois de 20 anos como a cidade mais popular entre os europeus. Sujeira, e muitas ruas e casas precisando de uma boa restauração. Além disso, só entre 2000 e 2015 a proporção de imigrantes quintuplicou em Barcelona, e você percebe certa tensão no ar.


Apesar disso, ali pertinho de La Rambla, o bairro gótico e outras pracetas escondidas continuam a ter seu charme. Há sempre músicos de rua, e a catedral continua linda.




Encontramos os amigos de Raluca já a sair do restaurante, pois nos demoramos, e dali fomos a outro lugar. Como em qualquer noite na Europa, você sai passando de um lugar a outro, vagando pela rua, despreocupado com questões de segurança.
Fomos parar num bar onde, lá no fundo, uma espécie de “flamenco vadio” estava a rolar. (Esse é o nome que eu dou pra esses espetáculos de flamenco meio espontâneos, estilo “roda de amigos”, onde qualquer um de repente se põe a cantar. Normalmente não tem custo. O nome eu peguei do “fado vadio”, como os portugueses chamam as rodas de fado que fazem lá assim. A base é a mesma, oriunda das rodas de música árabe do tempo dos mouros na Idade Média. Mais em Sevilha: Capital de Andaluzia, do Flamenco e do estilo Mudéjar.)
Com certeza nenhum corpo de bombeiros teria autorizado tamanha quantidade de pessoas espremidas numa alcova dessas sem saídas de emergência. Mas esse descaso com as estruturas formais da modernidade, em favor de um jeito mais “artesanal” de fazer as coisas, é exatamente uma das características principais da curtição europeia de hoje, que Barcelona ainda representa.
Uma palhinha.
Saímos dali já eram quase 2h da manhã. Hora perfeita para ir à praia na Barceloneta, vizinhança próxima ao porto.




Não virou a noite na rua, não veio a Barcelona.
Nós, após virmos a Barcelona, iríamos a Valencia.
Uaaaaaaaauuu que estupenda Barcelona!… merece mesmo ser visitada e curtida. Magnificat, com suas Construções antiga e modernas, com seus burburinhos, luzes, cores, belos calçadões, lindos monumentos, intensa vida e encantadores recantos sob o ‘clima’ de Gaudi.
Difícil de descrever a imponência, a graça a beleza dessa obra maravilhosa de Gaudi, a Sagrada Família. As luzes nos vitrais e as formas originais e pseudo rústicas dão um efeito fantástico, impar, imperdível. Belíssima.
Gostosíssimo esse parque encantado à semelhança mesmo dos contos de fada. Lindo e de muito bom gosto. Um espetáculo!..
L Rambla é de encher os olhos. que beleza, com suas luzes cores e movimento. Lembra um pouco a rua augusta da bela Lisboa.
As comilanças pelo visto são uma delicia. Pela expressão do viajante, parecem estar óooootimas. Enjoy it, dear haha.
O flamenco como sempre uma maravilha.
A lamentar so a situação dos imigrantes e o transformar da cidade com seus problemas. Isso a europa e os eua que criaram tais problemas vao ter que resolver. ou, como estamos vendo, arcarão com as consequentes deles.
Parabens, viajante brasileiro por mais essa magnifica postagem. Salve a Catalunha, salve a beleza, salvem a Historia e o multiculturalismo..Parabens!… como bem diz alguém, parece um pedacinho do céu haha
Por obra e misericórdia de Deus esses lugares eu conheci. …minha primeira e talvez ultima viagem internacional….comi as batatas bravas e a crema caralan…mas o que realmente gostei foi os flohados, principalmente os de manzanas…