Estamos no norte da Hungria, não muito distantes de Budapeste, a capital húngara. Perto daqui, o famoso Rio Danúbio é a fronteira entre Hungria e Eslováquia, na Europa Central. Estamos no coração do velho continente.
Aqui fica Visegrad (Visegrád com acento em húngaro), um sítio histórico e belo muito pouco visitado por turistas que não são da região — a maioria nem sabe que esse lugar existe. Mas existe. Aqui fica o que foi um castelo medieval do século XIV, e uma simpática cidadezinha homônima onde é possível ver algo da arquitetura centro-europeia em seus tons pasteis e algo da distinta culinária húngara.

Estamos a 1h de viagem de Budapeste, que eu fiz com um casal de amigos húngaros. Era fim de semana, e tomamos um mofo inominável nessa fila que você vê aí. Todos os húngaros e eslovacos pareceram ter tido a mesma ideia de vir aqui. (Confesso que viemos de carro, e o trajeto de transporte público não me parece muito fácil.)
Acompanhados de sorvete, nós tomamos um tempo aquele sol de primavera que, aqui na Hungria, já parecia de verão. O país, como toda esta região da Europa, tem um clima bem continental, de verões quentes e invernos frios. Vai de -10 a 40ºC.
Breve estaríamos atravessando os portões por entre as muralhas de pedra e subindo até o alto para de lá ter uma magnífica vista.

O castelo é mesmo alto e não é à toa. À época de sua edificação, os mongóis de Gêngis Khan haviam acabado de varrer todo o Oriente Médio e leste da Europa (sim, eles chegaram até aqui). Eles chegaram a ficar um tempo na Hungria, mas foram embora. O Rei Béla IV, que perdeu a batalha em 1241, deu no pé e fugiu para a vizinha Croácia. Os mongóis o perseguiram até a cidade de Trogir na costa do Mar Adriático, mas não pegaram o rei. Quando os mongóis foram embora em 1242, Béla voltou.
Ele ainda reinaria até 1270. Todo mundo se fortificou achando que os mongóis voltariam, mas eles nunca voltaram.
Em 1325, Visegrad se tornaria a morada real da Hungria sob Carlos I, trineto do já finado Rei Béla. Foi então que essa cidadezinha nas colinas, já registrada desde o ano 1009, ganharia estatura. Construiu-se o castelo bem às margens do importante Rio Danúbio, por onde se dava muito do comércio regional.
Mais importante que tudo o mais foi o encontro realizado aqui em 1335 entre o rei húngaro Carlos I, o rei polonês Casimir III, e o rei da Boêmia (que é a região da hoje República Checa onde fica a capital Praga) para se juntarem numa estratégia contra a ameaça dos Habsburgo da Áustria. Hoje, século XXI, quem acompanha a política da União Europeia sabe que Hungria, Polônia, República Checa e Eslováquia têm uma aliança exatamente chamada de Grupo Visegrad, com o propósito de fazer frente unida às pressões da Europa Ocidental dentro da União. São as voltas que a História dá.


No século XV, o Rei Matthias Corvinus transferiria a capital para Buda — que viria a compor Budapeste tempos mais tarde —, mas manteria Visegrad como sua residência de verão.

O Rio Danúbio, que passa tanto por Viena na Áustria quanto pela capital húngara Budapeste, nasce no sul da Alemanha e só vai desembocar na Romênia. Vê-lo aqui cercado de verde é um espetáculo, ele que foi uma das marcantes fronteiras do Império Romano durante a Antiguidade.


Era começo da tarde quando a fome nos pôs para fora. Você passar um par de horas visitando o castelo, apreciando o lugar, a vista, e é o suficiente. Daqui, seguiríamos para a cidadezinha que fica lá na base, à margem do rio, onde há simpático casario e comidas a experimentar.
Visegrad (a cidade) não chega a ser tão mimosa como Szentendre, mais próxima de Budapeste, mas tem o seu charme. É lugar onde se almoçar e fazer uma caminhada depois. Foi o que nós fizemos.


Quando nos detivemos para almoçar, foi num restaurante com mesas de madeira ao lado de fora, tão típicas da Europa Central quanto os tons pasteis acima.
A culinária húngara, no entanto, a distingue dos seus vizinhos. Como já cheguei a comentar antes, temos aqui uma gastronomia bem mais interessante do que as meras carnes com batata da Áustria, da Alemanha, e dos países eslavos daqui. Os húngaros gostam de tempero.
Pedi uma pontyhalászlé (a língua húngara também não tem nada a ver com as dos vizinhos), uma condimentada sopa de peixe da região. Os húngaros adoram sopa, e tudo aqui é servido sempre acompanhado de creme de leite e pimenta.

Eu ia pedir mais um prato após a sopa, mas caí no pecado da gula. Cometi o equívoco de pedir um litro de limonada, pois a sede estava grande e as limonadas húngaras são uma delícia. (Exagero de líquido conta como gula, especialistas em pecados capitais? Seja como for, pecado mesmo é não experimentar das limonadas aqui na Hungria. Só não exagerem como eu.)

Eu bebi a limonada quase toda. E ali ainda demos algumas voltas, até a hora de retornar a Budapeste. Deixo vocês com mais algumas fotos da simpática Visegrad.


Ih que cidade bonitinha, Fofa. Esses tons pastéis são lindos e suaves. Ótimo resgate histórico, como sempre, e muito bonito o castelo. A visão do histórico e magnifico Danúbio serpenteando entre a bela e verde vegetação é mesmo um espetáculo. lindo o rio.
Muito interessante saber da existência de um grupo unindo esses países. E mais uma vez Vico, filosofo/sociólogo italiano do sec. XIX, com a razão quando afirma que a vida a História, a sociedade não operam em linha reta e sim há o que ele chama de ” corsi e ricorsi” um vai e vem, com varias voltas. Muito interessante constatar isso hoje.
Adorei o portal com vista para o Danubio. Lindo, digno de constar numa galeria de belas paisagens.