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Polinésia Francesa

Moorea, Polinésia Francesa: Paisagens, mar, e lugares interessantes

(Este é um post com muitas fotos.)

Moorea é uma das ilhas mais fotogênicas da Polinésia Francesa. Ela é também a única aonde é possível ir de ferry desde o Tahiti — fica a apenas 1h de viagem.

Antes que eu deixe para depois e esqueça, os horários e preços você encontra aqui, na página oficial dos ferries Aremiti, mas não há nenhuma necessidade de reservar antecipadamente. Basta aparecer 1h antes na Estação de Ferries e comprar a sua passagem para uma viagem tranquila e confortável.

Eu havia chegado de volta a Pape’ete desde Bora Bora no dia anterior, retornei para dormir na pousada onde havia deixado a minha bagagem principal, e foi só o tempo de ter uma boa noite de sono, trocar as roupas sujas por roupas limpas, e retornar à cidade para rodar, almoçar no mercado, e tomar o meu ferry para Moorea à tarde.

Vistas espetaculares me aguardavam. Mas, antes disso, acompanhem os meus passos nas fotos abaixo.

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O retorno de avião ao Taiti. Como eu já coloquei antes, as ilhas aqui em todas estas Ilhas de Sociedade (nome deste, dos cinco arquipélagos que compõem a Polinésia Francesa) são cercadas por barreiras de corais que fazem essa formação linda, e dão diferentes tons de azul ao mar.
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No Aeroporto de Faaa, o que serve Papeete, na ilha do Taiti.
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Um ônibus no Taiti é como um ônibus no Brasil (incluso no tempo de espera, mas eu dei sorte ao sair do aeroporto).
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Perto da pousada onde estava, a farofada rotineira dos taitianos no belo parque fora da cidade.
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De volta à cidade de Papeete, no dia seguinte eu haveria de cruzar pela Rua Gauguin. O pintor francês Paul Gauguin (1848-1903), que se mudou para cá, viveu e faleceu aqui na Polinésia Francesa, foi um dos grandes responsáveis pela popularização da estética taitiana no imaginário do Ocidente.
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Femmes de Tahiti (1891), óleo sobre tela de Paul Gauguin, original no Musée d’Orsay, em Paris. Seu estilo é pós-impressionista.
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A portentosa Estação Marítima em Papeete. Aí você compra as passagens de ferry para Moorea. (É possível e vale a pena comprar ida e volta, pois em Moorea você provavelmente ficará distante do porto, e ir lá só pra comprar pode ser pouco prático.)
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A bela vista para a avenida de Papeete e, mais adiante, o interior do Taiti. Do segundo andar da Estação Marítima.
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Vista da marina.
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Eu lá em cima, no deck superior tomando um sol no caminho para Moorea.

Como era um julho, inverno do hemisfério sul, o clima na Polinésia Francesa estava um calor ameno, daquele bom de você tomar sol. (No verão, contemporâneo ao do Brasil, o tempo aqui é de chuvas fortes e grande calor úmido. Já sabe que época vir.)

Chegávamos a Moorea 1h depois de darmos partida. Você ao longe já enxerga a ilha a olho nu.

Se Taiti já é pouco urbanizada, Moorea o é ainda menos.

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Aproximando-nos do porto de Moorea. É isto mesmo, aquela é a maior urbanização que há na ilha. No mais, são apenas casas, restaurantes isolados e hotéis à beira da (única) pista que contorna a ilha. Um ônibus faz o trajeto circular nos horários dos ferries, para apanhar os passageiros, e volta a circular algumas horas antes de o próximo sair, pra levar embora quem for viajar.
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Eu tomando o ônibus, com as belas montanhas do centro de Moorea lá atrás.
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Mapa da ilha de Moorea. O cais do ferry fica à direita, no meio. O perímetro todo são 60Km.

Pegar o ônibus pra dar uma volta completa em Moorea é algo que eu recomendo. As paisagens desta ilha são estonteantes (eu mostro já). O mais bonito, no entanto, são aquelas duas baías que você vê na parte de cima do mapa: a Baía de Cook e a Baía de Opunohu. Eu aconteci de me hospedar bem entre ambas.

Ou de me “hospedar mal entre ambas”, melhor dizendo. Afora a localização, a pensão (“Motu iti“) era um desastre. Manejada por um casal coroa de chineses radicados aqui na Polinésia, não havia a menor simpatia e a empregada, taitiana, era louca. Daquelas senhoras que falam com os olhos esbugalhados, acostumadas a tomar sermão dos patrões e que reclamam sussurrando. (Ela própria estava longe de ser simpática.)

A estalagem dos mochileiros era num sótão aberto ao sabor dos mosquitos. Nas mesas da grande varanda onde funcionava o restaurante vazio da pensão, se você não fosse pedir refeição, eles o convidavam a se retirar ainda que houvesse dezenas de mesas desocupadas. E talvez sair fosse mesmo o melhor negócio, pois tocavam ad nauseam da mesma música do cancioneiro francês dos anos 60 no repeat. Vai ver é por isso que são todos doidos aqui. 

Quando não compram café da manhã, ele às vezes indica ao cliente uma mercearia longe lá do outro lado, a 1h daqui“, contou-me ela com aquele ar de quem conta a lenda de um lobisomem. Eu havia lhe perguntando pela mercearia mais próxima, já que os preços da própria pensão eram absurdos, e ela havia me indicado uma a 2 Km dali. Revelaria-se mesmo a mais próxima. Ficar em ambientes pouco urbanos tem dessas desvantagens.

Contudo, há vantagens também. As minhas andanças pela beira da pista contornando o mar nas baías rendiam-me vistas deliciosas.

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A pista que circunda a ilha de Moorea é assim.
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A beira-mar sempre está logo ali. Não há praias por todas as partes; na verdade, elas são raras; o mais habitual são beiradas assim onde o mar se encontra com as árvores. É lindo.
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Coqueiros nas margens do mar em Moorea.
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O que eles às vezes chamam de praia, a gente no Brasil não concordaria muito. Mas pouco me importava: praias eu acho fácil no Brasil, o que eu queria era mesmo as paisagens diferentes aqui da Polinésia.
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A estrada, com coqueiros e as montanhas ao fundo.
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O sol reluzindo na água do mar em Moorea. Parece mágico.
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A luz do sol poente sobre o mar em Moorea.
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O pôr-do-sol de Moorea.

Numa dessas, avistei e fui jantar num pequenino restaurante caseiro de uma imigrante francesa, Laurence [Lô-RÃNS]. Segundo ela, veio de férias num verão com o marido e eles nunca mais voltaram. Ela havia conhecido, inclusive, a brasileira Família Schurmann, de velejadores que têm até documentários exibidos na televisão.

Ela me contou que sonhava em visitar o Brasil um dia, enquanto me servia um arroz com camarões no leite de coco e, depois, um doce de abacaxi flambado com essência de tiaré (Gardenia taitensis), uma flor nativa símbolo aqui do país. (Eu a mostro a seguir.)

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O meu abacaxi flambado com calda e essência de tiaré. Aquele gostinho de essência de flor mesclado ao doce. O nome deste lugar é Lilikoi Garden Café, #ficaadica.
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Esta foto, sem nada, é a maravilhosa vista que eu tive ao voltar para casa pela beira da pista depois do jantar. Mal havia um único fóton que me iluminasse o caminho.

Não há iluminação pública em Moorea, eu percebi, exceto em bem poucos lugares. Nem a lua apareceu, então eu precisei refazer o caminho inteiro só com a luz do celular ou dos faróis dos ocasionais carros que passavam.

Por sorte, não era tarde e o chinês não me trancou no lado de fora.

No dia seguinte, eu visitaria o Jardim Tropical, um simpático lugar com flores, restaurante e lojinha na Baía de Opunohu, uma daquelas duas que mostrei acima no mapa. Muito indicado! 

Como da outra vez, eu caminhei quilômetros na beira da pista até a tardinha. (Desta vez, tratei de retornar antes do pôr-do-sol, e decidi vê-lo da pensão, o que não foi má escolha.)

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Taitiana na beira do mar.
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A Baía de Opunohu. Suas praias escuras e vegetadas lembram mais alguma história de náufrago que as praias paradisíacas mostradas pelas agências de viagem. Seja como for, a vista é linda com as montanhas pontudas do centro de Moorea ao fundo.
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Com as águas da Baía de Opunohu atrás.
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Para chegar ao Jardim Tropical, você toma uma entrada de terra e sobe. (Há uma placa indicando; não se preocupe.) A vista lá de cima é assim.
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A costa de Moorea.
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Esta é a tiare (Gardenia taitensis), flor nacional do Taiti.
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A agradável lojinha do Jardim Tropical, com sua seleção de geleias para degustar.
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Cada uma melhor que a outra. Seus sabores incluíam manga, abacaxi, mamão, berinjela e pimenta.
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À de manga eu não resisti, e comprei.
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Depois, eu voltei aqui para o almoço. No copo, um encorpado suco de abacaxi. No prato, alguns itens que eu já havia mostrado quando fui ao mercado de Papeete no Taiti: pãozinho de coco aqui do lado direito; peixe cru com pepinos no tempero; raízes; folhas de taro cozidas no leite de coco temperado; peixe cozido com molho por cima; e ali à esquerda (parecendo carne crua), po’e, aquele doce que já mostrei antes de goma de fruta com leite de coco. (Sim, os polinésios amam leite de coco, e aqui o preparam maestralmente, ralado e espremido à mão, fresco, do jeito que poucos hoje no Ocidente ainda se dispõem a fazer.)
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O cair da tarde com alguns outros hóspedes na pensão usando os caiaques.
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Pôr do sol no céu de Moorea, visto da pensão.

O meu terceiro dia seria o final em Moorea. Eu andaria mais uns 12 Km hoje na beira da pista, sem acostamento, sentindo o vento dos carros passando por mim, mas confesso que a esta altura já estava um pouco cansado. O Pacífico já era meu irmão. Depois de mais de um mês aqui nesta região do mundo, eu já estava habituado a ter o oceano ali perto diariamente. Começava a me bater um espírito de “já deu”.

Como era um domingo, a maior parte dos lugares (incluso o supermercado a alguns quilômetros dali) estavam fechados, e sobrava-me apenas a mercearia a 2 Km, que abria apenas de manhã e depois novamente no fim da tarde. Achei inconveniente o bastante ter que andar tanto para obter uma mera garrafa d’água ou um biscoito, mas aí fiquei a imaginar as tantas famílias africanas que precisam andar tão mais do que isso pra conseguir água ou lenha todos os dias. 

Cheguei lá, aquele aspecto de mercadinho pequeno de bairro com apenas itens essenciais e uma senhora sentada ocupada pondo algo em embalagens. Eu mirei um sanduíche de pão de forma e perguntei o que tinha dentro.

— “É um croque monsieur“, respondeu a rápida e prática a senhora detrás do balcão, a televisão suspensa no teto à sua frente. Ela volta e meia mirava a tela pra ver o que passava.
— “E tem o que dentro?“, continuei. 
— “Você não conhece o croque monsieur?“, me perguntou ela olhando por cima dos óculos e com ar de professora que vai reclamar com o aluno.
— “Eu não sou francês“, defendi-me mantendo o ar de tranquilidade.
— “Mesmo nos Estados Unidos eles têm croque monsieur.
— “Eu não sou dos Estados Unidos também não. Sou brasileiro.
— “Lá não tem croque monsieur?”, perguntou ela com uma pequena dose de surpresa, resignando-se. 
— “Pelo menos não com esse nome. O que tem dentro?
— “É o pão de forma com queijo e presunto dentro, na chapa.

Eis o célebre misto quente, que pelo visto entre os franceses recebe esse pomposo nome de croque monsieur.

De repente, a senhora taitiana se transformou e virou minha amiga. “É verdade. Antes aqui também não tinha essas coisas não. Os franceses, e depois os americanos, que trouxeram.”, disse ela já num outro tom. Como tudo é em francês e aqui estamos, oficialmente, na França, o idioma taitiano não era ensinado nas escolas até pouco mais de 10 anos atrás, segundo ela. Agora é que a cultura taitiana começa a experimentar uma renascença.

Essa senhora via sempre a sua novela, três vezes ao dia. Conhecia muitas brasileiras, trazidas pra cá, e gostava especialmente de Flor do Caribe

Eu, agora munido de comida e água, fui depositar as coisas de volta na pensão e depois ver a Baía de Cook, do outro lado.

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A pista com o rugoso (e lindo) relevo de Moorea no horizonte.
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A Baía de Cook, que recebe o nome do capitão inglês James Cook, um dos primeiros europeus a navegar por estas ilhas, nos idos de 1769.
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A vista da Baía de Cook. Devido às barreiras de corais, as águas aqui são sempre tranquilas, e com muita vegetação bem próxima à água.
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A Igreja de São José. Por influência dos franceses, quase todos na Polinésia Francesa hoje são católicos.
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Eu buscava um almoço de domingo que complementasse os meus lanches, e acabei aqui achando uma barraca.
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Enquanto uma moça segurava o telefone, a outra me preparava um sanduíche com queijo roquefort. (Vocês acham que os brasileiros são os únicos a fazer antropofagia cultural? Pois os taitianos também fazem. Fizeram-me aqui um delicioso sanduíche, daqueles de rua, de trailers — que são mais gostosos — com queijo azul que francês nenhum faria.)

Eu tenho a expectativa de que um dia, no futuro, quando o Brasil já tiver se entendido melhor com o restante da América Latina e estendido também um braço à África, encontrará um outro braço para perceber o quanto há de semelhanças também com os polinésios — cá no Pacífico, “atrás” do nosso continente, onde os mapas planos não nos permitem perceber que eles não estão tão longe assim. 

Geneticamente, já se sabe que os polinésios são os ancestrais de muitos dos indígenas sul-americanos. Culturalmente, basta vir aqui e você constata as semelhanças.

Era hora, contudo, de despedir-me da linda Polinésia Francesa. Não achei que fosse gostar tanto daqui, esse remoto destino tão próximo de nós, mas gostei. Amei. 

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

2 thoughts on “Moorea, Polinésia Francesa: Paisagens, mar, e lugares interessantes

  1. Meu jovem, eu estou sem palavras para descrever os sentimentos que essa bela região me evoca!… Concordo com o senhor. Amei!… fiquei deslumbrada com a natureza!….
    Difícil de descrever tamanha beleza, tamanha pujança da natureza com seus belos tons de verde e azul, suas belas costas cheias de vegetação de impressionantes tons, suas águas mansas e de um colorido fantástico, seus bancos de corais, Belíssima. Estes ocasos são divinos nas suas multicoloridas nuances. Curiosas e diferentes essas elevações e sua linda cobertura vegetal de um verde sumo incrível. As folhas amadurecidas e coloridas, com o fundo verde das montanhas, o azul do céu e as magnificas cores das águas, formam um painel digno de grandes pintores. E o Gauguin descobriu isso. Lindas paragens, belíssimo lugar que parece tao remoto e pelo visto nem tanto.
    As geleias parecem saborosas, e a gardênia é mimosa. O povo parece simpático.
    Gostei da lojinha, das lembrancinhas e dos coloridos. Tons fortes e alegres.
    Coitado do senhor com essas andanças terríveis. Gosto pouco delas haha.
    Lindas fotos, gostosa postagem, linda e pouco explorada região. A natureza dá o tom ai. Muito boa viagem, meu jovem. Parabéns pela postagem, pelas fotos informações e escolha.

  2. Adorei a narrativa, até porque confirmou como o Tahiti, Boa-Bora, etc, eram . Era meu sonho ir lá um dia, pelas descrições feitas nas revistas francesas – Tahiti é descrito como a ilha dos artistas. Na altura, ainda pequena não sabia bem a que artistas se referiam, só depois soube que Gougain viveu lá.
    A sua descrição foi muito boa, mas já tinha percebido no filme feito sobre a vida de Gaugain que os postais promocionais vendiam uma imagem diferente da realidade. Percebi que a imponencia das montanhas cobertas por uma abafada vegetação quase virginal, se sobrepunha a uma paisagem no sopé, bem diferente que existe em uma pequena parte monopolisada pelos hoteis de 5 estrelas.
    Sua descrição foi tão espetacular, apoiada com fotos excelentes, que senti que esse não é já o meu sonho.
    Obrigada.

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