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Egito

O magnífico templo antigo de Hórus em Edfu, no Egito

A primeira parada do nosso cruzeiro Rio Nilo acima foi em Edfu, uma cidade remota no sul do Egito. Aqui se encontra um dos templos antigos mais fabulosos de todo o país. Fiquei embasbacado com algo tão antigo estar tão inteiro — melhor do que a grande maioria das ruínas antigas que você vê na Grécia ou na Itália, por exemplo. Um dos segredos me parece ser, primeiro, a secura do ambiente. Segundo, o lugar é remoto, comparativamente pouco urbanizado, e as areias do deserto cobriram quase tudo completamente até pouco mais de um século atrás.

Trata-se de um templo a Hórus, deus dos céus, um dos mais cultuados do Egito Antigo. (Falei um pouquinho dele neste post anterior.) A antiga religião egípcia tinha uma ideia totêmica de alguns animais, isto é, os via como manifestações terrenas de certos deuses. No caso de Hórus, representado com uma cabeça de falcão, acreditava-se que uma fagulha do deus habitava nesses animais dos céus.

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Grande imagem de granito de Hórus à entrada do templo.
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Cidadão tentando lidar com o sol na cabeça contempla a portentosa fachada de entrada do Templo de Hórus em Edfu.
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Vendo de outro ângulo a imagem do falcão símbolo de Hórus. Essa escultura em granito tem mais de 2000 anos, imagine aí.
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Na companhia do falcão.

Permitam-me contextualizar.

Esse templo, ao contrário dos monumentos que já mostrei em Luxor ou no Cairo, data dos últimos séculos do Egito faraônico. Nessa época tínhamos reinando aqui uma curiosa mistura de gregos e egípcios.

Quando Alexandre, o Grande, conquistou o Egito em 323 a.C., fundou a famosa cidade de Alexandria lá no delta do Nilo e anteviu glória, mas não sabia que morreria poucos anos depois deixando um vasto império. Seus generais então partilharam a “herança” entre eles, e no Egito ficou Ptolomeu, que deu início ao chamado Reino Ptolemaico, independente, e uma mistura de influências gregas com a cultura egípcia nativa. Essa dinastia durou até o ano 30 a.C., quando a famosa Cleópatra (que, na verdade, já era Cleópatra VII) foi derrotada pelos romanos e o Egito virou uma província de Roma. 

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Busto de Serápis, do Museu do Vaticano. Cópia romana do original instalado por Ptolomeu em Alexandria nos idos de 300 a.C.

Ptolomeu e seus descendentes promoveram um culto a Serápis, uma divindade híbrida que misturava elementos egípcios e gregos. Se por um lado essa divindade surgia de uma combinação egípcia do deus Osíris (vida após a morte) com o antiquíssimo culto a Ápis (fertilidade, simbolizado por um touro), daí Osirápis, Serápis, por outro sua imagem era plenamente grega, imitada de fato do deus Hades, o regente do Mundo dos Mortos para os antigos gregos. Serápis era tido, assim, como um superpoderoso deus do além.

(Vocês podem ver algo desse culto no filme Alexandria, de 2009, em que Rachel Weisz interpreta a filósofa e matemática Hipátia de Alexandria. Você vê uma representação da gigantesca imagem de Serápis que existia naquela cidade e os conflitos com os cristãos nos primeiros séculos depois de Cristo.)

Voltemos cá ao sul do Egito. A dinastia ptolemaica podia muito bem patrocinar o culto a Serápis, mas não deixava de fazer seus préstimos à religião egípcia tradicional que a (grande) maioria da população ainda seguia. Temos aqui, portanto, uma típica ilustração com o faraó Ptolomeu VIII sendo coroado pelas divindades egípcias femininas Wadjet e Nekhbet, representando respectivamente o baixo e o alto Egito.

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Ptolomeu VIII sendo coroado por Wadjet e Nekhbet, divindades egípcias muito antigas, pré-dinásticas, e que representavam o Alto Egito e o Baixo Egito.
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Ilustrações de Hórus (à esquerda) ao lado do seu pai Osíris, no interior do templo.
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Na sala mais interna, um santuário com um busto de pedra de Hórus, hoje um pouco danificado, mas ainda aqui. (Os danos não são recentes, mas dos idos dos séculos IV e V, após o imperador romano Teodósio banir em 391 d.C. todos os cultos não-cristãos do império. Com o tempo, contudo, tudo isso viria a ficar debaixo de 12m de areia, e só seria redescoberto no século XIX, por uma expedição francesa.)
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Corredores com colunatas para o interior.
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Riqueza de detalhes com capitéis (os enfeites na ponta da coluna) típicos egípcios que replicam o formato da planta usada para fazer papiro.
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Ilustrações nas alturas.
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A grande fachada de entrada do templo, com os dois falcões de Hórus como sentinelas. São mais de dois mil anos de história.

No próximo post eu falo da nossa parada seguinte, em Kom Ombo, para ver o templo do deus dos crocodilos.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

2 thoughts on “O magnífico templo antigo de Hórus em Edfu, no Egito

  1. Mais uma maravilhos postagem dessa magnifica civilização egipcia. Eita beleza!… E esse belo falcão. Lindo. O senhor ficou um charme na foto. Linda foto e linda imagem de Hórus. Não tenho duvida que era verdade e que uma fagulha de Deus habitava a imagem. Majestosa. Belíssima fachada. Grandes escultores. Eram uns mestres em tudo o que faziam.
    Lindos e sugestivos capitéis, belíssimos hieróglifos, magnifico templo. Linda fachada, maravilhosa simbologia. Um primor essa eterna civilização. Lindo esse tom das pedras. Maravilhosa viagem. Grande mergulho na historia. Parabéns, viajante. estou adorando.

  2. Em geral não tive muitos problemas e não me senti importunado por vendedores e outras pessoas no Egito, especialmente no Cairo, mas senti em Edfu toda a agressividade de alguns destes comerciantes com turistas. Desde motoristas que combinam um preço para levar e trazer do templo e na volta aumentam o valor (e ainda pedem gorjeta), como vi também vendedores literalmente gritando (e quase agredindo) pessoas que não queriam comprar seus produtos. Inclusive depois eles me relataram que o vendedor quis cobrar o equivalente a 100 DÓLARES por um imã de geladeira e eles responderam que não tinham dinheiro. O comerciante então respondeu que viu na bilheteria que eles tinham notas grandes. E aliás, eles acabaram comprando o imã (não lembro o valor que pagaram, mas algo entre 50 e 100 LE, bem cara para os padrões egípcios) por medo da agressividade dele. Uma amiga foi para Edfu cerca de 10 dias depois de uma ida. E também relatou essa agressividade. Ela inclusive presenciou um condutor de charrete ameaçando jogar pedras nos turistas. Achei o templo lindo, mas se algum dia voltar ao Egito não repetirei a visita pelo comportamento do povo da região

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