Eis aí o leão, símbolo de Singapura. “Singa Pura” significa exatamente “Cidade Leão” em sânscrito. Desde a Antiguidade, mercadores indianos, chineses e malaios comerciam por esta região, passando aqui pelo Estreito de Malacca entre a ilha de Sumatra e a pontinha da península malaia, onde Singapura está (ver post anterior). Esta é uma localização comercial estratégica.
Os portugueses necessariamente passavam por aqui para chegar até a China e o Japão, e depois os seguiram os holandeses e, por fim, os ingleses. Estes no século XIX precisavam necessariamente cruzar este estreito para vender ópio cultivado nas Índias aos chineses. Nos idos de 1820, negociaram com o sultão malaio que governava a região o direito de estabelecer aqui um entreposto comercial.
Singapura foi, até 1965, parte da Malásia. Em 1963, finalmente livres dos britânicos, os vários sultanatos desta região formaram uma federação (a Malásia) da qual Singapura fazia parte, e em 1965 Singapura passou um referendo decidindo ficar só.
Como na Malásia, aqui em Singapura há uma mistura de culturas composta sobretudo por: chineses budistas, malaios islâmicos, e indianos tâmil (do sudeste da Índia) de religião hindu. Muitos desses chineses converteram-se ao cristianismo dos colonizadores ingleses ao logo do tempo (portanto, há também igrejas), e muitos dos jovens singapurenses não se consideram religiosos, mas isso não muda o fato de que há muita coisa cultural interessante — e diversa — a ser visitada aqui.
No post anterior eu já mostrei como Singapura é uma explosão cosmopolita de culinárias asiáticas dos mais diversos tipos. Claro, essa presença não se limita à gastronomia.
Há um magnífico templo chinês budista da Relíquia do Dente do Buda (sim, eles dizem que tem um dente de Buda lá guardado) em Chinatown, templos hindus, uma Little India, e uma espécie de bairro malaio islâmico com toques árabes (chamado aqui de Kampong Glam).
Singapura tem uma política residencial onde, em cada prédio, há cotas para as três etnias principais (chineses, malaios, e indianos). Não é permitido ter um prédio só com singapurenses de origem chinesa, por exemplo. Isso é para assegurar a diversidade e a convivência — ainda que raramente ocorram casamentos entre eles ou famílias misturadas. No grosso da cidade você verá prédios modernos com gente de todas as caras, mas ainda assim há esses “bairros étnicos” (exceções à regra) que são bem interessantes de visitar.


É nos bairros étnicos que está mesmo o charme cultural maior de Singapura. São as áreas onde, por lei, é preciso conservar o estilo tradicional do lugar.
Um dos primeiros aonde fui foi o Bairro Malaio Islâmico (Kampong Glam), cuja artéria principal é a Arab Street. Há uma grande e notável mesquita de cúpula dourada (a Masjid Sultan), restaurantes turcos, e até mesmo uma rua decorada pelo sultão de Omã.








Circulei por ali tirando fotos, e a parte pitoresca é pequena. Não quis comer nessa área um tanto turística, e optei por um dos hawker centers (que mostrei no post anterior), onde os singapurenses comem.
Não longe dali, no mesmo dia de chuva equatorial intermitente, fui dar um bordejo por Little India, como é chamado o bairro onde se concentram os tâmil hindu. Refiro-me especificamente aos tâmil pra ser mais preciso que dizendo “indianos”. A Índia é muito diversa, com 22 línguas oficiais e tradições religiosas distintas. Os singapurenses de origem indiana são quase todos de origem especificamente tâmil, que são os indianos do estado mais a sudeste do país. Eles falam tâmil, não hindi, e tem aquela pele bem escura, típica do sul da Índia.



Eu depois entraria num grande templo hindu, o mais antigo de Singapura, que estranhamente fica em Chinatown. Eles aqui em Singapura são mais ligados em $ que na Malásia, e cobravam para tirar foto ou fazer vídeo no interior. Não fiz, mas entrei e presenciei uma celebração.
Era exigido removermos os sapatos e não deixá-los na porta de entrada do templo, mas sim numa lateral, o que basicamente significava andar descalços numa parte da calçada da rua. Como havia chovido a tarde inteira, ela estava molhada e cheia de poças. Tenho certeza de que a maioria dos brasileiros de classe média ou alta ficariam com nojo de sair descalços na rua pública, pisando na água da chuva. Não os indianos. (Seguindo o mesmo padrão que vi na própria Índia.) Misturei-me a eles.
Um tio com um trompete impõe uma melodia tântrica, rápida, que lembrou a mim o caminhar de um exército de elefantes. Ao seu lado, um outro usando “dedais” nos cinco dedos de uma mão tamboreia num ritmo rápido um timbau, enquanto com a outra mão bate com uma baqueta no fundo dele. Ao lado disso, um terceiro tio cadencia toda a cerimônia com o badalar do sino constante. Pronto, imagine os três sons juntos, e se você não estiver ali no clima de imaginar Shiva dançando e as energias do Universo em movimento, vai achar que é uma zuadeira. Não é.
Enquanto os tios tocam, sacerdotes hindus — homens Tâmil descalços e de pele negra, de sarong amarrado na altura do umbigo como toalhas de banho que chegassem até os tornozelos, à maneira característica do sul da Índia — iam de altar em altar levando pequeninas velas de ghee (manteiga derretida) e incenso. Indianos de todas as idades, desde idosos até menininhas daquela pele mulata indiana e vestidinhos coloridos rendados, participavam voltados para os altares e seguindo os sacerdotes. Após uma bênção, punham, um a um, um pigmento vermelho no centro da testa, na altura do “terceiro olho”. Era como uma comunhão. Ainda que o significado teológico seja outro, o ritualístico e o social me pareceram muito semelhantes ao cristão.


Saí do templo hindu com o som do universo na minha cabeça, depois da tamborilada com cornetas e sinos.
Afora o templo, tudo ali em Chinatown é, obviamente, chinês. É uma das três vizinhanças étnicas de Singapura onde tudo é preservado. Não é um lugar ideal onde comer, pois é turístico e caro, mas vale a pena para passear. As casinhas de arquitetura colonial do século XIX estão por toda parte, semelhante aos outros bairros tradicionais da cidade.



O mais bonito mesmo aqui em Chinatown é, sem dúvida, o Templo à Relíquia do Dente do Buda (Buddha Tooth Relic Temple). Se há mesmo um dente autêntico do Buda aqui, eu não sei, mas que o lugar é esplendoroso, é.






O lugar é fascinante. Eu volto no post seguinte, mostrando a parte moderna de Singapura.
Uaaaaauuuu, A inexpugnável!…… cidade leão, com rabo de peixe, é também moderna, desenvolvida, bela e charmosa. Que maravilha. Que beleza essa multi culturalidade e essa convivência. Um exemplo de toda essa região para o mundo.
Mas, meu amigo, esse templo budista, guarde ou não o dente de Buda, é mais um espetáculo difícil de descrever, pela arte, beleza, simbologia, expressividade, riqueza de detalhes, cores, tons, belas e coloridas lanternas, efeitos visuais, enfim um primor. Belíssimo. Que maravilha. Os olhos se deslumbram com tanta beleza,
E o que dizer desse belo bairro islâmico com sua charmosa, linda e exuberante mesquita de cúpulas douradas? um esplendor de arte e cultura com seu brilhante estilo arquitetônico. Belissima.
O templo indu tambem é lindo.
A vaca no telhado é otimo haha muito significativo.
Charmosinhas tambem essas ruas e praças cheias de barraquinhas, enfeitadas de belas lanternas, com mesinhas do lado de fora.
As malandragens históricas e a ‘ esperteza dos ingleses são notáveis. haha
Complicadas mesmo são as chuvas equatoriais e com horário certo haha. mas fazem parte do show.
Bela e histórica cidade, considerado um bastião na segunda grande guerra. Bom ve-la assim, desenvolvida mas com suas raízes vivas. Ótima postagem, belas imagens. Parabéns, meu jovem, Dá vontade de a conhecer.
gostei do site parabéns pelo trabalho