Ir à Coreia do Sul ou ao Japão? A resposta mais simples é: visite os dois. No entanto, esses países estão do outro lado do mundo, e nem sempre há capital ou tempo suficiente para incluir ambos numa viagem.
Cada pessoa tem o seu preferido. Muitos dizem que o Japão é incomparável, sem conhecer a Coreia. Já outros afirmam que a Coreia é menos visitada, mas mais interessante que o Japão. A resposta final, é claro, é subjetiva, mas aqui vão algumas considerações que ter em mente, de quem já passou semanas turistando em ambos.
Culturalmente, os países são semelhantes, mas não idênticos.
Duvido que a maior parte dos leitores saiba identificar em qual dos dois países é a foto de capa desta postagem, acima. Há semelhanças muito grandes entre a Coreia do Sul e o Japão. Ambos são países que gostam de conservar seu passado, sua identidade cultural, em meio a uma modernidade crescente que beira a ficção científica — máquinas de vendas por toda parte, trens de levitação magnética, aparatos eletrônicos em lugares que para nós ocidentais parece estranho, como em fechaduras de portas ou na privada do banheiro.
Como o Japão é muito mais famoso mundialmente, tendemos a crer que suas características culturais são únicas e exclusivas. Lembro-me de ler, há alguns anos atrás, o guia Lonely Planet referir-se ao Japão como uma “Galápagos cultural”, por supostamente ser completamente diferente de tudo. Não é. O Japão é produto de trocas culturais na sua região tal como qualquer outro país, com muita coisa adaptada da China (os bonsai, por exemplo), e muita coisa parecida com a Coreia.
A título de exemplo, a Coreia tem rolinhos de arroz envoltos em alga (gimbap) bem semelhantes aos sushis japoneses. Se o Japão tem os célebres ryokan, aquelas casas tradicionais de madeira e papel, onde se dorme no chão, com portas de correr, a Coreia tem os hanok, que não são muito diferentes. Noutro campo, ambos os países mesclam o budismo com uma religião animista tradicional, que cultua os espíritos da natureza, e são repletos de simpatias pra tudo, com fitinhas que você amarra nos templos, etc.
Arquitetura, música, paisagens urbanas, bom transporte coletivo, celebração das flores de cerejeira na primavera — tudo isso é semelhante entre um e outro. (O mesmo vale para o fato de japoneses e coreanos, igualmente, falarem inglês muito mal.)
No entanto, Coreia e Japão não são idênticos. Como turista, você encontrará pessoas essencialmente reservadas em ambos os países, mas os japoneses são muito mais educados e polidos que os coreanos. Não espere encontrar a mesma coisa. Se os coreanos não chegam a ser rudes como os chineses podem ser, ainda assim aproximam-se mais destes que dos japoneses, a meu ver.
Ambos os países têm ótimos museus que são por vezes gratuitos; no entanto, o Japão tem uma cultura de haver guias voluntários, que não esperam sequer gorjeta, e que não encontrei na Coreia.
Além disso, a gastronomia nos dois países pode ter suas semelhanças (ex. arroz por toda parte), mas no fim das contas são bastante diferentes, com os coreanos usando bastante pimenta, algo que você pouco encontrará no Japão. (Mais aqui.)
A Coreia é BEM mais acessível que o Japão: Mais barata, e não requer visto.
Esta é uma parte menos subjetiva: brasileiros podem ir à Coreia do Sul por até 90 dias sem necessitar visto; já o Japão exige solicitação de visto, com exigências um tanto burocráticas, como querer saber seu itinerário, endereço e telefone de onde você vai estar em cada um dos dias, etc.
Além disso, o Japão é um país muito mais caro. Acomodação em hostels na Coreia custa em média 10 dólares por noite, enquanto que lugares desse mesmo nível no Japão custam mais que o dobro. Transporte, também, é muito mais barato na Coreia, sobretudo os trens. No Japão, tomar o trem-bala shinkansen de algumas horas entre Tóquio e Kyoto pode custar mais de 100 dólares, enquanto que o KTX coreano — que atinge a mesma velocidade, diga-se de passagem — pode custar a metade disso.
Portanto, viajar ao Japão requer um preparo e investimentos maiores, enquanto que a Coreia é mais simples de visitar.
O Japão tem mais lugares a ver e visitar que a Coreia
Isso é subjetivo: algum coreano pode rapidamente dizer que há, na Coreia, a esquina da rua tal, que a seu ver merece ser visitada, além disso e daquilo. Não nego que depende, em certa medida, daquilo que cada um se interessa em ver. No entanto, pra mim é bem fático que o Japão simplesmente tem bem mais lugares de interesse: Tóquio pode ter tantos lugares interessantes quanto Seul, na Coreia, mas o Japão também tem Kyoto, Nara, Osaka, Kamakura, Hiroshima, e mais uma palha de lugares bonitos e interessantes a ver, mais que a Coreia.
Afora mais lugares aonde ir, o Japão também tem o sumô, como atração à parte, e as célebres fontes termais onde se toma banho nu (as onsen), que existem na Coreia, mas nem se longe com a mesma onipresença. (Por fim, se você é fã de animes e mangás, é claro que o Japão fará mais sentido para você que a Coreia.)
Veredito?
Visite ambos, se puder. Coreia do Sul e Japão merecem sua visita, pelos belos sítios históricos, pelas culturas exóticas (do ponto de vista de alguém da América do Sul), por sua organização, pela gastronomia, etc.
Contudo, eu diria que a visita ao Japão é mais marcante (ao menos para mim). Admito que, em parte, isso se deve à presença muito mais arraigada que o Japão tem no nosso ideário. São aspectos subjetivos também importantes.
Se tiver que escolher um e tiver tempo e dinheiro, o Japão provavelmente será uma viagem mais recompensadora. No entanto, se tempo ou dinheiro estiver(em) curto(s), num mochilão pela Ásia pode fazer mais sentido incluir a Coreia do Sul, e deixar o Japão para uma viagem exclusiva.
No site você pode conferir as crônicas das minhas estadias em ambos os países: Japão e Coreia do Sul.
Pretendo visitar ambos hahaha
Se por acaso esstiver na coreia e desejar ir ao japão, sem que tenha programado? Posso pedir visto na coreia no consulado ?
Não. O visto japonês você precisa solicitar a partir do país onde reside. Se for de outro que não o país da sua nacionalidade, tem que provar que reside legalmente lá.