Visitada a capital e alguns sítios próximos, havia chegado o dia de eu fazer uma excursão ao sul da Armênia, quase na fronteira com o Irã, a conhecer o Mosteiro de Tatev, do século IX, uma das muitas preciosidades históricas desta região. Nesta terra de montanhas e vales, sol quente e seco, há muito que monges cristãos viveram em comunidades isoladas. É um tradição antiga, como quase tudo por aqui.

Há muitas agências de turismo em Erevan oferecendo passeios às diversas partes do país (embora nem todos estejam disponíveis todos os dias, então atenção se você estiver visitando). Este eu organizei com a agência Hyur, que achei bem eficaz e com preços competitivos. Na Praça da República você encontra um sem-fim de ofertas de motoristas particulares e agências de garagem, então há muitas opções. Eu preferi algo um pouco mais garantido.
O sul onde fica Tatev é uma das áreas mais bonitas e visitadas da Armênia. Não só pelo legado histórico, como também por sua paisagem enrugada, vistas, cachoeiras, etc. É um lugar lindo e cênico. O próprio mosteiro, hoje desabitado mas dando ainda uma ideia de como viviam aquelas comunidades cristãs medievais isoladas, se acessa por um teleférico panorâmico.


Saímos cedo de manhã para o passeio que duraria o dia inteiro. É uma viagem longa, com muitas horas de estrada (umas 4-5h de ida e outras de volta), mas compensa. As ruas da capital Erevan ainda estavam quietas no que era um sábado de manhã, com suas vastas avenidas ainda vazias e o dia ainda não tão quente, embora se anunciasse.
Quando cheguei à agência, havia turistas das mais diversas partes: libaneses, uruguaios, alemães e outros. As pessoas estão descobrindo a Armênia como destino turístico.




Como costuma ser o caso em quase qualquer lugar do mundo com estes tours de agências, havia uma parada estratégica numa venda de produtos típicos. Neste caso, tratava-se de uma loja de vinhos artesanais e licores de damasco (tipicíssimos aqui da Armênia) onde nos detivemos no meio da manhã para já embalar o dia.
Há muitos tipos de bebidas feitas com os damascos (ou abricós) aqui na Armênia, talvez sua fruta mais típica. Eles fazem até “vodka” de damasco — incolor e sem quase nenhum traço da fruta, mas entre aspas porque, tecnicamente, vodka autêntica é feita de cereais. Não vou comentar muito dos vinhos porque não são do meu domínio, mas digo que os licores com sabor real de damasco, tomados como aperitivos ou digestivos, são saborosíssimos.


Não sei se alguém ao fim comprou algo, mas as pessoas se acabaram na degustação. Levaria um tempo até o almoço. Até lá muitas paisagens extensas e onduladas do interior armênio.


Nas proximidades de Tatev, o relevo se radicaliza muito mais. Deixamos de falar em colinas e passamos a falar em montanhas propriamente ditas, de rocha exposta e grandes escarpas. É preciso tomar um teleférico para se chegar hoje aonde antigamente viviam os monges eremitas.




Atravessamos, e um restaurante para turistas nos aguardava do outro lado antes de irmos ver o que restou do mosteiro que aqui funcionou por quase mil anos, entre os séculos IX e XVIII.
Aos interessados em comida, meu almoço foram uma salada com queijo e uns legumes ao forno que, embora não enchessem barriga, estavam deliciosos. São coisa típica aqui em toda esta região do mundo que pertenceu ao Império Turco Otomano.



Vamos ao mosteiro. Nós primeiro tivemos uma volta de meia-hora com a nossa guia armênia, uma jovem gorda e de ar excessivamente senhorial, que de certa forma a tornava engraçada. (Deu um quiprocó quando ela começou a brigar com gente que estava falando enquanto ela explicava coisas, mas isso foi depois.) A seguir, tivemos um tempo livre pra explorar o lugar.
O Mosteiro de Tatev foi um dos grandes centros do saber na Idade Média. Estabelecido no século IX por cristãos da Igreja Apostólica Armênia, ele chegou a albergar 1.000 monges no século XI e a tornar-se uma universidade no século XIV. Aqui trabalharam muitos artesãos, monges copistas de documentos antigos, entre outros.
Sua história, claro, não foi de tranquilidade contínua. Afinal, apesar do isolamento garantido pelas montanhas, estamos numa região que sempre foi uma encruzilhada de civilizações e territórios em disputa. Dizem que em 1170 os turcos seljúcidas pilharam o mosteiro e queimaram mais de 10 mil manuscritos. No século XIII, os mongóis invadiriam, e no século XIV, o conquistador centro-asiático Tamerlão.
O lugar, contudo, se reergueria como uma universidade entre 1390-1434, e seguiria ativo por muitos séculos. Aqui ficavam vários dos manuscritos antigos hoje preservados em Matenadaran, na capital.








Nos arredores, você visita as instalações monásticas construídas no século XVII: refeitórios, cozinha e outras acomodações para os monges. Das janelas por entre as paredes de rocha, vistas imensas para as montanhas à distância. É uma sensação de tranquilidade e isolamento, de que você está de fato retirado das coisas do mundo.






Daqui, após esta histórica visita, teríamos ainda uma parada antes do retorno a Erevan. Por entre essas montanhas visitaríamos uma cachoeira, das mais cênicas que já vi. Encerro o post com ela.



Meu jovem, que maravilha, que natureza prodigiosa. Curioso, essa era a Armênia que eu imaginava: bucólica, rural, rica em natureza, com povoações pequenas, gente simples, de pastores, com igrejas mosteiros e muito verde.
Maravilhosa essa natureza, belo e histórico Cáucaso!… e esse mosteiro com sua arquitetura medieval, interiores escuros, é impressionante. Parece que se entrou na máquina do tempo e se saiu na IM ou se participa de um filme de época. Belissimo cenário, Belo portal. Região preciosa que respira História.
E essa cachoeira, então, pelo visto foi um refresco. Divina dentre o verde de vegetação. Parece viva.
E essas comilanças com a cara ótima.
Ahhh adoro licores de frutas. Teria muito prazer em saboreá_los.
Obrigada por mais essa bela postagem. Gostaria de conhecer a região. Chi lo sa?