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Nova Caledônia

Na Ilha do Farol Amédée (Nova Caledônia): Vistas, snorkel e vida marinha

Estamos na Nova Caledônia, território ultramarino francês na Oceania. Já relatei as minhas experiências pela capital Nouméa e na linda Ilha dos Pinheiros. Agora era hora de conhecer mais da vida marinha deste lugar e, pura e simplesmente, curtir a praia.

Quando eu fui à praia de Nouméa, fui atendido na loja por uma travesti. Eva, da cor do pecado, se descrevia como “taitiana-chinesa” (tahitienne-chinoise), e morria de empolgações pelo Brasil. Eu buscava um passeio a algum lugar interessante onde eu pudesse ir à praia — e, de preferência, fazer um snorkel (aquele mergulho de superfície com máscara) também.

A minha escolha foi ir à Ilha do Farol Amédée (L’Île du Phare Amédée), que eu recomendo. Um dia de passeio, saindo da marina de Nouméa. 

Como eu comentei, as praias de Nouméa são meio “assim”: bonitas mas pouco atraentes pra banho, pra alguém acostumado à qualidade do Brasil. O forte da Nova Caledônia são mesmo as barreiras de corais, a vida marinha fácil de avistar, então era isso que eu buscava aproveitar aqui, mais que areia branca e ondas.

A Ilha do Farol Amédée, batizada em homenagem a um navegador francês do século XVIII (Amédée François Frézier) que inclusive fez passagens pelo Brasil, na Bahia e em Santa Catarina entre 1712 e 1714, é hoje uma ilhota circundada de corais e com um alto farol no meio, de onde é possível ter uma magnífica vista. Parece coisa de filme.

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A Ilha do Farol Amédée, com seu mar chamante.
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Parece tanto com filme que alguém resolveu pôr uma réplica de Wilson, inesquecível a bola de vôlei que acompanha Tom Hanks no filme Náufrago (2000).

Você vai de manhã, tem almoço e vinho inclusos, e volta de tarde. No meu caso, ainda negociei para ter o snorkel incluso. Pode não ser um esplendor paradisíaco da Ilha dos Pinheiros, mas é um passeio muito bonito e tranquilo.

Quando cheguei à marina de Nouméa para tomar o barco, lá estava Eva, a travesti taitiana, à entrada do navio. Me reconheceu, obviamente. Luzes no cabelo e shortinho, aquelas canelas finas de jogador de pelada de bairro. Ali perto, uma bandinha tocava músicas de seresta aos turistas (essa bandinha depois me aprontaria uma que me deixaria estupefato).

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A vista que deixávamos pra trás da Grande Terre, ilha principal da Nova Caledônia.
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Chegando pela manhã.

Tratei logo de subir no farol antes que a fila crescesse, sabendo que só entram poucas pessoas de cada vez.

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O comprido farol da ilha. Ele foi todo montado em Paris no século XIX e trazido pra cá de lá.
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Datado de 1862, do reinado de Napoleão III (época que a França tomou posse de muitos domínios aqui na Oceania, entre eles aqui a Nova Caledônia).
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A escadaria em espiral no farol. São 56m de altura. Prepare as pernas.
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A vista lá de cima recompensa.
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Os detalhes do mar, com umas pessoinhas lá embaixo.
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Barcos por entre as cores do mar.
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No outro lado da ilha. Como ela é bem pequena, dá pra ver o mar em todo o entorno.
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Apreciando a vista do alto do Farol Amédée.
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A água deliciosa.
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Os tons do mar vistos lá do chão.
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A praia. Poucas ondas, mas muitos corais e outras formas de vida marinha ali perto.

Um snorkel nessas águas é o batismo sagrado no Mar de Corais que envolve a Nova Caledônia. Não perdi a oportunidade: você passa quase raspando com peixes coloridos, muitos corais vivos, e até tartarugas marinhas. (Convém lembrar que não se deve tocar os corais vivos, para não os danificar. O mesmo vale para as tartarugas, já que sua mão tem micróbios.)

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Tartaruga marinha que eu flagrei tomando um ar.
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Em seguida, fizemos um passeio ao redor da ilha num barco com casco de vidro. Olha uma tartaruga lá embaixo.
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Como estamos protegidos aqui pela segunda maior barreira de corais do mundo (após a da Austrália), as águas em torno da Nova Caledônia são tranquilas. Lá muito adiante está o mar aberto.

Chegando do snorkel e do passeio no barco de vidro, era a hora do almoço. A bandinha me surpreenderia com algo nunca dantes imaginado: uma versão taitiana do clássico carnavalesco Mamãe eu Quero. O meu cérebro deu um nó quando reconheceu aqueles acordes. Não pude crer. (É fácil se distrair com as gringas dançando, mas vocês reconhecerão a música.)

Eu cheguei a perguntar a um dos músicos de onde era aquela música, e o que queria dizer “chupeta”, que eles repetiam, apesar de terem o mudado o resto da letra. “São coisas da nossa tradição popular“, disse ele. Sei. “Chupeta não quer dizer nada. São coisas que criança diz.“, complementou tranquilo. Tá certo, tô sabendo.

Quando eu sugeri que se tratava de uma música brasileira muito antiga, ele fez que sim mas seus olhos mostravam que ele não acreditou. Imagina se uma música lá do Brasil viria parar aqui do outro lado do mundo como cantiga na Oceania? (A música é composição de Carnaval do paulista Vicente Paiva com o alagoano Jararaca, de 1937.)

O nosso almoço havia sido buffet, e aquelas duas tias taitianas em frente a mim que você vê no final do vídeo comeram como se não houvesse amanhã. Comeram mais do que eu, e olha que eu não como pouco. Mas as polinésias, como eu já comentei antes, não brincam em serviço.

O almoço em si não foi digno de nota, mas como nós estamos na França, a bebida são umas coisas ordinárias assim:

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Como estamos oficialmente na França, o almoço do passeio aconteceu assim de incluir um vinho Bordeaux em cada mesa.
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E, depois do almoço, só a vida mansa.
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Vendo o mar tranquilo por entre as árvores da ilha.
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Foto com uma das funcionárias taitianas. O Taiti é parte da Polinésia Francesa, mais Oceano Pacífico adentro.

Era precisamente o Taiti o meu próximo destino, um lugar que sempre sonhei em visitar.

Por ora, eu retornava no barco a Nouméa e, de lá, pegaria o avião na manhã seguinte.


EPÍLOGO

Para me levar ao distante Aeroporto Internacional La Tontouta, que serve a Nouméa, eu havia novamente contactado Manu, o antilhano da Martinica que havia me trazido do aeroporto para a cidade alguns dias atrás.

No dia de manhã, porém, quem veio foi a patroa de Manu, uma senhora francesa sexagenária, dessas capazes de falar uma manhã inteira. Parecia uma verdadeira personagem saída da Escolinha do Professor Raimundo. Literalmente a 220Km/h, foi somente graças ao café espresso que tomei de manhã antes de sair que consegui acompanhar o seu francês.

Inesgotável repertório de histórias de miséria e de coisas erradas no mundo. Aprendi sobre os crimes mais hediondos dos últimos anos na cidade, ataques de tubarão, etc. (o melhor deles teve um final feliz, de umas crianças melanésias que se salvaram porque o irmão maior, gordo, boiou e pôs os irmãos menores sobre a barriga), além dos seus problemas de família. Fone fixo na orelha preso na cabeça, ela engolia parte das palavras para poder dizer mais em menor tempo.

Já no banco de trás, semi-mudo, um francês que só abriu a boca no final da viagem para dizer que era casado mas ele e a esposa viviam em casas separadas e se encontravam apenas nos fins de semana. Ah, esses franceses. Eu ainda veria mais deles, pois a Polinésia Francesa era agora o meu destino. 

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

4 thoughts on “Na Ilha do Farol Amédée (Nova Caledônia): Vistas, snorkel e vida marinha

  1. Uaaaaaauuuu que vidão heimmm meu jovem, Que beleza!…que tranquilidade,… que águas e paisagens magnificas, lugares fantásticos, e que bela garota. Muito bem. Belas fotos, lindos lugares, e paisagens. Maravilha de paragens e de viagem. Um verdadeiro paraíso na terra. Linda ilha, e grande farol. Deus me livre dessas subidas embora reconheça a vantagem das belas imagens.
    Haha que legal ver os acordes de ‘Mamae que quero”, que a minha mamma cantava na sua mocidade hahah nos carnavais da sua época, nas pranchas enfeitadas que percorriam as ruas da sua cidadezinha. Legal hahah. É muito conhecida no Brasil todo pelos mais velhos e pelo isto por alguns jovens como o senhor, que gostam de cultura. Linda postagem. região de natureza deslumbrante, Valeu, viajante. Colírios para os olhos que leem e apreciam a natureza.

  2. Eu não duvidaria nada que tu fosse capaz de rachar uma melancia nas coxas de tanto degrau que tu já subiu na vida.

    Enfim, prefiro ver as tartarugas.

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