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Omã

Visitando Mascate (Omã) e a Grande Mesquita do Sultão Qaboos (que é gay)

Desculpem-me a fanfarra exaltando assim já de cara a orientação sexual de sua majestade o Sultão Qaboos [kabuz], que certamente nada mais é do que um mero aspecto dentre os muitos que definem quem ele é, mas eu não resisti. Quem, afinal, imaginava que um sultão árabe fosse gay? Serve para a gente ver como a realidade é muito mais rica, diversa e interessante do que costumamos imaginar.

O sultão Qaboos bin Said al Said, um distinto senhor de 76 anos, é atualmente o monarca que reina há mais tempo em todo o mundo árabe. Ele governa com poderes absolutos desde 1970, pois Omã não tem Constituição. Há um sistema legal à base de decretos reais como nos bons e velhos tempos. Sua dinastia hereditária governa há quase 200 anos. Ele, no entanto, não tem filhos. Foi casado por apenas três anos e a mulher quis o divórcio. Ele não comenta o assunto porque não há espaço para identidades homossexuais nas sociedades islâmicas, mas é de suspeita geral que ele seja gay.

Ele é tido como um dos melhores líderes do Oriente Médio. Omã é um dos países mais estáveis da região, senão o mais, e tem bons indicadores em questões de saúde, emprego, educação, etc. Só não gostei que ele tenha bloqueado o Skype e as chamadas por WhatsApp (se não conseguir falar, já sabe o que é).

Há fotos posers do estiloso sultão por toda parte na cidade.

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Eis o nobre Sultão Qaboos.
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Sua Majestade calçando as sandálias da humildade.
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Ele está por toda parte. Aqui em sua versão “destemido”.
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Versão Rambo.
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O comandante-em-chefe militar.
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Todo coquete. O Sultão Qaboos também é simpatia. Hay que endurecer, mas sem perder a ternura jamais.

Acho que não preciso dizer mais nada. Diverti-me horrores esbarrando nas fotos do Sultão Qaboos pela cidade.

Eu já comentei no post anterior sobre como Omã, sobretudo no verão, é torridamente quente. Às 8h da manhã já estão 40 graus, e a temperatura continua a subir e até mesmo passa de 50 graus no termômetro. Chega uma hora em que vai além do que você crê ser humanamente possível aguentar e começa a beirar o surreal. Foi o único lugar onde estive em que o calor alto não foi simplesmente inconveniente, mas me fez pensar se eu iria desmaiar ou começar a ver miragens pela rua. 

Junte-se a isso que Mascate, a capital, é uma cidade espalhada, na verdade um município com vários distritos bem distantes uns dos outros. É péssima de andar, ainda mais no calor. Basicamente você precisa de carro para tudo. Ou não, se for atrevido como eu.

A primeira coisa que fiz foi mudar o meu horário de sair: passei de 8h para 5h da manhã, quando o sol ainda nascia. Visitei o belo e interessantíssimo Museu Bait Al Zubair, com detalhes da história e da cultura de Omã, num belo prédio cheirando a incenso. Passei pela orla de Mutrah, o meu distrito, num horário mais aprazível. E vi o magnífico Palácio Real, com jardins e ladrilhos reluzentes tão perfeitos que parecem trabalho de computação gráfica.

Acompanhem-me pelas ruas de Mascate.

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A orla de Mascate no distrito de Mutrah. Sim, isso avermelhado é mármore de verdade.
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Caminhei desse distrito pela orla até o sítio histórico da Mascate medieval. Não há mais nada daquele tempo, mas é ainda onde fica o palácio real, residência do Sultão Qaboos.
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Portais belíssimos. Aqui ficavam as antigas muralhas e a entrada para a cidade antiga.
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No interior, como eu disse, não há mais nada antigo, apenas prédios brancos modernos em arquitetura árabe contemporânea. Raros indivíduos na rua (o único louco era eu, quase).
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Uma mesquita. Os omanis são, em geral, ibaditas, uma vertente do Islã que é diferente tanto dos sunitas quanto dos xiitas. Não é nada radicalmente distinto, mas há diferenças de detalhes nas crenças e nos rituais (ex. a postura durante a oração).
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A entrada para o Museu Bait Al Zubayr, sobre a história e especialmente a cultura de Omã. Não é permitido tirar fotos do interior, mas digo-lhes que é repleto de exemplos de vestuário tradicional omani, espadas e outras armas árabes, e um pouco sobre a vida dos beduínos (afinal, o grosso do território omani é deserto mesmo).

E aí começa o surrealismo.

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Jardins e pátios do Palácio Real do Sultão Qaboos.
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O piso é tão reluzente que dá quase para ver o reflexo do céu.
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Residência real.
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Eu tomando sol ao caloroso portão da casa do Sultão Qaboos.
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Não havia ninguém além de alguns jardineiros e raros turistas.
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Os jardins bem cuidados no esplendoroso recinto. É surreal. Parece que com o calor você começou a endoidar e a imaginar esse cenário mágico.
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O silêncio do lugar também contribui para o surrealismo.

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Acho que os convenci de que valeu a caminhada sob o sol. Há como chegar aqui de ônibus, e eu já falo disso, mas deixem-me antes dizer que o mais espetacular ainda estava por vir, a mais visitada atração de todo o país: a Grande Mesquita do Sultão Qaboos. Ela fica bem mais longe, mas também valeu o esforço.

Em Mascate, como eu disse, tudo é distante. Alugar um carro é uma opção relativamente em conta. Caso contrário, uma corrida de táxi sai facilmente por 10 riais omanis, o equivalente a 80 reais. (Sim, você leu certo. O rial omani é uma das moedas mais valorizadas do mundo.) Há também o ônibus turístico vermelho de dois andares Hop on, Hop off, que cobra módicos 24 riais omanis, o equivalente a R$ 200 por um dia de transporte. Recusei-me a pagar esse absurdo, e descobri que na verdade há transporte público — são também ônibus vermelhos — pelo equivalente a R$ 2.

Infelizmente ninguém sabia informar nada e os trabalhadores indianos, que às vezes sabiam dar pedaços de informações, muitas vezes eram incompreensíveis em seus balbucios tímidos de inglês carregado de sotaque. “Take a taxi“, me diziam no hotel e nos restaurantes, fazendo só aumentar a minha insistência. Um indiano até levantou a possibilidade de me levar de moto, pra depois dizer que não poderia. 

Depois eu encontrei as plaquetas vermelhas de parada de ônibus, e uma linha que ia até a Grande Mesquita do Sultão Qaboos.

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Os pontos de ônibus na rua são raros, mas eles existem. São assim, pra quem como eu precisar procurar.
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E, apesar de escassas as linhas, eles provavelmente são mais confortáveis que na sua cidade no Brasil. Custa R$2,00 e leva aos mesmos lugares onde leva o ônibus turístico de R$ 200.

Estavam 45 graus na rua nesse dia, e o ônibus com ar condicionado foi uma bênção. (O difícil, no entanto, é não ficar resfriado mudando constantemente de 40+ graus pra os 18-20 do ar condicionado dos lugares, e de volta pra os 40 da rua, e de novo para 20, assim várias vezes ao dia, seguidos dias. Eu consegui evitar, mas várias vezes senti um resfriado querendo me pegar.) Depois de uma meia hora de “city tour”, vendo várias mesquitas lindas no caminho, chegamos à tão afamada Grande Mesquita do Sultão Qaboos. 

A Grande Mesquita é um verdadeiro espetáculo de arquitetura islâmica contemporânea. As varandas de mármore branco e arcadas ogivais cercando os jardins fazem você se sentir num palácio de época, digno de alguma fábula árabe de As Mil e Uma Noites.

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A Grande Mesquita do Sultão Qaboos, inaugurada em 2001.

Atenção: A visita é livre apenas entre 8-11h da manhã, pois às 12h começam as orações dos muçulmanos. Não perca a viagem. Eu, como labutei para achar o ônibus, cheguei às 11:00 em ponto e encontrei o portão já fechado. Um guarda me disse que voltasse no dia seguinte. Mas Allah reconheceu o meu esforço e me intuiu a dar a volta na grade, onde achei a entrada dos jardineiros mal fechada e pus-me para dentro. Havia ainda turistas que tinham entrado mas que ainda não tinham saído. 

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Os jardins que circundam a mesquita.
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A portentosa edificação, vista de perto.
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No pátio da Grande Mesquita do Sultão Qaboos, uma das edificações mais impressionantes que já vi em todo o mundo.
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Um esplendor de arquitetura islâmica contemporânea.
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Vias e arcadas.
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Acho que o adjetivo “fabulosa” se aplica bem. Parece saído de alguma fábula.
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Seus corredores.
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O interior principal da mesquita, com o domo.
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O interior do domo, em detalhes.

Ah Sultão Qaboos! Você tem bom gosto. Eu encerro minhas andanças por Omã no próximo post, antes de ir para o país seguinte.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

11 thoughts on “Visitando Mascate (Omã) e a Grande Mesquita do Sultão Qaboos (que é gay)

  1. Olá!
    Excelente relato! Parabéns!

    Por favor sabe me dizer como fez a ida e volta do aeroporto? Taxi já vi que é bem caro por lá rs!
    Quero muito visitar a grande mesquita mas achei que conseguiria entrar após as 13:00….Também queria ve-la durante a noite.

    Obrigado!
    Nei

    1. Oi Nei!
      Obrigado!
      A forma mais barata (ou menos cara, rs) de sair do aeroporto de Omã é acenando para um dos táxis alaranjados que passam na rua. Os táxis oficiais do aeroporto te cobram no mínimo 10 riais omanis. Eu consegui por 6, acenando com a mão na beira da pista. (Uma diferença de R$30.) Pode ocorrer de ele pegar mais passageiros no caminho, se houver espaço, mas isso não me incomodou.

      A mesquita eu acredito que não seja possível de visitar à noite, infelizmente. O horário de turismo é mesmo pela manhã, já que as orações diárias dos muçulmanos são quase todas à tarde e à noitinha.

      Qualquer outra dúvida, estamos aí. Sucesso!
      Mairon

    2. Ah, um adendo: para ir da cidade ao aeroporto no fim da estadia, eu consegui transporte com o hotel. Pode sair mais barato que um táxi. No meu caso, eu de propósito, sabendo da dificuldade ($$$) que é, arranjei um hotel que levava os clientes ao aeroporto sem custo adicional ao fim da estadia.

  2. Uaaaaauuu. Arrremaria. Que beleza é essa, meu amigo. uaaauu. Parece saída dos contos das Mil e Uma noites. Que maravilha!… nossa!.. que bom e fino gosto…. que belos tons!… que esplendor!…. Magnificat. Difícil de adjetivar.
    Soberba arquitetura, belos mármores, impressionante a beleza. Combinação perfeita entre os verdes e bem cuidados jardins e o bege das construções. Belas nuances do mármore. Os corredores e arcadas ogivais são de uma beleza impa!…. Impressionantes!… Dignas de um artista. Parece algo de outro mundo ou outro planeta. Maravilha, meu camarada. Imperdível, apesar do calor haha.
    Obrigada pela belíssima postagem e por mostrar essa maravilha nesse local tao poco conhecido por nós. Congratulations,

    1. A mesquita está aberta à visitação também aos domingos, Celso. O único dia vedado aos visitantes não-muçulmanos é a sexta-feira, dia sagrado nessa religião. No mais, de sábado a quinta, turistas podem acessar o monumento entre 8:30 – 11:00 da manhã.

  3. Olá Giovani,
    Pode informar do porto de cruzeiros, é possível ir caminhando até à Grande Mesquita? Dá para apanhar BUS próximo do terminal de cruzeiros? Obrigado. Gostei das suas fotos e sobretudo comentários mt úteis

    1. Olá José,
      Contente que esteja gostando! O terminal de cruzeiros fica ao lado do bairro de Muttrah (lê-se “Matra”). Na orla, próximo à entrada para o mercado coberto dos Muttrah Souqs, você pode localizar a parada mais próxima dos ônibus vermelhos que o levarão até a Grande Mesquita do Sultão Qaboos. Ela fica distante uns 20 Km, portanto não dá para ir a pé, mas o ônibus urbano o leva até lá sem problemas. Não confundir com os ônibus turísticos Hop on Hop off, que são muito mais caros.

      Note também que a visitação para não-muçulmanos é apenas durante a manhã. Bom passeio!

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