Bem vindos à Islândia, este remoto país europeu que está bombando no turismo desde que a crise financeira derrubou sua economia em 2008. De um lugar isolado do qual nada se sabia (só que ele existia) a um dos “destinos da vez” nos últimos anos. O pequeno país, de 334 mil habitantes, há 10 anos atrás recebia de turistas o equivalente à sua população, e agora recebe mais de 2 milhões por ano.

Seu nome quer mesmo dizer “terra do gelo”: Iceland em inglês, Ísland no original islandês. Sim, a Islândia tem o seu próprio idioma, aquele que mais se assemelha à velha língua nórdica falada pelos Vikings nos idos de 874 d.C., quando eles colonizaram esta ilha até então desabitada.
São todos aqui, portanto, nórdicos — embora noruegueses, suecos e dinamarqueses se apressem em dizer que não entendem nada de islandês. Seria como falar latim a um italiano ou espanhol.
Esse pequenino país remoto, no entanto, tem seus notáveis. Teve o Prêmio Nobel de Literatura de 1955, o escritor islandês Haldór Laxness, e a cantora Björk. Apesar disso, e de os islandeses em geral falarem bem vários idiomas, eles não são exatamente cosmopolitas. Aqui você percebe claramente que eles gostam é do aconchego quieto de sua remota ilha.
Reykjavík, a capital (onde vive 40% da população do país), é a capital mais ao norte em todo o mundo. Estamos a 64ºN de latitude, tão ao norte quanto o Alaska, o norte da Sibéria ou do Canadá. (E só um pouquinho mais ao norte, a 66ºN, já fica o círculo polar ártico.) Porém, a corrente marinha quente do golfo (a Gulf Stream) garante que a Islândia não seja tão inóspita. Há quem brinque que ela e a Groenlândia, aqui perto e cujo nome vem de “terra verdejante” (como no inglês Greenland), deveriam trocar os nomes, pois não falta verde na Islândia — e não falta gelo lá no Groenlândia.
É mesmo a natureza nessa região rara da Terra que atrai tantos à Islândia atualmente. Geleiras, gêiseres, termas, praias gélidas, cachoeiras fluindo imperturbadas pelo homem, e vulcões. Foi isso que eu vim conferir aqui, e acabei descobrindo muito mais.
Inicio mostrando a vocês o simpático vídeo promocional que a Islândia fez há alguns anos e que conquistou a Europa — e me conquistou também.
Era junho quando eu vim pra cá, a época de mais luz do sol em todo o ano. Basicamente, nunca escurece. Só um pouco, aquele céu azulado de anoitecer que, em vez de dar lugar ao breu completo, aqui dá lugar ao nascer do sol outra vez — às duas da manhã.
O aeroporto de Keflavík, o principal, fica a 45min de estrada da capital, Reykjavík. A empresa Gray Line faz traslados e deixa todo mundo em suas acomodações, com reserva pela internet e tudo. Só que, como você irá perceber, tudo aqui na Islândia é caro. Esse traslado custa 23 euros (atualmente o equivalente a 2800 coroas islandesas, a moeda usada aqui). Por sorte, eu vim numa época em que a minha conta estava em condições de tomar a pancada.

Vendeu-me a passagem uma lindíssima islandesa cujas madeixas pareciam uma longa cachoeira de ouro branco. Dali, a acomodação na cidade seria um apartamento alugado por esta semana, nas mãos de Milena, uma outra simpática loura — esta de cabelo bem curto — e que, curiosamente, depois disse que passava por islandesa mas era, na verdade, russa. Enfim, eu estava muito bem circundado aqui.
Embora os atrativos principais da Islândia sejam, sem dúvida, a sua natureza indomada, o meu primeiro dia foi de visitar minhas imediações na capital Reykjavík. É um lado menos conhecido do país.


Reykjavík é uma cidade quieta, que está começando a se internacionalizar pelo turismo, mas que está longe de ser uma metrópole badalada. Uma cidade de 124 mil hab, ela tem seus cafés, seus bares e restaurantes onde islandeses e turistas assistem a esportes pela televisão, o mar sempre à vista, mas uma atmosfera pra lá de quieta.
Não sei se é a quase perenidade do inverno, mesclada à natureza silenciosa dos nórdicos. Mesmo nessa manhã de sol brilhante, eram uns 18 graus de verão islandês no ar, e uma atmosfera quase meditativa de silêncio, em que você ouvia o vento e até seus pensamentos.


O maior ícone da cidade é a igreja Hallgrímskirkja, luterana, de 74m de altura e feita à imagem de algumas das formações rochosas do país. É diferente de qualquer outra que eu já tivesse visto.


O interior da Hallgrímskirkja é um lugar plácido, sereno, um ambiente vasto com plantas, flores, e a luz do sol incidindo sobre cristais. Honestamente, deu-me a impressão de um pacífico templo ecumênico futurista (ou de Krypton, o planeta de origem do Super-Homem).




Do alto da torre, aonde você sobe com um elevador, belas vistas para toda Reykjavík.




Esse dia de sol e céu limpo, como você vê nas fotos, é uma raridade na Islândia. Aproveitá-los é preciso, então sentei-me ao sol, na mesinha externa de uma cafeteria, para ter meu primeiro contato com a comida islandesa.
É melhor do que eu imaginava. Não costumava olhar com grande respeito a culinária do norte da Europa (traumatizado que fui com a pífia comida holandesa, e a fama imensa que a gastronomia britânica tem), mas preciso dizer que fui surpreendido por pratos de bom gosto e ingredientes de qualidade aqui.
Não há nada de tão complexo; são pratos simples, mas bom pão, boa manteiga, e bons peixes e mariscos.


Daqui, fui dar umas voltas na cidade e conhecer outros pontos de interesse, como o moderníssimo Harpa Concert Hall e alguns curiosos museus. Embora a cidade não seja ampla demais, ela é um pouco espalhada, então se prepare para andar. Mas o mar está sempre por perto, dando belas vistas, e as ruas daqui são tranquilas.






No seu vasto interior, cercado por essas paredes pretas, eu entrei para ver o que havia. Atrás de um pequeno balcão num salão que me parecia grande demais, uma moça loira aguardava com a serenidade de um andróide. Ao lado, um telão em alta definição exibia imagens daqui.
Eu, já tendo visitado a ecumênica Hallgrímskirkja e agora vendo isso, de repente imaginei que estava no século XXII. Me parecia um daqueles futuros tecnológicos, em que a humanidade superou as guerras e se encontra assim, serena como essa moça. A Islândia às vezes me dá essa sensação.
Muito disso não é econômico (só porque eles são ricos), mas cultural. Os nórdicos são em geral serenos, e atualmente domina aqui uma estética minimalista e que integra elementos da natureza (móveis de madeira nua, rochas, plantas, etc.). Eles todos dão grande ênfase ao natural.
Claro que o outro lado dessa placidez é a “paradez”. Muitos estrangeiros se queixam de que tudo aqui (não só na Islândia, mas nos países nórdicos em geral) é muito parado, às vezes tedioso, sereno demais. Aí varia de gosto e do que cada um busca, mas que há uma atmosfera de perene — e aparentemente indestrutível — tranquilidade no ar, não resta dúvidas. Isso fica ainda mais evidente quando o sol desaparece as nuvens retornam.
Muitos dos dias seguintes aqui foram nublados, às vezes com chuviscos (o tempo mais comum na Islândia), e de repente você se pergunta aonde a vida foi. Parece que se escondeu, adormecida, como faz no inverno.




Nos outros dias, fui conhecer o Museu Nacional Islandês, o interessante Museu das Sagas Vikings (Saga Museum), e a inusitada Faloteca Nacional.
Esta última é isso mesmo: um museu de pênis. Como eu sei que todo mundo deve estar curioso, comecemos por ela.

Advirto aos gozadores (sem trocadilhos) que o museu é menos zoeira e mais zoologia do que pode parecer à primeira vista. Há pênis pra todo lado, mas a grande maioria são de outros animais, desde baleias (o maior de todos) até de hamsters, que precisam ser vistos com lupa. Sim, há também uma estranha coleção de moldes dos membros do time islandês de handebol, medalha de prata nas Olímpiadas de Pequim (2008), e uma parafernalha de souvenirs temáticos.
Os nórdicos em geral são talvez o povo que tem menos tabu com o nu, então não é de se admirar que tal museu se encontre aqui.


A ideia é mais curiosa que o museu em si, verdade seja dita. (A menos que você seja tão fissurado quanto o professor fundador.)
A atração que achei a mais interessante da cidade foi o Saga Museum, que conta — com muitas exposições com figuras de cera em tamanho real — a História das navegações Vikings que os trouxeram à Islândia, à Groenlândia, e às Américas, além de mostrar algo de como era a vida aqui na Islândia na Idade Média.




Dia 17 de junho é o Dia Nacional da Islândia, quando eles obtiveram (em 1944) soberania completa em relação à Dinamarca. É feriado. Aconteceu de ser um dos dias em que eu estava aqui, e eu pude ver como a placidez islandesa se derrete. Reykjavík tem umas festinhas família durante o dia, e a festa juvenil corre solta nos bares à noite.
Passando à frente de um bar nessa noite não-escura do verão daqui, cheguei a ouvir uns batuques — praticamente uma bateria de samba. Estranhei, achei curioso, entrei. Lá dentro, louros e louras, temperados ao álcool, dançando à plena musicalidade brasileira.
Achei aquilo curiosíssimo. Ainda conquistaremos o mundo.
Deixo vocês com um brevíssimo vídeo da celebração nacional islandesa. E como sei que a Islândia é mais notória mesmo é pela sua natureza, eu volto com ela após esta introdução a Reykjavík, no post seguinte.

Muito bom!!!Continue sempre nos brindando com essas maravilhas e esse banho de cultura.
Obrigado, Wilson!
Gostei do astral da cidade, Bem bonitinha com suas casinhas coloridas de telhadinhos vermelhos. Parece mesmo futurista. A igreja é muito elegante na sua arquitetura e bem simples no seu interior. Gosto dessa simplicidade. Curioso ser ecumênica. Muito interessante.
O céu azul anil e a beleza das águas calmas do Atlântico, como liquida turquesa, são o ponto alto dessa postagem, alem do ”clima” de tranquilidade do lugar. Muito gostoso.
Quanto ao samba, válido, mas um pouco sem ritmo hahah; meio desencontrado o batuque hahah.
Muito interessante o conteudo .Gostei muito.
Estou assistindo uma série , estou encantada pois é na Islândia. Lugar lindo 🥰