O Cairo é muito mais do que apenas as pirâmides. A cidade é também o lugar mais tradicional de dança do ventre no mundo.
A origem da dança do ventre não é clara. Há quem diga que ela surge no Egito Antigo, outros que falam em Mesopotâmia e Pérsia. O que é certo é que ela há séculos faz parte da cultura popular do Oriente Médio e de regiões adjacentes. Os árabes depois a desenvolvem, e sobretudo durante a época do Império Turco Otomano (1400-1917) ela ganha sobeja atenção na Europa — impressionada com aquela sensualidade, na sua onda “orientalista” da época do imperialismo europeu.
O Cairo, maior cidade árabe do mundo, desponta como o principal centro de dança do ventre há mais de um século. Não apenas por ter tido as dançarinas mais famosas, como Fifi Abdou ou Tahiya Karioka (sim, o nome é esse mesmo), mas também por ter sido o lugar onde a raqs sharqi — “dança oriental”, como os árabes a chamam, pois “dança do ventre” é uma alcunha dada pelos franceses do século XIX — ganhou os olhos e a admiração do mundo.
Note que “oriental” no Brasil sempre remete a China, Japão e ao restante do Leste da Ásia, mas na Europa, sobretudo em inglês e francês, não. “Oriental” nesses idiomas normalmente se refere a este “Oriente Próximo”, de muitas ex-colônias da França ou da Inglaterra, ou à cultura tradicional do Oriente Médio. (Para o leste da Ásia eles usam “asiático”.) Por isso é que aqui no Egito você verá muitas referências turísticas a “Oriental isso“, “Oriental aquilo“.

Uma curiosidade: aquele ritmo tão popularizado pelo Black Eyed Peas (Pump it! Louder!), já usado antes no filme Pulp Fiction (1994) — e, antes disso, no filme A Swingin Affair (1963) já praticamente no formato que você conhece — são adaptações de uma música egípcia ainda mais antiga. Chama-se Misirlou, “garota egípcia” em árabe.
Veja se você reconhece a melodia.
Onde assistir a dança do ventre no Cairo, e o que eu achei?
Bom, há duas opções. Três se você incluir a dança do ventre que eu chamaria “de raiz”, talvez mais autêntica, mas que você só realmente encontra nas festas de família em casas árabes. Não é algo feito para plateia ver. Como visitante, suas opções portanto são duas: (1) Ir a algum hotel 5 estrelas que ofereça espetáculos, e há muitos; ou (2) ir um dos muitos jantares com preço fixo e show de dança do ventre para turistas.
Quem determina é provavelmente o seu orçamento. Eu não estava disposto a pagar mais de 100 dólares para assistir a dança do ventre no Grand Hyatt ou no Cairo Sheraton, por mais que as dançarinas certamente sejam de alto nível. (Se você fizer isso, atente que há dress code, exigências para a vestimenta, e tente reservar diretamente com o hotel em questão, ou você certamente pagará 10-20% adicionais de comissão a quem reservar por você.)
Eu fiz a escolha mais habitual e fui a um dinner cruise show, um pequeno cruzeiro no Rio Nilo (que corta o Cairo) com jantar e apresentação de dança do ventre a bordo. É meio “turistão”, com direito a grupos chineses e tudo o mais, mas é a forma mais acessível. Eu, confesso, fiquei um pouquinho desapontado ao me dar conta de que os egípcios normalmente não oferecem show público que não seja para turistas, já que essa dança originalmente é mesmo uma coisa doméstica.
Fomos eu e Paulino, o meu amigo mexicano com quem já havia ido ver as pirâmides. O albergue arranjou tudo, incluso o transporte, e pagamos 25 dólares cada. O preço me pareceu padrão pelo que eu pesquisei. A comida não é má, mas tampouco é memorável — é aquela coisa comum de qualquer buffet de shopping. Você vai mesmo é pelo show, e pela chance de ver do rio o Cairo iluminado. (Mas peça suco de manga, que aqui no Egito é maravilhoso.)

Gostei do show? Sim e não.
“Não” porque eu achei que veria algo superior ao que já havia visto no Brasil, e não vi. Não sou especialista em dança do ventre, muito menos dançarino, mas as várias apresentações a que assisti no Brasil em nada ficaram devendo ao que vi aqui no Egito — algumas foram até mais impressionantes. Parabéns às hábeis dançarinas brasileiras.
“Sim” porque a dança não deixou de ser bonita e porque há um diferencial: se no Ocidente a música para a dança é geralmente uma gravação, aqui ela é ao vivo com uma trupe fazendo os batuques e um homem cantando em árabe ali no ato. Além disso, houve apresentação também de passos masculinos de dança (feitos por um menino) e de uma “dança” mística islâmica.
Confira umas palhinhas que eu gravei:
Sim, a dançarina me parece estrangeira. Não tive exatamente a oportunidade de conversar com ela, mas não acho que seja egípcia ou mesmo árabe. Eu diria que ela é turca.
Como eu disse, houve também um pouquinho de demonstração dos passos dos dançarinos árabes masculinos, demonstrados por um menino.
É algo que a gente normalmente não vê nas apresentações de dança do ventre no Brasil.
Ele também fez um pouco da tanoura, a dança dos místicos islâmicos Sufi que giram sem perder o equilíbrio. Além do garotinho, houve também um dançarino profissional adulto.


Desnecessário dizer que, como eu toda apresentação “turística” assim, os dançarinos (especialmente o menino) foram em dados momentos tirar gente da plateia para dançar. Não, eu não fui, pois não sei girar (sem cair) nem rebolar a barriguinha.
Fiquei de espectador, e valeu a pena. Não quis passar pelo Egito sem ver um show de dança do ventre.

Noooosssa!… que interessante.!..lindo…. fascinante esse Egito. Adorei as danças, os ritmos, as cores, as musicas e as performances. Gostei muito da primeira dançarina e da primeira dança: lindas sensuais, charmosas. A segunda dança nem tanto. Também concordo que as dançarinas brasileiras o fazem muito bem. Achei o menino ótimo. Muito interessantes as informações.
Beliiiisssiiimo o Cairo à noite!… e que emoção ver o Nilo. Esse grande majestoso e histórico Nilo de tantas batalhas de tantas disputas, de tanta vida para o Egito e o seu povo. Emocionante. Quantas histórias guarda. Se suas margens falassem diriam o quando de lutas, risos, tristezas rolaram. Linda imagem.Belas luzes. Ótima experiencia.
Adoraria fazer esse tour. E o suco de manga não sei, provavelmente muito saboroso . só sei que a dançarina é linda. Mais uma postagem linda de uma região estupenda. Valeu viajante brasileiro. é isso ai.