“É primavera. Te amo.” Tim Maia não compôs a canção aqui em Paris, mas poderia tê-lo feito. Paris, apesar de todos os pesares e riscos dos últimos tempos, ainda é uma das cidades mais elegantes, charmosas e românticas do mundo. Na primavera então, tudo isso se acentua.
Verdade seja dita, eu não sou um desses apaixonados por Paris, mas reconheço o charme da cidade e respeito a sua sólida tradição cultural e intelectual. Aliás, não só respeito, como gosto. No entanto, é preciso reparar que Paris não é exatamente aquele mundo de sonhos que os mais entusiastas pintam. Você abre um livro de viagens sobre Paris, e muitas vezes parece que o escritor viaja mais na própria paixão que pela cidade. É o que leva tantos turistas a sofrerem a chamada Síndrome de Paris (o nome é este mesmo!), distúrbio momentâneo provocado pela desilusão diante de algo que você idealizou demais e cuja realidade agora o choca.
Vamos, portanto — como de hábito —, reconhecer as belezas sem nos iludirmos além da conta.


Instalei-me no 17º arrondissement, perto do centro, a uma distância que dava pra cobrir a pé. Paris, caso você não saiba, tem uma estrutura de bairros em forma de espiral. Tudo começa do centro do centro, no número 1, e vai contornando até chegar ao 20º. (Daí o nome, que quer dizer algo como “arredondamento”.)
O metrô funciona muito bem, mas andar em Paris é gostoso — e fundamental à experiência de estar em Paris — então ficar próximo do centro tem sua utilidade.
No hotel, no salão do café da manhã duas funcionárias portuguesas fofocavam sobre a chefe como se não estivessem sendo compreendidas por ninguém. Há um sem-número de portugueses que imigraram a Paris nas últimas décadas e hoje são famosos aqui na França por tipicamente trabalharem em restaurantes e portarias de prédios. “P’lo ménux aqui xtou a g’nhar o meu dinheirinho. M’lhor du q’ lá embaixo.“, respondeu-me uma delas quando a interpelei e perguntei como era a vida aqui. (A fofoca diminuiu depois de saberem que estavam sendo compreendidas.)
Perto dali estava o belo Parque Monceau, onde crianças de escola brincavam supervisionadas por suas professoras. Sobretudo na primavera, você não pode ficar só nas atrações famosas e ignorar os parques de Paris.



E logo mais adiante estava o Arco do Triunfo, provavelmente o mais famoso ícone parisiense depois da Torre Eiffel. Ele foi inaugurado em 1836 para honrar os franceses mortos durante a Revolução e as campanhas napoleônicas pela Europa no começo do século XIX. Ele foi inspirado no arco romano de Tito, erigido na Via Sacra de Roma em 82 d.C. (ainda está lá, a quem for visitar Roma). O Arco do Triunfo francês é, no entanto, mais de três vezes maior, com 50m de altura. (Curiosamente, há uma réplica aumentada do Arco do Triunfo em Pyongyang, na Coreia do Norte, com 60m. Ainda não vi, mas duvido que tenha o charme do francês.)






Você caminha por ali sentindo-se o “ó do borogodó”, se puser a mente para funcionar. A avenida é uma simples avenida — arborizada, bonita e bem estruturada, mas ainda assim uma mera avenida. No entanto, Paris é uma daquelas poucas cidades do mundo que fazem você crer que ela é o lugar onde você deve estar; que, se você não estiver em Paris, você ficou pra trás, está fora de onde as coisas estão acontecendo, está marcando passo. Então, quando você finalmente está em Paris, há aquela sensação de se estar finalmente no lugar certo, no epicentro da humanidade. Claro que é uma sensação subjetiva. É uma sensação curiosa, romântica, mas também real.
Claro que a gente critica a pretensão dos franceses em se acharam “a” civilização, mas não deixa de curtir a beleza e a sensação do lugar.
Tomei um café com um croissant numa das muitas cafeterias (que servem sobretudo os turistas) da Champs Elysées para absorver mais da atmosfera antes de seguir caminhando — e também simplesmente porque eu gosto de ficar parando para tomar café quando viajo. As cafeterias desta parte de Paris se parecem muito mais com McDonald’s e outras redes de fast food que com aquelas cafeterias românticas à antiga que você pode imaginar, mas o croissant era bem feito e o café caiu bem.
Perto dali, após a Place de la Concorde, está o belo Jardim das Tulherias, pouco comentado no Brasil mas imperdível — ainda mais na primavera. Ele separa a Place de la Concorde da área do Museu do Louvre, o maior museu de arte do mundo, e que eu apresentarei num dos próximos posts. O jardim é, na verdade, mais o que chamaríamos de um parque, construído no século XVII ao estilo francês nos tempos da realeza.




Por toda essa área, assim como na Place de la Concorde, fique atento aos ciganos com seus abaixo-assinados falsos — algo que você certamente não previa no seu script da viagem a Paris. Eu, como já fui surrupiado por três ciganas na França há uns anos atrás, já estava escolado. Dispense-os todos, e olho nos seus pertences. (Um dia eu conto a treta, quando relatar a minha viagem a Lyon.)


Atravessando o rio, você já avistará e poderá caminhar até a Torre Eiffel. Ela é a prova cabal de como coisas simples — tão simples quanto uma simples torre de ferro — ganham contornos semi-míticos e se tornam merecedores de suspiros quando envolvidas pela atmosfera romântica de Paris. Eu, francamente, não acho a Torre Eiffel particularmente bonita ou artística — é diferente de algo inerentemente esplendoroso, como o Taj Mahal na Índia, por exemplo, que é em si uma notável obra de arte.
A Torre Eiffel, projetada pela empresa do engenheiro francês Gustave Eiffel, foi construída de 1887 a 1889, uma época em que a industrialização tinha um quê de charme na França e na Europa. A Revolução Industrial anunciava um novo mundo, uma nova vida, a vida moderna, e muitas pessoas começaram a se fascinar com aquilo. (Confira aqui o meu post em Nantes, a cidade de Júlio Verne, em que comento como as obras dele foram muito fruto desse período.) A comunidade intelectual e artística da época odiou a Torre Eiffel, mas ela viria a se tornar um símbolo francês mesmo assim.
São três andares que você pode visitar pagando uma entrada, subindo de escada ou elevador. Se você não quiser passar uma eternidade na fila, recomendo comprar sua entrada online através do site oficial da atração. Custa 17 euros. Lá em cima, se você quiser gastar um pouquinho mais, pode reservar também uma mesa num dos restaurantes lá em cima (aqui). Não comento a qualidade porque não me dispus a pagar, mas saiba que é preciso reservar com antecedência.
Na real, a Torre Eiffel é mais um daqueles programas “turistão”, mas que você não deixa de fazer por isso.



No próximo post, continuo o bordejo por outros lugares de Paris.
Estive em Paris pela primeira vez no começo do ano. Gostei, mas realmente não fiquei tão encantado como o mito faz-nos acreditar.
É de fato uma cidade bela, culturalmente riquíssima: a capital intelectual do Ocidente, mas eu literalmente sofri a “síndrome de Paris”, pois ficou aquém de minhas expectativas – coisa que Madri superou, por exemplo. Confesso também que tive muito medo do terrorismo, porque o tempo inteiro havia alusões a isso.
Entretanto é realmente um lugar para se vivenciar…especialmente a área da Sorbonne (que foi a minha preferida). Espero lá voltar em breve e quiçá tirar a má impressão.
Ah! Eu fiquei encantadíssimo com a Eiffel. Esta superou em muito minhas expectativas.
Ahhhhhhhh!……. Pariiiiiiiissss!;…. toujour Paris. como é dificil falar de um amor…expressar em palavras um sentimento, uma emoção que invade sua alma ao se aproximar da cidade luz. Definitivamente faço parte dessas pessoas apaixonadas por Paris, não pelos parisienses, que me perdoem, não são nada simpáticos. A minha síndrome é de estar longe de Paris. haha
Minha paixao é a cidade….. com seus monumentos,museus, igrejas, casario, avenidas bem arborizadas, torre Eiffellll, linda Senhorita de Paris, belas praças, cafés, calçadões, praças, jardins, céu lindo, o Sena, suas pontes, seu bateau mouche, enfim, a Paris dos sonhos e fantasias. Amo Paris. E uma das cidades que acelera meu coração e me faz voltar aos 17 anos. Ver Paris me faz feliz. e na Primavera, então, nem se fala!… Linndissima colorida, florida, com belo céu azul, e parques maravilhosos. É magica a sensação de estar em Paris, na Primavera.
Obrigada. linnndo