O Taiti não é só mar, é também terra.
Nestas ilhas, crescem matas, há montanhas, flores e caminhos interessantes pouco explorados. Aqui havia muita gente, mas a grande maioria — como em outros países da Oceania — morreu vítima das doenças trazidas pelos navegadores europeus e para as quais não tinham imunidade.
Se os interiores das ilhas eram outrora habitados por muitas tribos, hoje a população se concentra quase que exclusivamente nos arredores das ilhas; no meio, restaram as montanhas, as florestas, e as ruínas ainda nunca escavadas do que eram as civilizações “pré-europeus” do Pacífico.

Eu havia pernoitado na cidade de Papeete, a capital, após assistir aos espetáculos do Heiva, o festival cultural e esportivo taitiano de todo verão. Era um sábado para domingo. Papeete, embora tenhas seus bares e restaurantes, não é exatamente uma cidade de grandes festas que viram a noite. À 1 da manhã, havia apenas algumas turmas de jovens circulando pela rua e carros doidos acelerando na avenida. Tudo o que eu sabia é que, aos domingos, o mercadão funciona das 4:30-8:30h da manhã — horário excepcional.
Na tentativa de tirar uma soneca, eu literalmente dormi na praça. A bem da verdade, comecei tentando dormir no parque, uma área arborizada e com ciclovias. As formigas, contudo, não me deixaram. Depois, quem não deixou foi um guarda, um sujeito gordo que patrulhava o local andando de pernas abertas como um personagem de desenho animado. Eu estava escondido atrás de uma palmeira, mas quando ele me viu, disse que o parque fechava às 2h e eu precisava me retirar. Retirei-me.
Enrolei o restante do tempo na rua, nas praças quietas, até a hora de o mercado abrir. Cheguei lá ainda com tudo escuro, após apenas uma breve pestana de 30min num banco de pedra, e encontrei os taitianos já pra lá e pra cá — mega-acordados — a arrumar as frutas, verduras e comilanças mil. Todo mundo que já virou a noite sóbrio sabe que a fome ataca, e eu ali me resolveria.




Este horário um tanto quanto curioso (de 4:30 às 8:30h) do mercadão aos domingos não é à toa. No Taiti, como por toda a Polinésia, há o costume do grande almoço familiar aos domingos, então todo mundo vem cedo de manhã fazer as compras.
Fui logo à mesma vendedora do almoço do dia anterior, onde novamente comprei uns vasilhames de peixe cru no leite de coco fermentado com água do mar — prato taitiano delicioso. Os taitianos são tão generosos que a senhora me deu um segundo de graça.
Comprei doces caseiros no leite de coco, ganhei degustação grátis, e qual foi a minha surpresa quando também avistei — numa barraquinha mais adiante — “Café du Brésil” à venda. Eles, como por todo o mundo francófono, amam o Brasil. Aqui era curioso, pois a placa dizia Café – 100 francos do pacífico (o equivalente a 1 dólar), Café brasileiro – 200 francos pacíficos. Eu, curioso, identifiquei-me ao vendedor como sendo brasileiro e, jocoso, perguntei-lhe se aquele café era brasileiro mesmo.
“Eu comprei na mercearia. Está dito que é brasileiro“, respondeu ele meio desconcertado.
O café estava horrível, mas se bebia. O curioso foi que eu parei para prosear, e o vendedor se atrapalhou e acabou cobrando o meu café na conta do próximo cliente que veio à barraquinha, um casal. O casal taitiano percebeu a adição indevida, eu comentei ao vendedor que não estávamos juntos, que o café quem pagaria era eu. Mas aí o taitiano: “Não, deixe por minha conta. É domingo.” A generosidade das pessoas aqui parece não ter limites.
Daqui, já alimentado, eu iria ao Ponto de Informação Turística para o início do passeio ao centro da ilha do Taiti.



No Ponto de Informação Turística, Manu, o elegante (e enorme) rapaz taitiano gay que atendia aos turistas e já me conhecia do dia anterior, ficou pasmo (com aquela reação afetada) ao saber que eu passei a noite na rua. Foi engraçado.
Logo depois também chegaram os demais participantes do tour, entre eles a coroa inglesa Sandra, que estava na mesma pousada que eu, uma policial aposentada com ar de professora, que já havia feito escolta da Rainha Elizabeth II e era a favor do Brexit. Todos os demais eram franceses vindo passear no Taiti; eu era o exótico.

Seguimos estrada adentro num 4×4 de fundo aberto, vendo a paisagem de verde sobre as montanhas, a um calor mediano de um dia de primavera no Brasil.




Dantes, dizem que até o século XIX, este interior da ilha era repleto de vilarejos, áreas cultivadas, e muita gente morando. Ainda é possível encontrar ruínas quase que totalmente encobertas por terra de terraços e templos de pedra. Hoje, há habitações apenas na costa, e quase nada se escavou. Daqui a algumas décadas, creio que teremos monumentos nativos a visitar aqui tal qual temos no México ou no Peru (e que 100 anos atrás estavam desconhecidos debaixo de terra).



Esses terraços de pedra, onde se realizavam rituais sociais e religiosos, são chamados de marae na língua taitiana, como em algumas outras línguas da Polinésia.
Há ainda muitos marae por serem descobertos, e muito por se descobrir do passado destes taitianos que já estão nestas ilhas desde 300-800 d.C. Como, após mil anos de existência independente, passaram a ser em 1880 e permanecem sendo território francês, o desenvolvimento da História e da cultura nacionais taitianos vão a passos curtos. Segundo me disseram, por exemplo, só desde 2006 é que se instituiu o ensino do idioma taitiano nas escolas.
Seguimos caminho até o alto de uma das montanhas, onde há um restaurante isolado com mirantes. Só de subir centenas de metros de altitude, a temperatura já se torna outra, muito mais fresca.





Como as demais “Ilhas de Sociedade” (Îles de Société), nome deste arquipélago, o Taiti é uma ilha de formação vulcânica circundada de corais.
É por isso que de longe elas são assim, esse espetáculo da natureza:


Daqui, no dia seguinte (após um devido banho e uma merecida noite de sono numa cama adequada), eu finalmente iria à lendária ilha de Bora Bora, a 1h de voo. Avante!
Que lugar lindo!
Rapaz!…. que aventura!….. hahaah dormir em banco de jardim…. .esperar mercado abrir na madrugada para comer hahah e emendar um outro passeio por um dia entre vales, montanhas , veredas. ruinas, sobes e desces etc e tal, é incrível hahah Só mesmo para um jovem viajante como o senhor, meu caro. Arrremaria haha haja vitalidade. É isso ai.
Belissima regiao!…. Vegetação e relevos exuberantes e magníficos. Um esplendor de natureza. E esta visão de cima com essas águas límpidas e de belo colorido; com essa maravilha de barreira de corais então, são de uma beleza estonteante. Parece o paraíso Um espetáculo incrível. Lindíssimo. A gradação de tons e a cor das águas são de uma beleza difícil de descrever. Digna de um painel. Surreal. Linda a região. Parabéns pela coragem e destemor.Superando limites hahah. Valeu.