Bem vindos a Amã, a capital da Jordânia, este país do Oriente Médio espremido entre Israel e a Arábia Saudita.
Eu quero começar proporcionando a vocês aquela que também foi a minha primeira impressão de Amã, desde antes de eu chegar, só por olhar no Google Mapas as suas ruas tortas e meandros: a massa urbana que me aguardava. Assistam a este pequeno vídeo que fiz do alto de uma das sete colinas da cidade durante um dos chamados às cinco orações diárias dos muçulmanos.
Era como um dia de inverno na Bahia quando desembarquei, aquele calor não-agressivo. A escada levava-nos do avião até o ônibus para o terminal do aeroporto, um aeroporto moderno — dos melhores do Oriente Médio.
O Reino Hachemita da Jordânia, como é formalmente chamado, é uma monarquia constitucional, mas na prática a família real manda o que quer. O Rei Abdullah II (relativamente jovem, nascido em 1962) tem a delicada tarefa de equilibrar politicamente um país que está entre o Iraque, a Síria, Israel, a Arábia Saudita e o território palestino da Cisjordânia (que vizinhança!).
O nome “Hachemita” advém da “casa” da família real, sua dinastia, que teve como fundador — diz-se — um cidadão em Meca conhecido como Hashim ibn Abd Manaf, um dos bisavôs do profeta Maomé. Os hachemitas governaram a cidade sagrada de Meca desde o século X até 1924, quando a família Saud (que fundou a atual monarquia da Arábia Saudita) tomou o controle. Os hachemitas governam desde 1921 a Jordânia, um país surgido após o colapso do Império Turco Otomano na Primeira Guerra Mundial.
Tomei o táxi de um senhor palestino (refugiado aqui há muitos anos, e impossibilitado de retornar à Palestina pelas autoridades israelenses) que fazia eulogias aos rei jordaniano. Dizia ser ele um homem muito bom, mas que o seu pai (o Rei Hussein, falecido em 1999) havia sido ainda melhor.
Aqui de fato é muito mais tranquilo e organizado do que eu havia imaginado. As pessoas são mais prestativas e gentis que na minha experiência no norte da África, visitando países como o Egito e o Marrocos. Verdade seja dita, acho que influencia muito o fato de que aqui em Amã o turismo é escasso. Então as pessoas não estão habituadas a malandragens diárias com turistas ingênuos cheios de euros ou dólares. São mais genuínos, como consequência disso. Tive tranquilidade pedindo informação e comprando coisas aqui na cidade, mesmo sem falar uma única frase de árabe, e ninguém tentou me passar a perna, nem foi rude comigo.
Outra coisa é que é mais organizado. Eu havia visto Amã no Google Mapas e imediatamente feito o sinal da cruz, imaginando um pandemônio urbano me aguardando. Mas não; o centro é relativamente tranquilo (tratando de um país árabe, isto é), e há calçadas por onde se caminhar, lojas aqui e ali, sinalização nas ruas, semáforos, coletores de lixo, etc. É mais limpa e mais tranquila que o Cairo, Túnis ou Beirute.





Pedi ao táxi que me levasse a Hachem, um restaurante tradicional 24h. Apesar de tradicional, não é um restaurante fino, pelo contrário. Hachem parece uma lanchonete de rua com mesas na calçada, mas não fecha nunca, desde 1956, e aconteceu de até o próprio rei vir comer aqui, então…


Meu hostel acontecia de ficar perto do Hachem. Localizei-o sem dificuldade naquela movimentada (porém tranquila) avenida acima.
À recepção atendeu-me Ibrahim, um senhor jordaniano simpático que tinha idade de ser meu pai. Como não é raro de ver entre os homens árabes, ele andava de moletom, calças compridas e chinelo de tiozão no pé. Achei notável que ele fosse cortês e sossegado — até risonho —, eu habituado a senhores árabes mais sisudos, patriarcais e mandões. Acho que ele sabia alternar entre os dois modos, habituado que é a lidar com turistas estrangeiros aqui.
Daqui eu visitaria a pé, pelas ruas de Amã, o Museu da Jordânia (Jordan Museum), onde há fragmentos originais dos famosos Manuscritos do Mar Morto, e a Cidadela de Amã, onde há ruínas seculares da cidade e a colina de onde filmei aquele vídeo.
Prepare as pernas, pois Amã é tranquila de andar mas há algumas colinas bem dramáticas.



E subindo, perguntando às pessoas aqui e ali — pois nestes países pobres a sinalização pode ser precária, mas são geralmente países sociáveis onde se descobrem as coisas perguntando às pessoas —, cheguei à Cidadela no alto de uma das 7 colinas de Amã. (Se são na realidade mais de 7, não contei.)
Essa cidadela é a parte mais antiga de Amã, onde a cidade começou. Há vestígios de habitação humana aqui desde a Idade da Pedra. Há ruínas de um templo romano a Hércules, um anfiteatro, vestígios bizantinos, assim como um palácio árabe do tempo da dinastia Omíada, de 730 d.C. — a maior edificação ainda em pé neste sítio.






Voltei ao fim da tarde, quando procurei instruções de Ibrahim sobre como ir de transporte público até o famoso sítio arqueológico de Petra no dia seguinte. Fica no sul do país, a umas 4-5h de Amã. À noite, fui com um rapaz holandês do meu dormitório conhecer Rainbow Street, a parte mais turística aqui da cidade.
Rainbow Street, ou a rua do curioso nome de Al-Rainbow, nada mais é do que uma rua de bares e vida noturna um pouco mais à ocidental — embora seja repleto de rapazes e moças árabes também. O rapaz holandês se provou uma companhia enfadonha (Deus, como os homens do norte da Europa conseguem ser tediosos, ao contrário das mulheres da região, que às vezes são bastante interessantes).



Já no dia seguinte, fui ao Museu da Jordânia ver fragmentos originais dos famosos Manuscritos do Mar Morto, além de outras peças. O museu é bem recomendável pra quem gosta de antiguidade.



E falando em pedra, era hora de ir a Petra, no sul do país. O meu charmoso ônibus lotação sairia dali de perto. Cinco horas de viagem.
Mairon, interessante suas informações. Gostaria de tua opinião sobre visitar Damasco, saindo de Amã. Pretendo ir em outubro à Israel, Palestina, Jordânia e gostaria de incluir a cidade de Damasco.
Meus amigos dizem que não devo ir, que é perigoso, mas sou teimosa. Vou sozinha, não falo ingles, mas dos 50 paises que visitei, em muitos fui sozinha e deu tudo certo. Talvez por ser uma pessoa mais velha, me sinto mais segura.
Oi Rosangela! Corajosa, você! Fico contente de saber que sempre se tem tido sucesso viajando de forma independente. Navegar é preciso! Nos países árabes, de fato, minha experiência também é de que eles são bem respeitosos com pessoas de mais idade. Sobre Damasco, eu pessoalmente aguardaria um par de anos por uma melhora na situação, embora francamente ache que Damasco não é assim tão perigosa (o resto da Síria, sim). Mas preciso admitir que não sei como está a situação de vistos, dada a situação periclitante da Síria estes anos. Eu evitaria viajar de ônibus, e optaria por um voo direto a Damasco, em vez de ir por terra.
Nossa, o que é isso.. vista de longe a cidade parece um formigueiro calcinado submetido a cinzas vulcânicas. Um amontoado de casas . Nossa. Impressionante.
Ja de perto veem-se belas e arborizadas avenidas, bem movimentadas, com suas mesinhas fora e a cara daquelas ruas do Marrocos cheias de lojinhas para comprar coisas típicas. Acho lindas esses roupas tradicionais dos árabes. Mesmo simples e pobres são charmosas.
Ahhhh esse chamado do Muesin sempre me emociona, Lindo. Pena que as pessoas na rua nao parecem se importar com ele. é digno de um momento solene de encontro com Alhah, com o Absoluto.Ele seja Louvado.
Belas ruinas, linda mesquita. Adorei a historia da pedrinha e a transação com o carneiro haha olhe que é coisa que aparece nesse mundão de meu Deus. Impressionante. Assim como Tambem os famosos históricos e revolucionários Manuscritos do Mar morto descobertos em expedições nas cavernas de Qumran. Na minha visão desvelando alguns dos anos ocultos de Jesus. Eles explicam como muitos dos hábitos costumes, orações, parábolas, discursos, ações e filosofia de Jesus eram comuns aos essênios. Ele seria um graduado entre eles ja que usava um habito branco sinal de elevação dentre eles. Muito interessantes esses manuscritos e esses povos que viviam em comunidades. Ora ora e parece que tratavam de outros assuntos tambem. Não sabia
E não poderia deixar de comentar o ‘faro’ do jovem viajante em achar lugares óoooooooootimos para comer e degustarrrr deliciosas iguarias locais. Adorei o lugar e o prato. Imagino que o sabor está ótimo. ja que a expressão o diz. Parabens haha.
Apesar de calcinado pelo provável calor do verão, ha coisa bonitas para se ver ai. Ahhh e muitas histórias para contar. Que venham mais histórias.
Boa tarde! Gostaria muito de fazer uma viagem pela Suíça, não me lembro de ver em sua página, gostaria se possível vc postar informações sobre as cidades suíças e quais são as que devo conhecer.Para que eu possa fazer um roteiro,se vc tiver algum pronto, Agradeço se puder me mandar.Desculpe o meu abuso, é que estou meio perdido.
Oi Wilson!
Você está sempre à minha frente, rss. Me perguntou de Munique da outra vez, e só este ano é que irei finalmente lá novamente, com tempo para produzir um relato digno. Sobre a Suíça, eu já estive, mas de fato ainda não relatei nada de lá.
Não tenho um roteiro pronto, mas vamos lá, algumas pérolas pra você conhecer.
Genebra é uma cidade famosíssima, mas do ponto de vista turístico não oferece grandes coisas. Tem voos baratos, mas em uma simples tarde você vê tudo que há pra ver. (É uma cidade administrativa, com basicamente os muitos organismos internacionais sediados lá, mas quase nada pra ver.)
Lausanne, a segunda cidade da parte francófona da Suíça, é legalzinha. Se você quiser se deter por uma noite, não será perda de tempo. Com o trem, você circula fácil por entre as cidades suíças. (Só prepare o bolso, rsss.)
Basileia (Basel) é uma cidade fofinha, e outro bom eixo com voos baratos e ótimas conexões de trem com a Alemanha e a França (caso você entre na Europa por um desses países). É pequena, como todas as cidades suíças, mas tem um centrinho simpático e agradável que num dia você vê.
Berna, a capital, não costuma figurar nos guias nem ser muito comentada, mas achei uma cidadezinha bonita também. (Bem mais bonita que Genebra.) Novamente, acho que vale a pena deter-se por um dia e conhecer.
Zurique, a mais cidade da Suíça, é uma cidade mais econômica que turística. Um amigo meu suíço gosta de brincar dizendo que ela “fede a dinheiro”, hehehe, você vê muitos bancos, carros de luxo… é mais um coração econômico que ponto turístico, mas pode também se deter por um dia.
Lucerna, cidadezinha pitoresca com lago e próxima dos Alpes, é talvez a cidade suíça que achei a mais encantadora. Vale a pena você se deter aqui por ao menos umas duas noites. A cidade é pequena, mas muito agradável. E daqui você pode também fazer um breve passeio ao Monte Pilatos para ver os Alpes de perto. É lindo.
Como você pode perceber (e talvez já soubesse), a Suíça não tem grandes metrópoles, mas tem muitas dessas cidadezinhas (todas relativamente próximas, pois o país é pequeno) que valem a pena conhecer. No sul, na parte que fala italiano, você tem Lugano, cidade da qual ouço falar coisas boas, mas ainda não visitei.
No mais, certifique-se de comer um fondue de queijo, de comer um bom chocolate, e de aproveitar as vistas alpinas. Se for na época do outono-inverno, vai encontrar castanhas portuguesas assadas na rua também, e que são uma delícia. (“Marroni, eles a chamam.) De quase toda cidade suíça há passeios laterais pra recantos onde ver a natureza ou fazer esportes de inverno, caso essa seja a sua praia.
Vão aí minhas considerações. Sugiro que você dê uma olhada em fotos de cada uma delas pra ver o que o agrada mais, e com um mapa confira a melhor rota pra você a depender do seu ponto de origem e de saída.
E qualquer outra dúvida, estamos aí!