Perdoem-me começar o post com uma mentira. Eu não amo K.L.. Eu gostei de algumas coisas da cidade, mas dizer que a amo seria falsidade.
Fiquei instalado no centro da capital malaia, nos arredores de sua Chinatown. (Como eu já coloquei antes, não faltam chineses que vivem há séculos nestas proximidades do Estreito de Malacca.) Estamos numa megalópole de 7 milhões de habitantes em toda a região metropolitana, e — como você há de imaginar — esta metrópole de Terceiro Mundo tem seus altos prédios, luxuosos, mas também uma renca de pessoas pobres no chão e vizinhanças subdesenvolvidas. É uma cidade de contrastes, e seu nível de infraestrutura não é muito melhor que no Brasil.
Cheguei à noite após uma viagem de ônibus desde Penang, e ali pelas 23h as ruas já estavam desertas tais quais as dos centros de cidade brasileiros após o fechar do comércio. A diferença é que aqui não há a mesma violência. Ainda assim, era possível ver mendigos dormindo na rua tal qual no Brasil. Desviei-os e naveguei por aquelas ruas de calçadas quebradas, meladas de esgoto, até chegar à porta que levava ao meu albergue.
Eu, no dia seguinte, começaria a passear por estas duas durante o dia e conhecer o que Kuala Lumpur tinha pra mim.

Os funcionários do albergue eram um tanto estranhos; falavam pouco; uma garota, a mais bonitinha, tinha um jeito um tanto mordaz, um tanto frustrado, que fazia com que conversar com ela fosse agradável aos olhos mas não ao espírito.
Nessa mesma noite da chegada, ainda me apareceu um tio peruano aposentado que só falava espanhol, e para quem pediram a minha ajuda como intérprete. Era simpático e animado, embora muito conversador — e que em sua empolgação chegou a querer vir elogiar seu ex-presidente Fujimori, que está na cadeia.
No dia seguinte, eu seguiria vendo os contrastes culturais que tanto caracterizam a Malásia — de culturas chinesa, malaia islâmica, e hindu tâmil —, assim como agora também os exuberantes contrastes econômicos de Kuala Lumpur.
É uma cidade muito comercial, em que as principais atrações são os mercados de Chinatown, os mercados de artesanias, e shopping centers luxuosos onde os ocidentais e malaios ricos vão passear. O principal destes é o Suria KLCC (Kuala Lumpur City Centre), um grande complexo faz-de-conta-que-é-uma-cidade-limpa onde acontecem de estar as mundialmente famosas Torres Petronas, aquelas gêmeas com uma ponte ligando uma a outra. Você talvez já as tenha visto em filmes, como em A Armadilha (1999), com Sean Connery e Catherine Zeta-Jones.

Eu as mostro melhor a seguir. Estavam a uma caminhada do meu albergue.
Perto de mim estava o límpido templo hindu Sri Maha Mariamman, à deusa tâmil da chuva. Um belo lugar, todo recoberto em mármore onde fiéis (e visitantes) circulavam descalços. (Em templos hindus, como nos templos budistas, é obrigatório remover os sapatos antes de entrar.)





Este vídeo abaixo mostra os músicos em ação, no interior. (Parece uma procissão de elefantes em marcha.)
Nas cercanias, tratei de ir logo a Chinatown ver o mercado povão. Durian, lichias, peixe, frutas várias e incenso — associados ao calor úmido equatorial — marcam as ruas do centro de Kuala Lumpur. É um pouco como a Região Norte do Brasil. A vantagem é que tudo é muito barato, e você basicamente faz uma refeição por 4 reais.
Há uma seção central da Chinatown que é uma rua para pedestres, cheia de gente e bugigangas da China. Essa é menos interessante, embora seja a mais decorada. Recomendo embrenhar-se pelos becos mercado adentro.






Se você se cansar do calor e do zum-zum-zum, perto dali há o Central Market, que apesar do nome é uma espécie de shopping center de souvenirs e produtos culturais daqui, com ar condicionado e tal. Não são os mesmos preços da rua, obviamente, mas tem muita coisa bonita.


No centro, você pode ainda visitar a Praça da Independência (com o desafortunado nome de Merdeka Square), onde pode ver algo da arquitetura malaia. Foi a área onde tirei a foto inicial, com o “I love KL”. Eu a esta altura estava tomando um sol miserável na cabeça, com a umidade equatorial daqui, e não estava exatamente amando Kuala Lumpur, embora os olhos gostassem da beleza dos prédios.


Tudo isso acima é no centro. Se você quiser ir ao centro financeiro e empresarial de Kuala Lumpur, onde ficam os shoppings e prédios modernos (inclusas aí as Torres Petronas) vai precisar caminhar um pouco, ou tomar um transporte. Eu escolhi caminhar. As ruas de Kuala Lumpur fora do centro não são assim as mais aprazíveis do mundo, mas tampouco são as piores. São em geral ruas amplas, mas de pouco charme — até você chegar à área do dinheiro.



Essa é a parte mais badalada de Kuala Lumpur entre os visitantes ocidentais, sobretudo entre os amantes de shopping centers.
Há vários shoppings, e uma passarela — às vezes arejada, às vezes um túnel — que os conecta uns aos outros. As Torres Petronas estão exatamente sobre o maior deles, o Suria KLCC. É bonito, o ar condicionado dá um alívio do calor no exterior, mas eu acho que já morei tempo demais na Europa e acabei passando a não ver a menor graça nesses ambientes artificiais, totalmente desconectados da cultura ou da natureza do lugar. (Os europeus quando vão ao Brasil não entendem como a gente, com uma cultura e uma natureza tão exuberantes, não construímos espaços baseados nelas e em vez disso nos embrenhamos em shoppings todos iguais de estilo norte-americano.)



Quando você alcança a área do K.L.C.C. (Kuala Lumpur City Center), há um simpático parque com fontes e um laguinho. E ali, majestosas, estão as Torres Gêmeas Petronas. (Petronas, pra quem não sabe, é a companhia nacional de petróleo e gás da Malásia. Muito dinheiro rolando ali.) Elas são muito elegantes tanto durante o dia quanto à noite.
Subir tem um custo de 85 ringgits (cerca de US$ 20), mas meu interesse era vê-las em sua inteireza, e não fiz questão de subir. (Se você quiser subir, recomendo comprar o ingresso online com antecedência no site oficial.)









Embora eu não curta muito o conceito desses espaços “bolha” (onde quem tem dinheiro vive num mundo encantado, seguro e limpo, enquanto o pau come solto na cidade afora, com ambientes sujos e pobreza), a visita ao KLCC Park vale a pena, o show de luzes na água é muito bonito, e ver as Torres Petronas de perto me parece obrigatório a quem vem a Kuala Lumpur.
Como eu disse no começo, não amo a cidade (achei-a um grande “mercado persa” sem muita identidade própria), mas a visita vale a pena. Chegava finalmente a hora de eu me despedir da Malásia e rumar a Singapura.
Uaaaaauuu… olhe elas…as famosas e cinematográficas torres gêmeas…. beliiisssiiiimas, arrojadas, elegantes, futuristas, maravilhosas. Obra prima da engenharia e da arquitetura modernas, Um espetáaaaaaculo. Elas, ao meu ver, ja valem a visita.
Este KLCC tem semelhanças com Hong Kong. Muito bonito tambem. Essa iluminação com os edificios dá um grande efeito, assim como o seu reflexo na água.
Magnifico!….. monumental!…. esse Palácio/residencia do Sultão. Adoro esse estilo arquitetônico mouro, com seus arcos, seus portais, suas torres, belas cúpulas e tons entre delicados e fortes, de bom gosto, leveza e graça impares. Maravilha. Este também vale a viagem, meu caro e jovem viajante.Valeu.
Triste essa desigualdade que sempre aparece como subproduto do capitalismo selvagem e do atraso, onde poucos tem muito e muitos quase nada tem.