Katmandu tem o agito e o bafafá que eu mostrei no post anterior, mas tem também seus cantos singelos. Muitos desses estão relacionados à presença tibetana aqui.
Alguns dos mais belos locais de cultura tibetana fora do Tibete estão em Katmandu, a capital nepalesa. Sempre houve grandes trocas culturais através dos Himalaias, esta que é a maior cordilheira do planeta. Porém, quando a China invadiu em 1951 a terra do Dalai Lama, este fugiu para a Índia, mas foi cá no vizinho Nepal que muitos tibetanos se refugiaram. Parte da riqueza cultural do Nepal de hoje se deve a essa linda mistura, que é o que eu conferiria.

No dia seguinte aos meus primeiros bordejos em Katmandu, presenciando sua muvuca urbana e sua dominante fé hindu, era hora de ir ao seu distrito budista. A minha primeira parada seria o singelo Mosteiro Kopan, estabelecido em 1969 após a migração dos tibetanos.
A minha ida ao Mosteiro Kopan começou, como sempre aqui, com a negociação de uma corrida de táxi. É possível ir de ônibus, mas o agito e a demora são grandes demais para o que pode ser uma simples corrida de táxi de 20 minutos desde o bairro turístico de Thamel até lá. Como não se usa taxímetro aqui (não caia nessa besteira, ou vai ser enrolado), é preciso negociar a tarifa de antemão. Detesto essa parte, mas é o jeito. Insisti em 500 rúpias nepalesas, o equivalente a perto de cinco dólares. No meio do caminho, o taxista tenta me enrolar mostrando um taxímetro, até então desligado, que já contava 15Km rodados e mostrava mais de 600 rúpias. Você que caia nas conversas deles.
Paguei as 500 rúpias — sempre com o valor exato para evitar a desculpa esfarrapada onipresente de que não têm troco —, e lá estava eu numa das colinas mais altas da cidade. O Mosteiro Kopan é especialmente popular entre ocidentais por oferecer cursos de meditação budista tibetana. Embora eu não o tenha feito, sei de brasileiros que já o fizeram, e se você quiser maiores informações sobre isso pode consultar o site oficial.
O mosteiro é um lugar tranquilo, com amplas vistas para a capital nepalesa. A muvuca lá embaixo, e você nos jardins sossegados cá no alto. Aqui e ali você vê monges de todas as idades em seus robes tibetanos cor de açafrão. (Em outros países, os monges budistas trajam mantos de outras cores.) Há uma livraria, uma lanchonete com café digno e lanches vegetarianos, e alguns templos. É um lugar simples e singelo na visita a Katmandu.













Era um meado de tarde, com aquela maresia típica das 3 horas da tarde em qualquer lugar do mundo — ainda que aqui estivéssemos bem longe do mar. Quase não havia outros turistas, exceto por um pequeno grupo na lanchonete. Circulei um pouco, troquei olhares curiosos com os cachorros, vi os monges passando para lá e para cá, e detive-me algo para tomar uma limada e comer uma samosa [lê-se “samôssa”] vegetariana. São como um pastel frito, mas estufado de recheio de batata e especiarias. É bem comum aqui na região do Sul da Ásia.

É uma visita curta — mas válida — se você não estiver ficando para cursos. Daqui, eu iria a pé ruas abaixo até aquela que é talvez a mais famosa de todas as atrações em Katmandu: Boudhanath, uma imensa estupa budista de 36m de altura e que é quase do tamanho de um quarteirão inteiro.
São cerca de 3Km por uma paisagem urbana de periferia, aquelas ruas suburbanas que em algo se assemelham às das partes mais pobres do Brasil — com suas pequenas mercearias, pessoas olhando o movimento, o calçamento por fazer, a poeira levantada pelas motos e carros que passam — só que sem a insegurança comum pela América Latina. Aqui no Nepal as ruas são muito mais seguras.
Recomendo a caminhada sobretudo no fim de tarde, quando você vê as crianças e adolescentes em uniforme voltando a pé para casa por aquelas ruas poeirentas, acostumados àquela realidade, enquanto o tráfego de veículos começa a aumentar com o fim do expediente. É assistir à vida nepalesa em primeira-mão, ao alcance do seu toque, sentindo a poeira no seu rosto e olhando no olhar das pessoas. Como não se trata de uma área turística da cidade, as pessoas lhe assistem sem o incomodar.


De quebra, você chegará à estupa de Boudhanath à hora do crepúsculo, a melhor hora para visitá-la, pegando-a sob os raios finais do sol e também o monumento iluminado após o escurecer. É bem bonito, além de permitir-lhe ver o zunzunzum de fiéis ao fim do dia, com incenso queimando, monges e outras pessoas orando, e todo mundo (turistas junto) circumambulando o monumento (isto é, dando voltas; no caso budista, sempre em sentido horário; nem os cachorros pareciam ir em sentindo contrário.)
Abaixo um pequeno vídeo que gravei do ambiente em torno da estupa naquele entardecer.
Se você estiver a se perguntar curioso sobre aquele par de olhos lá no alto do monumento, são os chamados “Olhos de Buda“, comuns nesta vertente tibetana do budismo. São também chamados de “olhos da sabedoria”, e comumente postos direcionados a todos os quatro cantos.
A estupa de Boudhanath existe, estima-se, desde o século V ou VI. Foi originalmente erigida sob ordens de um rei nepalês, ampliada com o tempo, e prontamente adotada como epicentro da comunidade tibetana em Katmandu. O bairro hoje recebe o significativo nome de Boudha.






Subir na estupa em si é gratuito e muitas pessoas o fazem. (Há belas vistas). Já se você adentrar a praça pela via principal e tiver cara de turista, o que não foi o meu caso, pode lhe ser cobrada uma entrada de 400 rúpias (uns 3.5 USD). O Nepal está um pouco na onda de cobrar dos turistas por acesso aos lugares históricos e sacros.
Suba a um dos vários restaurantes, até o topo, e assista enquanto o sol de põe e o monumento se ilumina, a balbúrdia lá embaixo subindo junto com o cheiro de incenso ao alto.



Depois de eu mostrar bastante dos elementos tibetanos em Katmandu, dá até pra pensar que o Nepal é espelho do Tibete. Mas isso é apenas em parte. No dia seguinte, era hora de conhecer melhor as raízes da história nepalesa em sítios belíssimos, antes de presenciar também algo de suas cremações fúnebres mui hindus. Nos vemos.
Uuuuhhhhh que maravilha. Amei o templo e seus bucólicos arredores, verdes, e sua vistosa natureza. Lindos o ambiente, o templo, suas cores e homenageados, sua vida cotidiana tranquila, e a natureza, Maravilha. Lugar especial e convidativo para a meditação e a prece. Lindo
O outro destaque é esse monumento magnifico mais bonito ainda ao entardecer/anoitecer. Bela e gigantesca estupa. Belissima.
O agito e a pobreza são muito comuns aqui pelo NE do Brasil.
As bandeirolas se parecem um pouco com as fitinhas do Bomfim aqui na Bahia, em que as pessoas ganham ou compram, com a cor que preferem e apos fazer 3 pedidos, põe no pulso, Quando elas se soltarem ou ficarem fracas o pedido será realizado, diz a lenda.
Gostei do enrroladinho.
Bela região.