Olhe o horizonte.
Calma, não se assuste demais com a muvuca das ruas. Estamos no Nepal, um dos países mais pobres da Ásia, mas também um dos mais belos. Pobreza e beleza estão aqui lado a lado.

Aqui fica o famoso Monte Everest, maior montanha do mundo (a 8.848m); há lindas paisagens tanto rurais quanto naturais; e há ricas e milenares culturas dos Himalaias, a mais elevada cordilheira de montanhas da Terra. O Nepal acontece de ser onde o Buda nasceu (em 563 a.C.), e estando estrategicamente posicionado entre a Índia e o Tibet (este atualmente na China) o Nepal também tem muito a oferecer em termos culturais.
Ao mesmo tempo, não se engane: as fotos promocionais costumam não mostrar, mas a pobreza aqui se manifesta por todas as partes. Não há iluminação pública, quase não há calçamento nas ruas, e toda a capital (Katmandu) lembra uma grande periferia brasileira. Com cheiros e sabores nepaleses, é claro.
Hora de desbravar esta cidade. Bem vindos.

Do alto, do avião, eu já avistava a multitude de prédios (quase todos parecidos, de seus cinco andares, sem elevador) ao lado do que pareciam gramados finamente cortados. Na realidade, são terrenos de cultivo de arroz. Era uma manhã de sol de um dos últimos dias de setembro, fim da estação chuvosa das monções aqui nesta região da Ásia. É quando as torrentes vão embora e o céu começa a clarear, embora aqui, como na Índia, a poluição nunca o deixe realmente limpo.
Eu chegava ao Aeroporto de Tribhuvan, o único internacional do país, para solicitar meu visto na chegada e entrar para uma curta temporada porém significativa estadia aqui. (O procedimento e a experiência de obter o visto na chegada eu relatei no post anterior.)
No Sul da Ásia a enrolação já começa antes de você chegar. Minha pousada anunciava ter serviço de traslado ao aeroporto, pra aguardar os hóspedes. Quando chegou próximo à data e procurei saber dos detalhes, se tornaram instruções de como pegar o serviço de táxi pré-pago do aeroporto. Lidar com taxistas é pra mim talvez a parte menos agradável no ofício de viajar pelo mundo. Mesmo os táxis pré-pagos já vem costumeiramente com aquela conversa de “Ah, o preço tabelado é esse, mas o seu hotel fica um pouco fora, então o preço é maior.”
De quebra, aqui em Katmandu eles têm o costume de enfiar um guia turístico no táxi junto com você. Pelo que li, é de praxe. Ao dizer que é do Brasil, eles inevitavelmente puxam nomes de jogadores de futebol. Daí você passa o trajeto inteiro ouvindo aquela conversa de vendedor, que quer saber dos seus planos, oferece que você pare na agência dele antes de ir ao hotel, etc. O meu se chamava Santosh (que ele curiosamente pronunciava como um carioca dizendo “Santos”), que fez de tudo para ter o meu telefone, marcar um encontro comigo… e que eu tive que despistar tal todos nós às vezes temos que fazer com aquelas pessoas muito grudentas.
Estávamos chegando a Thamel, o bairro turístico de Katmandu, onde quase todos os visitantes se hospedam. É a área com mais casas de câmbio, lojas, restaurantes, albergues e hotéis. No entanto, você logo percebe que em Katmandu não há área chique: tudo é pobre. Ao contrário de outras capitais asiáticas como Bangkok ou Kuala Lumpur, não espere aqui encontrar aquele bairro rico com prédios altos — não há.




Santosh achou que eu iria dormir e declarou que no fim da tarde viria me ver no hotel para discutirmos preços. Tolinho, não sabia com quem estava lidando. Só precisei almoçar e eu já estava pronto para sair, bater pena e conhecer a cidade. (Santosh eu até hoje nunca mais vi.)
O meu primeiro destino seria o Templo dos Macacos, apelido carinhoso do templo Swayambhunath. Na língua tibetana, significa “árvores sublimes”. O Tibet está aqui vizinho, e quando este foi conquistado pela China em 1951, muitos monges fugiram pra cá. Já havia forte influência cultural tibetana no Nepal, mas constituiu-se aí uma comunidade tibetana ainda maior. Hoje, você verá muitos monges com seus robes cor de açafrão pelas ruas de Katmandu, como aquele do Dalai Lama.

O trajeto que me levaria de Thamel até o Templo dos Macacos seria uma boa pernada de 3Km por entre ruas mais humildes de Katmandu, fora do bairro turístico.







O Templo Swayambhunath seria o primeiro de muitos que eu visitaria aqui no Nepal. Seria também a minha primeira estupa budista de estilo nepalês tibetano. As estupas, pra quem não está familiarizado, são estruturas típicas budistas que lembram montes com uma ponta para o alto, indicando a elevação. São usadas pelos budistas para circumambulação (dar voltas, sempre em sentido horário) e meditação. Tradicionalmente, continham relíquias budistas consideradas sacras. Hoje, é comum que tenham figuras do Buda ou altares dentro.
Algo em torno de 400 degraus separam nós mortais aqui no chão e a estupa de Swayambhunath lá no alto. De fato, é dos poucos locais de Katmandu onde você verá árvores ainda preservadas. (A urbanização desordenada deu cabo do restante.) O apelido, claro, vem da ampla população de macacos que circulam pelo lugar, como acontece também em alguns templos hindus. (Olho nos seus pertences.) Vale a pena a subida!








Quando desci da colina, eu tinha por meta ainda visitar Durbar Square, a principal praça de Katmandu. Traduz-se por Praça do Palácio, pois é onde viviam os monarcas daqui. Até 2008 o Nepal era uma monarquia hindu, quando então se converteu em república. No entanto, essas estruturas históricas remontam a um período anterior, de quando o que hoje conhecemos por Nepal era composto por vários reinos minúsculos. Apenas nos idos de 1800 é que um reino conquistou os demais.
Mesmo aqui no chamado Vale de Katmandu (Kathmandu Valley) há não menos que quatro praças palacianas (Durbar Squares): em Katmandu propriamente dita, em Bhaktapur, em Patan (hoje renomeada Lalitpur), e na menos famosa Kirtipur. Todas ficam hoje na zona metropolitana de Katmandu e são semelhantes, mas cada uma com seus toques de particularidades. (Aguardem os posts seguintes para ver comigo as outras.)
A de Katmandu, infelizmente, é ainda a mais danificada pelo mega terremoto que sofreu o Nepal em 2015. Foi um terremoto de 8 graus na escala Richter (que vai de 0 a 10) que custou a vida de quase 9.000 pessoas e destruiu muito do legado histórico nepalês. O esforço de restauração tem levado anos, e ainda não se completou. Muitas áreas já estão recompostas, mas na Durbar Square de Katmandu você vê ainda muito em ruínas ou coberto de andaimes e em obras.
Aviso aos navegantes: Embora a praça tenha um enxame de gente que vem e que vai (pois fica no coração da cidade), há uma tarifa cobrada dos estrangeiros que adentram a área — para ajudar a financiar a reconstrução. São 1000 rúpias nepalesas, o equivalente a quase 10 dólares. É uma muvuca, não há um controle rígido, até porque há massas de nepaleses passando pra lá e pra cá pela praça, mas se você tiver cara de estrangeiro (leia-se fisionomia europeia branca ou africana) será provavelmente pescado na multidão pelos fiscais na entrada. Os ingressos normalmente são válidos apenas no dia, mas se você planejar vir mais de uma vez pode registrar seu passaporte com os fiscais para não ter que pagar mais de uma vez durante sua estadia.






Dali eu tomei rumo em direção à minha pousada, na fatídica hora do “fechar do comércio”, como diria a minha avó. Isso, aqui em Katmandu, é o pico da pândega e do engarrafamento, quando motos às centenas se misturam aos transeuntes e aos fieis fazendo oferendas à beira da pista (os hindus gostam de fazer oferendas pela manhã e ao anoitecer). As ruas ganham os cheiros misturados de incenso e escapamento.
Essa hora me pareceu a quintessência do espírito de Katmandu: onipresença de gente, precariedade, mas também uma religiosidade bela de acompanhar.



Este era só o primeiro dia.
Uaaaauuuu. Nossa!… quantas pessoas, quantas motos, parecem formigas na rua,!…imagino a loucura do tráfego. Que pobreza, mas que interessantes essas manifestações religiosas e culturais!…gosto delas, Gosto também dos coloridos. Belas cores., A cidade dentro dos limites da pobreza é bonitinha.
Meu jovem que coragem!… haja pernas mesmo, Mas é compensador o esforço. Lindos templos, belíssimas e significativas estupas . Lindas e significativas manifestações de fé.
Nossa, visto de cima parecem os Alagados em Salvador… Coitado do povo, 5 andares sem elevador, é horrível
Lindos templos. Praça bonita., povo simples e simpático, semelhante àquele do SE asiático,
Surpresa em ver tantas pessoas em um lugar que eu supunha bucólico, com forte presença da natureza e convidando ao recolhimento e à prece. Inesperada essa realidade.
Essas estupas brancas com o dourado e o colorido são divinas.
Alem da parte religiosa e artística a comilança me deixou com água na boca. Que beleza de prato. Adoro comida asiática. e não enjoo não hahaha. Saudade da sopa de lentilhas que tomei em uma comunidade oriental ha uns meses atras, Delicia. Adoro o arroz asiático, bem mais saboroso que o que temos aqui no Brasil.
E que loucura esses taxistas!… Haja Deus. São uma praga no mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil. Região interessante mas fiquei com o gosto na boca com vontade de ver a Cordilheira dos Himalaias e seu belo e misterioso Monte Everest, espero vê-los nas postagens que virão. Parabéns pela coragem, meu jovem.