Era um dia nublado de chuviscos quando eu resolvi ir à Colina de Penang e, de lá, vir conhecer o Kek Lok Si, o maior templo budista de toda a Malásia. Ele fica em meio a colinas bastante verdes, entrecortadas por estradas, e com algo de urbanização desordenada (à là Terceiro Mundo) aparecendo aqui e ali.
Você caminha pelas barracas que mostrei no post anterior e depois por umas beiras de estrada, mas nada muito longo. No total, é uma caminhada de seus 30-40 minutos separando a subida para a Colina de Penang e a entrada do templo.
Você verá o Kek Lok Si já a alguma distância pelo seu imenso pagode budista no alto. É dos lugares mais fascinantes a visitar aqui em Penang e em toda a Malásia.





Aqui vai algo que vocês provavelmente não sabiam: as universidades modernas têm sua origem última nos mosteiros budistas. Esse monginho aí é o prelúdio do universitário de hoje.
Permitam-me uma breve digressão. As universidades ocidentais surgiram na Idade Média europeia, sob patronato da Igreja. A nossa historiografia eurocêntrica e brancocêntrica pouco situa isso na História; conta como se fosse um surgimento espontâneo, uma iluminação repentina do clero europeu, meio “do nada” (pois a Europa raramente admite que absorveu algo de outros povos). Ora, meus caros, dificilmente algo na História surge “do nada”.
Quando surgiu a primeira universidade cristã (Bolonha, em 1088), os islâmicos há 300 anos já tinham suas madraças, escolas islâmicas adjacentes às mesquitas para estudar não apenas teologia, mas também matemática, astronomia, literatura, lógica, etc. Enquanto se faz um escarcéu sobre Gutemberg e a imprensa no século XV, os árabes e persas eruditos já eram escolados e liam livros há séculos. A escola de Al Quaraouiyine em Fez, no Marrocos, fundada no ano 859, hoje é uma universidade e é a instituição de ensino mais antiga do mundo ainda em operação. (E, só para constar, ela foi fundada por uma mulher: Fatima Al-Fihri, filha de mercadores.)
Pois bem. Os islâmicos, por sua vez, adotaram o conceito de madraça (escola islâmica) a partir de suas conquistas de terras budistas na Ásia Central no século VIII. Os budistas há séculos já tinham suas escolas nos mosteiros, onde os monges estudam as escrituras budistas entre outros temas. Alguns historiadores apontam que a criação de madraças, inspiradas nas escolas budistas, inicialmente serviu de estratégia para educar nas linhas do Corão os novos povos convertidos, além de ensinar-lhes o idioma árabe.
Vejam se essa não lhes parece uma proposição muito mais parcimoniosa do que a tese convencional de que as universidades surgiram como “geração espontânea” na Europa.
Muito bem, vamos ao templo.


O Kek Lok Si é, na verdade, um complexo, e não somente um pavilhão. Há vários pavilhões, altares, jardins, e o pagode. Além, é claro, de lojinhas. Às vezes lembra um colorido parque temático budista, mas é assim que os templos asiáticos são.












Não é possível entrar no pagode, lamentei. Eu queria subir, mas não é possível. Contentei-me com as vistas daqui.



Uma chuva fina começou, e foi agradável estar ali por aqueles jardins bucólicos enquanto a água caia do céu. Ambiente muito tranquilo.
Deixo vocês com mais algumas imagens do interior e detalhes do budismo.


Se você se interessa por budismo, vale saber que há vários Budas. Na cosmologia budista, são muitos os espíritos iluminados além do buda histórico, Sidarta Gautama. Além disso, eles discutem que o Buda tem muitas naturezas. É semelhante à discussão milenar no Cristianismo sobre a natureza do Cristo, se duas — humana e divina — ou apenas uma, humana, ou apenas uma, divina. Coisa que divide igrejas cristãs ainda hoje. Só que no budismo, é bem mais complexo. Eles dizem que esse Vairochana Buddha (acima) é uma das três naturezas do Buda histórico.




Juntos, esses são chamados de “Os Cinco Budas da Sabedoria”. É bastante pano pra manga. Mais sobre budismo nestes posts aqui.
Que maravilha esse templo. Que belo Pagode, que lindo interior com seus estupendos coloridos e efeitos visuais e simbólicos; que espetáculo de manifestação e arte religiosas, que cultura soberba a desse povo/região. Maravilha. Cada postagem é mais bonita que a anterior. cada local mais belo. Incrível.
Gostei de saber das origens das Universidades. Pelo lado de cá da Historia ocidental so há referencias ao seu surgimento na Europa do Medievo. Muito interessante. Esperado esse comportamento por parte da” soberba”( no sentido de soberbia) Europa. Valeu, jovem viajante. Breve espero ver essas belezas ao vivo. Congratulations
Viajante do mundo , obrigada por compartilhar essas lindas imagens, como gostaria de ver pessoalmente uma delas ,és afortunado .Que Deus te acompanhe em suas andanças.Beijos
Obrigado, Sayuri!