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Coreia do Sul

Conhecendo Seul, Coreia do Sul (Parte 3): Seus palácios medievais e o bairro tradicional de Bukchon

Coreia medieval. Poucos no Brasil têm uma ideia de como isso foi. (Afinal, o nosso currículo eurocêntrico só nos fala do Oriente a partir do momento em que os europeus aparecem por lá.) Talvez alguns pensem em imagens do Japão medieval, nos fornecidas pelos filmes e desenhos, com os ninjas, samurais, etc. 

A Coreia medieval teve, naturalmente, semelhanças tanto com a China quanto com o Japão medievais, países com os quais trocou influências culturais ao longo dos séculos, e ela legou belos palácios e paisagens que são o que há de mais bonito a ver na capital sul-coreana, Seul.

Menos conhecidas, mas não menos importantes, são também as influências culturais e estéticas da Ásia central, siberiana, sobre a qual quase nada conhecemos no Brasil.

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A arquitetura tradicional coreana é assim. Portal de entrada para a área de um dos palácios medievais em Seul.
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Frente de entrada de um dos pavilhões. Vocês perceberão, ali acima em dourado, caracteres chineses. Os coreanos sempre tiveram seu próprio idioma, mas o escreviam usando ideogramas chineses até o século XV. Em 1443, eles então inventaram o alfabeto que usam até hoje. (Sim, o coreano, ao contrário do chinês e do japonês, usa um alfabeto em vez de ideogramas.)
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Frente bem arrojada. A influência arquitetônica aí não é só chinesa, mas também centro-asiática. Se você for a templos budistas na Mongólia ou na Rússia (frequentados pelos muitos siberianos nativos ainda lá), a estética é similar, inclusive na escolha das cores.
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Quem já assistiu a filmes ou desenhos sobre o Japão medieval, certamente já viu as batalhas de armas brancas que tinham lugar nesses corredores de palácios. Aqui na Coreia, não é diferente.
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Eu numa dessas áreas palacianas em Seul.
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Pagode em Seul. Os pagodes são, originalmente, indianos. Esses monumentos foram popularizados por missionários budistas a partir do século III a.C., e se espalharam pela Ásia, cada povo dando-lhe um toque estético próprio.

Eu sou meio “rato” de lugares históricos, ainda mais bonitos desse jeito, e visitei tudo que pude. Mostro a vocês neste post os palácios das dinastias medievais coreanas (as mais belas atrações de Seul) e o distrito de Bukchon, um bairro tradicional da cidade.

três palácios principais a serem visitados em Seul: O Gyeongbokgung, o Changdeokgung, e o Changgyeonggung. Boa sorte memorizando esses nomes. Sugiro, francamente, que você não perca tempo com isso, até porque eles são todos muito parecidos.

Se você quiser visitar um só, sugiro o primeiro ou o segundo; mas, se você gosta deste tipo de lugar, pode valer a pena comprar o carnê (na bilheteria de qualquer um deles) que te dá acesso a todos eles, por um preço total que sai mais em conta que comprar entradas separadas.

Todos os palácios oferecem tours gratuitos em inglês, com guia coreano. Vale muito a pena para conhecer os pormenores e as histórias por detrás dos lugares. As bilheterias sempre têm uma tabela atualizada com os horários.

Ao visitar o Changdeokgung, vale a pena incluir na visita o acesso ao Jardim Secreto que há no palácio. É a parte mais bonita.

No caso do Gyeongbokgung, você pode assistir também a um desfile militar de época, com todos em indumentária coreana medieval. Confiram uma palhinha aí no vídeo abaixo.

Tudo isso que você vê aí são coisas da época da Dinastia Joseon, que governou os coreanos entre 1392 e 1897. O nome “Coreia”, no entanto, provem da dinastia anterior, Koryo, estabelecida no ano 918. É nessa época que os mercadores da Rota da Seda, muitos deles islâmicos, começam a trazer o nome para o Oriente Médio e o ocidente. No século XIII, Marco Polo referiu-se à Coreia como Cauli. No século XVI chegariam os primeiros exploradores portugueses, já referindo-se a esta terra como Coreia (embora a esta época os Joseon já estivessem no poder).

Os Joseon inauguraram o Gyeongbokgung, seu principal palácio, em 1395. Preciso ser honesto e dizer que quase tudo isso hoje é reconstrução, pois foi tudo trazido ao chão durante a Segunda Guerra Mundial. Mas o trabalho de reconstrução foi muito bom, até onde eu sou capaz de dizer. Abaixo várias fotos dele, o Gyeongbokgung.

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Nossa guia no Palácio Gyeongbokgung, erigido pelos Joseon em 1395. Essa aí foi a nossa guia, coberta até a alma para não se deixar bronzear pelo sol. (Na Ásia, pra quem não sabe, o padrão de beleza é ter a pela o mais clara possível.)
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Eu optei por tomar o sol e aplacar o calor com este mui saboroso picolé de melão.
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Tomando um delicioso sol de primavera diante do Palácio Gyeongbokgung, em Seul.
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Uma das entradas laterais.
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Um dos muitos pavilhões do Gyeongbokgung.
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Interior de um dos pavilhões.
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Detalhes da pintura. Claras influências chinesas.
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Ilhota num pitoresco lago, na área do Gyeongbokgung.
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De outro ângulo.
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Casa tradicional coreana.
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Biblioteca imperial em Gyeongbokgung.
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O interior da biblioteca, com portas de correr e chão onde só se pisa descalços. (Eles ainda conservam documentos e livros aqui, mas está tudo em coreano.)
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Desfile da guarda.

Como era habitual ter muitos palácios em vez de um só, os Joseon completaram em 1412 o Changdeokgung, com seu Jardim Secreto. É a parte mais pitoresca desse palácio, mais um parque que um jardim propriamente dito.

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Pavilhão no Changdeokgung, em Seul.
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No Jardim Secreto do Changdeokgung. Era um parque privado da realeza coreana dentro das muralhas do palácio.
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No jardim secreto.
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No jardim secreto.

Há uma atmosfera de “vazio” nesses lugares, pois só resta mesmo a “casca” dessa realidade coreana medieval de séculos atrás. Apesar disso, não deixam de ser paisagens bonitas. 

Por fim, mostro a vocês a vizinhança de Bukchon em Seul, uma área de casas tradicionais, os hanok. Essas casas tradicionais coreanas são muito semelhantes às japonesas (ryokan), com estruturas de madeira e portas de correr. (Se você assistiu ao seriado Sense8, as cenas com o treinador da protagonista coreana se passam aqui em Bukchon.)

O bairro é bonitinho, mas está bastante gentrificado. Circulei, vi velhinhas coreanas atravessando a rua de um lado, estudantes em saias azuis uniformizadas do outro, e as casas tradicionais coreanas contrastando com boutiques de nome francês e cafeterias Starbucks. Um misturão do que se tornou a Coreia hoje.

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Área com casas tradicionais coreanas. É pitoresco, mas bastante está gentrificado, e hoje são lojas boutique bem caras, com aquela ali com nome em francês (“Maison de Ines”).
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Bequinhos.
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Frente de casa tradicional coreana.

Há um paralelo curioso entre a Coreia medieval e a atual. Meus guias dos palácios em Seul notaram que, apesar das impressões de grande monarca ultra-poderoso absolutista, os reis coreanos não eram tão poderosos assim — eram muito dependentes da aristocracia, dos “senhores feudais”, por assim dizer.

De forma parecida, o governo sul-coreano tem sido altamente dependente do chamado chaebol, nome dado pelos coreanos aos gigantes conglomerados empresariais controlados por famílias (Samsung, LG, Hyundai, Kia Motors, etc.), e que de fato controlam muito não só da economia, mas também da política do país, com certos efeitos nefastos à democracia. Eles estão altamente envolvidos na política, e diz-se na Coreia que é praticamente impossível vencer alguma causa contra uma dessas empresas na justiça.

Nossa viagem conhecendo a Coreia do Sul continua.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

2 thoughts on “Conhecendo Seul, Coreia do Sul (Parte 3): Seus palácios medievais e o bairro tradicional de Bukchon

  1. Ave, que maravilha!… que bela arquitetura, que colorido magnifico, que belas construções, que tons espetaculares, tudo circundado por esse verde magnifico da natureza, Um primor de lugar.
    Lindas paragens, belas casas cheia de cores estilo e flores!.. um espetaculo para os olhos. Maravilhosa cultura.
    lamentável o eurocentrismo das nossas escolas e informações que nos faz desconhecer o espetáculo da cultura asiática.
    Amei os templos, os jardins secretos, com suas lindas balaustradas de madeirinha avermelhada, seus elegantes pagodes, sua natureza estupenda, seu bucolismo. Amei o templo verde e laranja, Linda Seul. Parabens, jovem viajante, Bela regiao. Conhecer e apreciar são preciso,
    Acho que não me arriscaria no tal sorvete verde haha

  2. Aquelas folhas avermelhadas no Secret Garden são magnificas, Lindas. Adorei a ilhota a pontezinha e a belas casas cheias de flores nas portas belíssimas. Obrigada por nos mostrar essa maravilha que é a Asia,.

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