Omã é um país de algumas belezas estonteantes (como as que mostrei no post anterior), mas de péssima infraestrutura turística. Sobretudo para o turismo econômico, de baixo custo. (Ficar num hotel de luxo e sair para passear de carro com um motorista é fácil, mas é caro.) Então resolvi fazer este post de encerramento com algumas das coisas que aprendi e dicas para quem, como eu, quiser conhecer este país sem para isso ter que pagar os olhos da cara.
Quando desembarquei no aeroporto de Muscat, táxis oficiais que aderem à tarifa fixa de 10 riais omanis (a bagatela de R$ 80) são a única opção disponível. A menos que você caminhe até a pista e acene um táxi comum, cor laranja, pelo qual você pode conseguir pagar cerca de 5 ou 6 riais omanis (uns R$ 50). Acerte o preço antes de entrar no táxi, e não se incomode se o motorista pegar outras pessoas pelo caminho — isso é comum aqui, e o país é bem seguro, então não se preocupe.
Alimentação não é caro, mas você logo perceberá que há duas economias paralelas no país: uma para os trabalhadores indianos & vizinhos, e outra (moooito mais cara) para os ricos turistas ocidentais. Às vezes o que te servem é a mesma coisa, mas triplica o preço. Não há muito em termos de comida típica omani, então prepare-se para comida indiana mesmo — que é deliciosa, na minha modesta opinião, e pela qual você consegue pagar até menos de R$ 10 o prato. Não faltam restaurantes “de indianos para indianos” em qualquer distrito de Muscat.
Dormir vai ser, realmente, a parte mais cara. (A menos que você faça como o tiozinho na foto tirando uma sesta no banco da rua, he he.) Não há hostels/albergues nem nada barato. Os hoteis mais baratos são os 2 estrelas por um mínimo de USD 50/noite. AirBnB existe, embora haja poucos (e pelo mesmo preço dos hoteis só que sem café da manhã), e CouchSurfing eu tentei mas tive a impressão de que só há basicamente homens safados interessados em hospedar mulheres ocidentais solteiras apra tentar tirar uma lasquinha.
Transporte dentro da cidade será o que mais te mostrará a distinção entre as duas economias de que falei (a dos turistas vs. a dos trabalhadores locais). Localize os ônibus urbanos vermelhos que, embora tenham poucas linhas, funcionam bem, com ar condicionado, no horário, e cobram simplesmente 0,3 rial omani (o equivalente a R$ 2.50, provavelmente mais barato que o ônibus da sua cidade). Eles te levam a todos os distritos e principais pontos de interesse da cidade. Em contraste, o ticket de um dia no ônibus turístico Big Bus hop on, hop off — que tem um roteiro fixo que te leva a basicamente os mesmos lugares — custa 24 riais omanis, ou mais de R$ 200. (Isso é mais que o dobro do que custa esse mesmo ônibus, dessa mesma empresa, em Londres ou outras capitais do mundo!)
Passeios de barco pela costa saem na mesma categoria de preço — e desnecessariamente, que é o que me irrita, já que nada aqui é assim tão caro, o combustível é produzido aqui mesmo e tem preço irrisório, e a a mão-de-obra é mesmo toda imigrante e baratérrima (ou seja, eles não se beneficiam com bons salários). Parece-me, portanto, puro aproveitamento do dinheiro dos turistas, sabendo que muitos que vêm aqui são executivos de Dubai ou Abu Dhabi, ambas aqui perto, e de muito dinheiro no bolso. Paga o pato quem quer conhecer o país e não tem tanto dinheiro assim disponível.
A quem quiser visitar outros lugares do país, que eu acabei não indo ver…
Há ônibus interurbano para as cidades de Nizwa ou Salalah, mas não espere grande coisa. Os ônibus brasileiros dão de 10 a zero. Aqui, imagine aqueles ônibus brasileiros dos anos 80, levando caixas e mais caixas de retirantes nordestinos ou daquelas outras pessoas que faziam viagens de um dia. É aquele nível de ônibus. O preço é razoável (ainda caro para países em desenvolvimento), 3 OMR ou coisa de 28 reais pra Nizwa, mas não há exatamente uma estação rodoviária ou horários fixos ou guichês onde comprar passagem, nada. Há apenas um estacionamento onde os ônibus param. “Chegue aí de manhã cedo que tem ônibus”, disse-me um funcionário detrás do balcão de uma das empresas quando fui perguntar pela tabela de horários. Ao que parece, esperam encher o ônibus para poder dar partida. Ou seja, você pode ter que chegar 5h da manhã e esperar até 6, 6:30 para sair. Ou pode chegar 6h e descobrir que o primeiro ônibus já saiu e que o outro deve encher lá pelas 8h. É uma beleza.
Requer certa flexibilidade. Não é o fim do mundo, mas como eu não ia dormir em Nizwa, a ideia de pegar 3h de ônibus num horário indefinido, chegar lá com os 40 graus que batem já de manhã, pra visitar um forte, um mercado, e voltar num horário também que ninguém sabia dizer qual é… não me atraiu. Já vi outros fortes árabes medievais recentemente na Tunísia. Não são tão diferentes. E os mercados árabes são todos muito parecidos, com uma nuance ou outra para os produtos típicos da região (no caso de Nizwa, são produtos feitos de prata).
Quanto a Salalah, dizem que a melhor época de visitar é durante ou logo após as chuvas anuais, por volta de julho-agosto, quando a terra toda fica verdejante. É a chamada “Selva da Arábia” (com um certo exagero retórico). Fora dessa época, não sei se há muito pra ver. Há a praia, mas eu também não quis embarcar em 15h de viagem de ônibus até lá para ver uma praia. Voar é relativamente barato, custa uns 100 euros a ida e volta. São 1000km, na outra ponta do país.
Wadi Shab é outro lugar que recomendam muito. É um dos fiordes aqui da costa, uma espécie de cânion à beira-mar. Novamente, me parece bonito, mas é caro um passeio até lá. Os passeios privados saem todos por mais de 200 dólares por pessoa. O preço de um passeio a Wadi Shab é praticamente o que eu paguei para ir daqui até a China, de avião. (Desculpe, Omã, mas nem em Galápagos, que foi o turismo mais caro que já fiz na vida, é tão caro assim.) Fica para quando eu estiver rico com dinheiro vazando pelos bolsos.

EPÍLOGO: No aeroporto
Aqui eles pelo menos, ao contrário da Tunísia e do Egito, usam a avançada tecnologia do divisor de fluxo (aqueles postinhos ligados por fitas, usados para formar filas em aeroportos), e há um cidadão funcionário organizando as pessoas. [Vê? Pra mim eu acho o exemplo claro de como você pode, por um lado, tentar educar a população inteira por esclarecimento e esperar que elas se comportem (um trabalho hercúleo, e talvez inviável) e deixar que o pau coma enquanto isso não acontece, ou pode pôr no lugar algumas tecnologias e funcionamentos que eduquem as pessoas pela via prática, primeiro por heteronomia para que elas depois, então, o façam autonomamente.]
Mesmo assim um indiano metido a gostoso quis furar a fila (talvez porque estivesse atrasado, embora outros talvez também o estivessem), e foi segurado pelos funcionários lá na frente. No Egito ou na Tunísia (ou na Índia provavelmente), ele teria conseguido “na cara dura”.
No banheiro, um indiano lavando a cara e bochechando como se fosse um pato na água molhava tudo ao redor. Tive que lavar o braço pois veio “água” do seu bochecho em mim. Ao lado, um árabe trajado no típico manto branco, barretinho na cabeça e sandália de couro, lavava os pés antes de rezar e encharcava tudo. Acho que, a menos que se eduquem massivamente as pessoas ou que se invente algo, é impossível os banheiros públicos de países muçulmanos jamais permanecerem secos, pois sempre há sujeitos como esse levantando os pés para lavá-los na pia. É sempre uma cena linda.
No café, franceses tipicamente reclamavam — àquela maneira típica francesa, de gesticular, mover os ombros e bufar com a boca — que não havia água da torneira disponível para beber na cafeteria. Na França, por lei todo lugar que serve alimentos tem a obrigação que disponibilizar água da torneira (que lá é potável) para seus clientes. Os brasileiros estão longe de serem os únicos que vão outros países e querem fazer como fazem no seu — este é um hábito geral de pessoas não-acostumadas a diversidade cultural.
O ensaísta irlandês George Bernard Shaw, numa de suas peças, retrata uma conversa de Júlio César, o cônsul romano, com um oficial egípcio na presença de um colega bretão. Júlio César e o egípcio faziam acertos para um casamento, quando o bretão interveio dizendo que aquilo “não era próprio”. Júlio César então classicamente intervém: “Perdoe-o, Theodotus, pois ele é bárbaro e acha que os costumes da sua tribo são leis da natureza”.
Passando de pato a ganso, ou melhor, de pato a camelo, vi aqui pela primeira vez na vida chocolate feito com leite de camelo. O gosto é absolutamente o mesmo.
Deve ter sido ideia do Sultão Qaboos que, onipresente, estava lá ao portão de embarque para ser nossa última imagem antes de nos despedirmos de Omã.
Chocolate com leite de camelo!…. nossa . que interessante!…quanta novidade essas viagens nos trazem.. Nem sabia que havia. Ótimo saber. Gostaria de saborear. Adoro chocolate.
Adorei o rei. Onipresente, simpático, de fino gosto e charmoso.
Pena pelas desigualdades.
Adoro comida indiana.
Muito interessante esse pais. Valeu, viajante, Amei as belas construções parece coisa de cinema..
parecem*