(Este é um post com muitas fotos.)
Moorea é uma das ilhas mais fotogênicas da Polinésia Francesa. Ela é também a única aonde é possível ir de ferry desde o Tahiti — fica a apenas 1h de viagem.
Antes que eu deixe para depois e esqueça, os horários e preços você encontra aqui, na página oficial dos ferries Aremiti, mas não há nenhuma necessidade de reservar antecipadamente. Basta aparecer 1h antes na Estação de Ferries e comprar a sua passagem para uma viagem tranquila e confortável.
Eu havia chegado de volta a Pape’ete desde Bora Bora no dia anterior, retornei para dormir na pousada onde havia deixado a minha bagagem principal, e foi só o tempo de ter uma boa noite de sono, trocar as roupas sujas por roupas limpas, e retornar à cidade para rodar, almoçar no mercado, e tomar o meu ferry para Moorea à tarde.
Vistas espetaculares me aguardavam. Mas, antes disso, acompanhem os meus passos nas fotos abaixo.










Como era um julho, inverno do hemisfério sul, o clima na Polinésia Francesa estava um calor ameno, daquele bom de você tomar sol. (No verão, contemporâneo ao do Brasil, o tempo aqui é de chuvas fortes e grande calor úmido. Já sabe que época vir.)
Chegávamos a Moorea 1h depois de darmos partida. Você ao longe já enxerga a ilha a olho nu.
Se Taiti já é pouco urbanizada, Moorea o é ainda menos.



Pegar o ônibus pra dar uma volta completa em Moorea é algo que eu recomendo. As paisagens desta ilha são estonteantes (eu mostro já). O mais bonito, no entanto, são aquelas duas baías que você vê na parte de cima do mapa: a Baía de Cook e a Baía de Opunohu. Eu aconteci de me hospedar bem entre ambas.
Ou de me “hospedar mal entre ambas”, melhor dizendo. Afora a localização, a pensão (“Motu iti“) era um desastre. Manejada por um casal coroa de chineses radicados aqui na Polinésia, não havia a menor simpatia e a empregada, taitiana, era louca. Daquelas senhoras que falam com os olhos esbugalhados, acostumadas a tomar sermão dos patrões e que reclamam sussurrando. (Ela própria estava longe de ser simpática.)
A estalagem dos mochileiros era num sótão aberto ao sabor dos mosquitos. Nas mesas da grande varanda onde funcionava o restaurante vazio da pensão, se você não fosse pedir refeição, eles o convidavam a se retirar ainda que houvesse dezenas de mesas desocupadas. E talvez sair fosse mesmo o melhor negócio, pois tocavam ad nauseam da mesma música do cancioneiro francês dos anos 60 no repeat. Vai ver é por isso que são todos doidos aqui.
“Quando não compram café da manhã, ele às vezes indica ao cliente uma mercearia longe lá do outro lado, a 1h daqui“, contou-me ela com aquele ar de quem conta a lenda de um lobisomem. Eu havia lhe perguntando pela mercearia mais próxima, já que os preços da própria pensão eram absurdos, e ela havia me indicado uma a 2 Km dali. Revelaria-se mesmo a mais próxima. Ficar em ambientes pouco urbanos tem dessas desvantagens.
Contudo, há vantagens também. As minhas andanças pela beira da pista contornando o mar nas baías rendiam-me vistas deliciosas.








Numa dessas, avistei e fui jantar num pequenino restaurante caseiro de uma imigrante francesa, Laurence [Lô-RÃNS]. Segundo ela, veio de férias num verão com o marido e eles nunca mais voltaram. Ela havia conhecido, inclusive, a brasileira Família Schurmann, de velejadores que têm até documentários exibidos na televisão.
Ela me contou que sonhava em visitar o Brasil um dia, enquanto me servia um arroz com camarões no leite de coco e, depois, um doce de abacaxi flambado com essência de tiaré (Gardenia taitensis), uma flor nativa símbolo aqui do país. (Eu a mostro a seguir.)


Não há iluminação pública em Moorea, eu percebi, exceto em bem poucos lugares. Nem a lua apareceu, então eu precisei refazer o caminho inteiro só com a luz do celular ou dos faróis dos ocasionais carros que passavam.
Por sorte, não era tarde e o chinês não me trancou no lado de fora.
No dia seguinte, eu visitaria o Jardim Tropical, um simpático lugar com flores, restaurante e lojinha na Baía de Opunohu, uma daquelas duas que mostrei acima no mapa. Muito indicado!
Como da outra vez, eu caminhei quilômetros na beira da pista até a tardinha. (Desta vez, tratei de retornar antes do pôr-do-sol, e decidi vê-lo da pensão, o que não foi má escolha.)












O meu terceiro dia seria o final em Moorea. Eu andaria mais uns 12 Km hoje na beira da pista, sem acostamento, sentindo o vento dos carros passando por mim, mas confesso que a esta altura já estava um pouco cansado. O Pacífico já era meu irmão. Depois de mais de um mês aqui nesta região do mundo, eu já estava habituado a ter o oceano ali perto diariamente. Começava a me bater um espírito de “já deu”.
Como era um domingo, a maior parte dos lugares (incluso o supermercado a alguns quilômetros dali) estavam fechados, e sobrava-me apenas a mercearia a 2 Km, que abria apenas de manhã e depois novamente no fim da tarde. Achei inconveniente o bastante ter que andar tanto para obter uma mera garrafa d’água ou um biscoito, mas aí fiquei a imaginar as tantas famílias africanas que precisam andar tão mais do que isso pra conseguir água ou lenha todos os dias.
Cheguei lá, aquele aspecto de mercadinho pequeno de bairro com apenas itens essenciais e uma senhora sentada ocupada pondo algo em embalagens. Eu mirei um sanduíche de pão de forma e perguntei o que tinha dentro.
— “É um croque monsieur“, respondeu a rápida e prática a senhora detrás do balcão, a televisão suspensa no teto à sua frente. Ela volta e meia mirava a tela pra ver o que passava.
— “E tem o que dentro?“, continuei.
— “Você não conhece o croque monsieur?“, me perguntou ela olhando por cima dos óculos e com ar de professora que vai reclamar com o aluno.
— “Eu não sou francês“, defendi-me mantendo o ar de tranquilidade.
— “Mesmo nos Estados Unidos eles têm croque monsieur.“
— “Eu não sou dos Estados Unidos também não. Sou brasileiro.“
— “Lá não tem croque monsieur?”, perguntou ela com uma pequena dose de surpresa, resignando-se.
— “Pelo menos não com esse nome. O que tem dentro?”
— “É o pão de forma com queijo e presunto dentro, na chapa.”
Eis o célebre misto quente, que pelo visto entre os franceses recebe esse pomposo nome de croque monsieur.
De repente, a senhora taitiana se transformou e virou minha amiga. “É verdade. Antes aqui também não tinha essas coisas não. Os franceses, e depois os americanos, que trouxeram.”, disse ela já num outro tom. Como tudo é em francês e aqui estamos, oficialmente, na França, o idioma taitiano não era ensinado nas escolas até pouco mais de 10 anos atrás, segundo ela. Agora é que a cultura taitiana começa a experimentar uma renascença.
Essa senhora via sempre a sua novela, três vezes ao dia. Conhecia muitas brasileiras, trazidas pra cá, e gostava especialmente de Flor do Caribe.
Eu, agora munido de comida e água, fui depositar as coisas de volta na pensão e depois ver a Baía de Cook, do outro lado.






Eu tenho a expectativa de que um dia, no futuro, quando o Brasil já tiver se entendido melhor com o restante da América Latina e estendido também um braço à África, encontrará um outro braço para perceber o quanto há de semelhanças também com os polinésios — cá no Pacífico, “atrás” do nosso continente, onde os mapas planos não nos permitem perceber que eles não estão tão longe assim.
Geneticamente, já se sabe que os polinésios são os ancestrais de muitos dos indígenas sul-americanos. Culturalmente, basta vir aqui e você constata as semelhanças.
Era hora, contudo, de despedir-me da linda Polinésia Francesa. Não achei que fosse gostar tanto daqui, esse remoto destino tão próximo de nós, mas gostei. Amei.
Meu jovem, eu estou sem palavras para descrever os sentimentos que essa bela região me evoca!… Concordo com o senhor. Amei!… fiquei deslumbrada com a natureza!….
Difícil de descrever tamanha beleza, tamanha pujança da natureza com seus belos tons de verde e azul, suas belas costas cheias de vegetação de impressionantes tons, suas águas mansas e de um colorido fantástico, seus bancos de corais, Belíssima. Estes ocasos são divinos nas suas multicoloridas nuances. Curiosas e diferentes essas elevações e sua linda cobertura vegetal de um verde sumo incrível. As folhas amadurecidas e coloridas, com o fundo verde das montanhas, o azul do céu e as magnificas cores das águas, formam um painel digno de grandes pintores. E o Gauguin descobriu isso. Lindas paragens, belíssimo lugar que parece tao remoto e pelo visto nem tanto.
As geleias parecem saborosas, e a gardênia é mimosa. O povo parece simpático.
Gostei da lojinha, das lembrancinhas e dos coloridos. Tons fortes e alegres.
Coitado do senhor com essas andanças terríveis. Gosto pouco delas haha.
Lindas fotos, gostosa postagem, linda e pouco explorada região. A natureza dá o tom ai. Muito boa viagem, meu jovem. Parabéns pela postagem, pelas fotos informações e escolha.
Adorei a narrativa, até porque confirmou como o Tahiti, Boa-Bora, etc, eram . Era meu sonho ir lá um dia, pelas descrições feitas nas revistas francesas – Tahiti é descrito como a ilha dos artistas. Na altura, ainda pequena não sabia bem a que artistas se referiam, só depois soube que Gougain viveu lá.
A sua descrição foi muito boa, mas já tinha percebido no filme feito sobre a vida de Gaugain que os postais promocionais vendiam uma imagem diferente da realidade. Percebi que a imponencia das montanhas cobertas por uma abafada vegetação quase virginal, se sobrepunha a uma paisagem no sopé, bem diferente que existe em uma pequena parte monopolisada pelos hoteis de 5 estrelas.
Sua descrição foi tão espetacular, apoiada com fotos excelentes, que senti que esse não é já o meu sonho.
Obrigada.