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Japão

Japão: Dicas de viagem, lugares para ver, e o que fazer

Recentemente recebi perguntas, e me dei conta de que embora eu tenha feito uma viagem longa pelo Japão, jamais publiquei as dicas e recomendações para viajar neste que é o país mais cotado e o mais caro da Ásia. 

O Japão é um país inigualável, desejo de consumo turístico de muitos brasileiros, mas não é aquela viagem casual, sem planejamento. Requer planos, entender as peculiaridades daqui e, se seu orçamento for limitado, saber como economizar.

Abaixo vão minhas impressões gerais, e a seguir algumas dicas a quem cogita vir conhecer o país.


  • O que mais gostou.  O surrealismo tecnológico. Aqui parece que você está no ano 2050, tanto pra bem quanto pra mal. Altíssima industrialização, caixa automático que fala com você em vários idiomas, falso cantar de passarinho na estação do metrô de manhã, máquinas de vender até banana, etc. É uma experiência diferente de qualquer outra. (Às vezes parece que você entrou num animê de ficção e que metade daquilo já é realidade.)
  • Visita obrigatória. Tóquio e seus contrastes. Do bairro tradicional de Asakusa às torres modernas de Shinjuku e as luzes noturnas de Shibuya. Times Square fica no chinelo. (Mais sobre isso abaixo.) 
  • O que não gostou. Os preços altos. O fato de quase ninguém falar nada além de japonês, ainda que este seja um país rico e com alto investimento em educação. A comida muito processada.
  • Queria ter visto mas não viu. Hokkaido, no norte. E o Monte Fuji mais de perto. 
  • Comida(s) a experimentar. Há muitas, mas o que você não pode deixar de experimentar de jeito nenhum é uma refeição num sushi bar autêntico japonês. Confira também o post Comidas estranhas no Japão.
  • Momento mais memorável da visita. Subir o Monte Kurama nos arredores de Kyoto, vazio no inverno. Passar sozinho pelos templos, e terminar com o banho nu num onsen, terma tradicional japonesa, com vista para a natureza nos arredores.
  • Alguma decepção. A minha ilusão de que os japoneses ainda tinham aquela alimentação tradicional saudável, à base de peixe e arroz. Hoje vai carne de porco em quase tudo, além de frituras e aditivos artificiais mil.
  • Maiores surpresas. A cultura de voluntarismo e presteza gratuita no Japão. Guias personalizados gratuitamente nos museus, e até voluntários dispostos a passar horas comigo me mostrando coisas em atrações turísticas. E não é aquela presteza norte-americana que espera uma gorjeta gorda no final, aqui é uma presteza genuína e sem segundos interesses. Fascinante. (Não se dá gorjeta no Japão.)

Principais dicas

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O Japão e suas cerejeiras cor-de-rosa.

Quando vir. O Japão pode ser visitado todo o ano — não há nenhuma estação do ano problemática demais —, mas a sensação varia bastante.

O inverno (dezembro a março) é a época mais quieta. Faz frio, mas coisa de 10-20 graus no centro do país. Há menos gente nos lugares, e os preços estão melhores. Foi quando eu vim, e achei tudo bem tranquilo — ainda que não houvesse o esplendor da primavera ou do outono.

A primavera (abril-junho) é a época mais concorrida, sobretudo a silver week (“semana de prata”, quando florescem as ameixeiras) e a golden week (“semana dourada”, quando as famosas cerejeiras estão em flor). A semana exata varia a cada ano, de acordo com as temperaturas, e os japoneses em geral as prevêem meses antes e anunciam pela internet. É a época mais concorrida, mais cara, mas possivelmente também a mais bonita e agradável de vir ao Japão (se você não se importa com a quantidade de gente).

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Ilha de Miyajima num fevereiro. Mesmo no inverno o Japão é tranquilo de visitar, especialmente o sul do país.

O verão no Japão é quente e úmido. Embora não seja um país tropical, o Japão está circundado de mar, e a umidade é nível Norte-Nordeste brasileiro. A partir de agosto, começa a temporada de tufões, então observe bem antes de vir. Não quer dizer que seja perigoso demais, mas é bom observar as notícias antes de viajar.

O outono (setembro-novembro) é a outra época, além da primavera, mais recomendada. Não há as flores, mas há a beleza das folhas ganhando cor na estação. Setembro e outubro ainda são finzinho da época de tufões, então quanto mais perto de novembro, mais seguro nesse sentido (embora você talvez perca o colorir das folhas nas regiões mais ao norte do país, onde o outono propriamente dito chega mais cedo).

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Visto. Brasileiros necessitam de visto para visitar o Japão, e eu pessoalmente achei este um visto chato de tirar, embora não seja difícil. O chato é porque — pelo menos para mim — exigiram que eu já informasse de antemão onde estaria em cada dia da minha viagem e fornecesse endereço e número de telefone da acomodação onde eu iria dormir em cada noite. Isso com meses de antecedência, quando fui solicitar o visto!

Achei uma solicitação descabida, ainda mais se sabendo que a grande maioria das pessoas fica à vontade para depois cancelar as reservas iniciais e fazer o que bem entender após obter o visto.

Este é o site oficial do Consulado Geral do Japão em São Paulo. Aí tem todas as informações atualizadas sobre custos e documentação solicitada. Cuidado internet afora com os muitos sites fraudulentos dizendo que processam o pagamento pra você e, na verdade, roubam seu dinheiro.

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Ienes japoneses. Os japoneses não utilizam centavos, por isso os números grandes. 1 dólar americano (USD) equivale a aproximadamente 111 ienes japoneses (JPY).

Dinheiro & Câmbio. Primeiro uma nota sobre dinheiro e câmbio aqui, antes de passar aos custos.

O Japão é uma sociedade bastante avançada em certas coisas, e bastante conservadora em outras. Na parte de dinheiro, parece ser um ramo onde a tecnologia não avançou. 

Quase não se usa nem se aceita cartão de crédito no Japão. As máquinas na estações de trem, sim. Mas nas transações comerciais do dia-dia, espere pagar TUDO em dinheiro vivo. Às vezes, mesmo em acomodações, quando se aceitam cartões de crédito se impõe uma sobretaxa de 3-5%. A mesma sobretaxa existe se você quiser sacar dinheiro com seu cartão internacional.

Então venha abonado de dólares americanos ou euros, e converta logo um tanto em ienes japoneses para ter dinheiro em espécie consigo. Os bancos costumam ter cotações melhores que as casas de câmbio. No próprio Aeroporto de Narita, em Tóquio, eu troquei um bocado e achei as cotações competitivas com o que depois vi na cidade.

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Alimentação. O Japão é uma viagem cara. É o país mais caro da Ásia, e em muitos aspectos mais caro mesmo que a Europa. Comer na rua é talvez a única coisa que saia mais em conta que no continente europeu — sobretudo se você comprar lanches prontos nas milhares de lojas de conveniências que há por toda parte, como as 7-Eleven. É algo que os próprios japoneses fazem, e você frequentemente tem lugar onde sentar na loja, microondas pra esquentar o que for, etc.

Rolinhos de arroz com recheios variados podem sair por 2-3 dólares, e pratos inteiros pré-pontos saem por 5 dólares. Já em restaurantes, tudo varia de acordo com o nível de requinte do lugar. Nos mais simples, você come por menos de 10 dólares. Daí o preço sobe. (Nos sushi bars, cuidado pra não comer demais e terminar com uma conta astronômica no fim ;-).)

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Máquina-cardápio num restaurante japonês simples. Você escolhe, põe o dinheiro, e entrega a ficha ao japonês atrás do balcão que não fala nenhuma outra língua.

Café também, se você aceitar tomá-lo em lata (algumas já saem quentinhas da máquina!), sai barato, coisa de 2 dólares. Já se você quiser sentar e ser servido em estilo europeu, paga o triplo.

Os garçons e funcionários em geral não falam nada além de japonês em lugar nenhum, mas frequentemente há modelos de plástico mostrando como é cada prato. No mínimo, costuma haver fotos. No caso dos ramen bars (bares de sopa de macarrão), é um pouco mais difícil porque você precisa escolher numa máquina só em japonês, e apertar o botão para algo que você não sabe bem o que é. Mas é parte da experiência de estar no Japão.

A minha única crítica é que quaisquer alimentos frescos (frutas, verduras…) frequentemente custam o olho da cara. O jeito é encarar as comidas processadas e pré-prontas, se quiser economizar.

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Acomodação. O Japão tem acomodações de todos os custos, exceto as bem baratas. Uma cama em albergue sai facilmente por 30-50 dólares a noite, e daí a coisa sobe. Os hóteis cápsula (capsule hotels) são uma sensação pop aqui, mas não caia na besteira de achar que só porque são minúsculos eles são baratos. Uma noite numa cápsula sai por mais de 50 dólares — mais baratos que os grandes hotéis, claro, mas se sua perspectiva é economizar, os dormitórios de albergue saem bem mais em conta. Quartos de hotel em geral saem por mais de 100 dólares a noite em Tóquio.

Os ryokan, aquelas casas tradicionais japonesas de madeira e papel de arroz, onde se dorme no chão, são sempre um sonho de consumo de turistas, mas são caras. Normalmente estamos falando de 150-400 dólares por noite, a depender do nível de conforto e das amenidades que você deseje. Normalmente, há pacotes que já incluem as refeições. Você pode ver mais sobre os ryokans nestes sites (em inglês) aqui e aqui.

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O mapa do metrô de Tóquio. De início pode assustar, mas depois do primeiro dia você se habitua.

Transporte & Trens no Japão. O Japão tem uma magnífica rede de transporte coletivo, embora algo cara. Todas as grandes cidades têm metrôs que se misturam à rede de trens regionais, afora os trens-bala (shinkansen) que atuam entre uma cidade e outra em alta velocidade.

O metrô de Tóquio utiliza umas fichas magnéticas pequenas que só podem ser utilizadas naquela estação onde você as comprou. A menos que você compre um passe pra vários dias, o que só vale a pena se você for usam o metrô 3-4 ou mais vezes por dia. Uma passagem simples sai a 170 ienes, ou perto de 1,50 USD.

Já os trens são outro meio de transporte útil aqui, embora eu já não os veja como aquela coisa bambambam que se diz. Se me permitem a franqueza, acho que a ideia dos brasileiros sobre os trens japoneses ficou congelada nos anos 90, quando os trens em alta velocidade ainda eram novidade. Hoje eles já me cheiram a coisa semi-antiga. A Europa hoje (pra não falar na China) tem trens tão rápidos quanto, mais modernos e (bem) mais baratos.

Uma viagem de algumas horas entre Tóquio e Kyoto sai por uns 150 dólares num shinkansen. (Para efeito de comparação, uma viagem entre Berlim e Munique num ICE alemão cobre a mesma distância, na mesma velocidade, e pode sair a metade do preço.) Há vários tipos de shinkansen, sendo que aqueles que não fazem nenhuma parada intermediária (os nozomi) tendem a ser mais caros. Via de regra, não há necessidade de reservar com antecedência. Basta chegar na estação e comprar a passagem numa das máquinas — a menos que seja a “semana dourada” das flores de cerejeira ou alguma época do ano excepcionalmente movimentada.

Os turistas estrangeiros sempre têm a opção de adquirir (pela internet, antes de chegar ao país) um Japan Rail Pass. Há opções de passes para 7, 14 ou 21 dias consecutivos. Só vale a pena se você for usar muito os trens, porque a opção de 7 dias já sai por quase 300 dólares. No site oficial você encontra todos os detalhes e a lista de preços.

Minha recomendação? Se economizar é importante pra você, experimente o trem-bala uma vez e, no mais, use ônibus. Os ônibus japoneses são bem confortáveis, permitem você escolher assento quando compra as passagens online, e são muito mais baratos que os trens. Levam um pouco mais de tempo, mas também não é nada do outro mundo. Eu utilizei a Willer Express, que tem site em inglês, e achei tudo muito tranquilo.

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Aonde ir? Lugares para conhecer. O Japão é um país vasto, ainda que não seja imenso. Cobri-lo de ponta a ponta seria uma tarefa para alguns meses, mas se você não dispõe de todo esse tempo, pode se concentrar nos pontos principais.

Tóquio é uma cidade imensa, cheia de bairros com diferentes “personalidades” e aspectos. Eu viajo rápido, e mesmo assim acho que ao menos 4 dias inteiros são necessários aqui. Você passa um bom turno percorrendo os templos e ruelas tradicionais de Asakusa, um par de horas visitando o parque do palácio imperial no centro de Tóquio, pode visitar museus de História do Japão, ver a Torre de Tóquio em Roppongi, e conhecer os bairros de Akihabara, Shinjuku, Shibuya, Ueno, Harajuku e outros. Cada um tem seu próprio jeito, e eu recomendo ir conferir todos, se você puder.

Kyoto, antiga capital japonesa, é a segunda cidade mais visitada do país. Aqui é o coração tradicional do Japão, com templos mil e bosques de bambu, além dos tradicionais ryokan e de onsen, as termas onde você se banha nu. (Os onsen são quase sempre segregados por sexo. Mulheres de um lado, homens do outro.) Eu diria que uns 3 dias em Kyoto estão de bom tamanho. Eu detalhei minhas visitas ao bairro tradicional de gueixas de Gion, ao Monte Kurama e seus templos e termas nos arredores da cidade, a jardins zen e o pavilhão de prata no lado leste da cidade, ao pavilhão de ouro e bosque de bambu de Arashiyama no lado oeste da cidade, a jardins de rocha zen e ao Fushimi Inari, meu templo favorito, o dos “mil portais”. Alerto que a menos que você seja fascinadíssimo por templos budistas ou xintoístas, há o risco de, depois de uns cinco, você se cansar de ver templos. Por isso, pode valer a pena ser seletivo. A maioria deles também cobram entradas, então pode sair bastante caro. Tenha isso em mente.

Próximo a Kyoto estão Osaka e Nara. São cidades de bem menos atrativos que Kyoto ou Tóquio, mas interessantes. Ambas são possíveis de fazer num bate-e-volta de Kyoto em trem regional. Em Nara está o maior Buda do Japão, num simpático parque com templos de madeira e gazelas soltas. Já Osaka é uma das maiores metrópoles japonesas, com jeito mesmo de “cidade grande” com um bom museu de vasos orientais e um mirante do quadragésimo andar.

Por fim, para completar o roteiro das cidades mais procuradas, temos Hiroshima no sul do país, com seu tocante Memorial da Paz, sobre os efeitos da bomba atômica. Há também o “domo atômico”, construção deixada do jeito que ficou em 1945. É uma visita impressionante, ainda a cidade não exija mais que um dia inteiro para ser vista. Daqui, vale a pena você ir passar um dia — ou pelo menos um turno — na Ilha de Miyajima, uma simpaticíssima e bela área com portais xintoístas na água, colinas verdes aonde subir, vistas para o mar, e templos cheirando a incenso lá no alto. Lugar maravilhoso.

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Buda em Kamakura, Japão.

Se você fizer todos esses lugares acima, já dá umas duas semanas. Se quiser mais, Kamakura nos arredores de Tóquio com o maior Buda japonês ao ar livre é um lugar bonito de visitar. Além disso, há as cidades de Nagano e Yokohama por perto, que eu não cheguei a conhecer. De Nagano você pode combinar visitas ao famoso Monte Fuji.


Nos posts dos links você encontra os detalhes e fotos de cada um dos lugares. Se você ficou com alguma dúvida, quer algum toque, ou tem alguma pergunta que eu não respondi, é só pôr abaixo nos comentários.

(Se sua ideia é fazer uma viagem pela Ásia, não deixe de conferir também o comparativo Coreia do Sul ou Japão? Diferenças e semelhanças a quem pretende viajar)

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

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