Após revistar a Turquia, chegava a vez da Grécia. Lá estava eu mais uma vez entre as oliveiras e as antiquíssimas pedras na Acrópole de Atenas.
Os anos haviam se passado desde que eu estive aqui, e você percebe por toda parte o acúmulo de efeitos nocivos da crise financeira. Redução de 25% no tamanho da economia, desemprego de mais 50% entre os jovens, e “medidas de austeridade” que, na prática, deixaram os grandes bancos muito bem, obrigado, mas retalharam as aposentadorias do cidadão médio e os serviços públicos de que muitos dependiam. De quebra, um drama de imigração que assalta a Grécia aqui na linha de frente dos que vêm à Europa escapando de realidades ainda mais dramáticas.
O quadro em Syntagma, praça-coração do centro de Atenas, é ainda pouco promissor. A maioria dos negócios fechados ou com pouco movimento, e o turismo parece subsistir como único setor ainda com sinais de vitalidade na Grécia. Cá estava eu para contribuir com ele.

“Mas o coração de Atenas não seria a Acrópole?“, você talvez esteja me perguntando. O coração histórico, turístico, e de sentimento nacional, sim. O político, econômico, e inclusive social de hoje em dia, não.
O centro moderno de Atenas é um conjunto de bairros movimentados ao redor da colina da Acrópole, como Plaka [os gregos dizem “Plaká”] e Monastiraki. O sítio histórico lá no alto tem diversas entradas — você pode subir a colina por várias partes, e há várias bilheterias acessíveis — , mas é nos arredores, lá embaixo, que está o bafafá. Essa parte segue movimentada, embora hoje já não haja tanta música ao vivo quanto antes, e hoje você já veja pobreza e malandragem de rua em nível que parece ter se aproximado um pouco da América Latina.


Mas vamos ao que interessa. Não há quem venha fazer turismo em Atenas e queira sair daqui sem ver a Acrópole, a histórica colina da cidade que aí está desde antes dos tempos de Sócrates e Platão. Lá no alto está o Parthenon, antigo templo à deusa clássica Atena completado em 438 a.C. e dedicado pelos atenienses à sua deusa protetora pela vitória sobre os persas.
Embora parcialmente destruído, muito do antigo templo continua de pé.

Há um Museu da Acrópole, próximo à base da colina, e que eu recomendo visitar antes de subir ao topo pra ver o Parthenon de Atena. Há quem prefira ver antes, há quem prefira ver depois, mas eu recomendo ver antes porque aí você subirá e verá as ruínas remanescentes na Acrópole já tendo o conhecimento prévio sobre tudo o que rolou ali e a significação dos lugares.





Segundo a mitologia grega, num passado remoto as divindades conhecidas como Moiras previram que a região onde fica Atenas (a Ática) seria a mais próspera e poderosa de toda a Grécia. Então Atena, deusa filha de Zeus e que já nasceu armada para a batalha, definiu que seria a patrona dessa região. Poseidon, seu tio, deus dos mares e irmão de Zeus, contestou, já que Atenas fica quase à beira-mar.
Ambos os deuses teriam descido então à Acrópole, centro do povoado, e cada um deles ofertado um presente ao povo que aqui vivia. Poseidon presenteou-lhes com um belo cavalo de batalha, enquanto Atena lhes ofereceu uma oliveira. Um ancião então julgou que o cavalo poderia ajudar a trazer os frutos da guerra, e que esses poderiam ser grandiosos, mas que a oliveira era segurança, paz e serenidade, e que isso era superior e mais estável que os ventos da guerra. Assim, a cidade teria vindo a se chamar Atenas, em homenagem à deusa vencedora, sua nova patrona.
(Numa outra versão do mito, Poseidon abre a terra com seu tridente e faz jorrarem canais de água, que permitiriam aos moradores navegar e fazer comércio — mas a água era marinha e salgada, e portanto não servia para sustentar a população, ao contrário da oliveira.)
A cidade, de fato, conheceria séculos de prosperidade e domínio no mundo grego antigo. Após vitória sobre os persas no século V a.C., um antigo templo de Atena foi substituído pelo artístico Parthenon em 438 a.C.. Parthenos foi um dos muitos epítetos dados à deusa Atena, em referência à sua perene virgindade. (Pallas, outro desses epítetos, referia-se a ela ser uma mulher jovem.)
Após aquela “idade de ouro” dos grandes filósofos, astrônomos e matemáticos, Atenas seria subjugada em 338 a.C. por Filipe II, pai de Alexandre da Macedônia. Em 146 a.C., a própria Macedônia seria derrotada e se tornaria uma província romana, breve a ser seguida por todo o restante do mundo grego. Atenas, no entanto, continuou respeitada como uma magnífica cidade clássica, de grandes escolas como a Academia de Platão.
Somente após a adoção do cristianismo como única religião oficial do Império Romano é que a intolerância ganhou corpo. Em 529 d.C., o imperador Justiniano ordenou que a Academia de Platão fosse fechada (após mais de 800 anos em funcionamento). Nos idos de 590 d.C., o grande Parthenon de Atenas no alto da Acrópole seria convertido em igreja à Virgem Maria. Os gregos bizantinos da época acharam adequado, já que Maria também era caracterizada por sua virgindade, sendo chamada de Parthenos Maria.
Daí Atenas cairia num longo tempo de abandono, tornando-se praticamente irrelevante. Quando os turcos otomanos conquistam toda esta região e entram em Atenas em 1458, logo convertem a igreja cristã (o antigo Parthenon) em mesquita islâmica. Anos depois, em 1687, numa guerra com os venezianos, alguém teve a ideia de usar essa estrutura no alto da colina como depósito de munições. Foi um canhão veneziano o responsável por destruir a parte hoje demolida do Parthenon de Atenas.
Sua visita, apesar disso, continua simbólica e impressionante.






Mas se você reparar bem, daqui da Acrópole você nota um ponto ainda mais alto que ela na cidade. Eu da primeira vez que vim a Atenas fiquei intrigado, a me perguntar o que seria aquilo. Na ocasião, minha amiga Chrystallenia me esclareceu que ali era uma igreja de São Jorge. Eu desta vez voltei a Atenas determinado a conferi-la. O fato de que era Dia de São Jorge, 23 de abril, ajudou.
Aquele é o Monte Lycabettus, que — ao contrário da Acrópole, onde subir a pé é a única forma — você sobe num funicular (cable car). São 277m, quase o dobro da altura da Acrópole. Lycabettus não se tornou a própria acrópole de Atenas pela simples razão de que, naquele tempo, ficava fora dos limites da cidade. Hoje, você de lá tem as melhores vistas possíveis.
Mas não se engane achando que não precisará usar as pernas: a estação baixa do funicular fica já numa parte alta da cidade. Há uns degraus a subir, mas você pode tomar o ônibus n.60 para cortar parte do caminho.
Confira as vistas e veja se não vale a pena.






Era bom estar de volta a Atenas. Acabei-me em iogurte grego, o original, e me dirigi ao porto de Pireus para continuar este meu reencontro com a Grécia.
Ahh!…. que maravilha!… parece um sonho sentir de perto essa histórica e bela região!…. Sempre linda a Grécia!… Cada pedra, cada ruína uma história!…Magnifica!… Emocionante ver Atenas, a Acrópole, o Parthenon e essa linda igrejinha do Grande Jorge, da Kappadocia!… Um presente, meu jovem amigo, para quem como sua amiga aqui ama a Grecia e o seu legado cultural, histórico e eterno. Linda região.
E que bom ver a Grécia moderna com sua bela praça a Syntagma. Bela. Gostei de ver. Astral bom da cidade. Clara e bonita. Amei o idioma.
Lamentável a situação econômica que o capitalismo desenfreado traz para tão bela e histórica região. A Grécia é um Patrimônio da Humanidade e deveria estar preservada e o seu povo protegido. Difícil é enfiar isso na cabeça de quem só quer poder e dinheiro, mesmo que às custas do sofrimento de destruição de muitos. Pobre hominídio que nunca aprende a viver uns com os outros. Mas vamos que vamos, com a paciência histórica necessária.
Linda postagem. Obrigada viajante brasileiro. Ansiosa por mais belezas.