O Nepal nem sempre foi um país unido. Até o século XVIII, havia muitos pequenos reinos vizinhos aqui nesta região dos Himalaias. Perto de Katmandu, que nada mais era que a capital de um daqueles, você tem nada menos que outras três antigas capitais: Bhaktapur, Kirtipur, e Patan (atualmente renomeada Lalitpur, mas ainda conhecida pelo seu nome histórico). Cada uma tem a sua Durbar Square, a sua praça palaciana.
Era hora de eu conhecer esse legado histórico nepalês.
Passada a nossa manhã de largas caminhadas por entre os terraços de arroz e vales verdes do Nepal, a tarde seria histórica. A minha primeira parada com o guia Dev e o motorista Hari foi em Changu Narayan, o templo hindu mais antigo de todo o Nepal, erigido no século XIII e com peças ainda mais antigas.

Aos fascinados pelo hinduísmo e sua complexidade, este templo será uma sopa no mel. Depois de viajar tanto, você já não mais se impressiona facilmente. Contudo, aqui, impressionei-me com a beleza e a riqueza de detalhes em maneiras que mesmo na Índia são difíceis de encontrar.
E uma das características do hinduísmo é que ele continua vivo, continua a ser praticado. Então é diferente das antigas igrejas europeias que hoje viraram museu. Aqui este é um monumento histórico e ao mesmo tempo um templo de verdade, com celebrações, etc.
Changu Narayan tem quatro fachadas. Em cada uma delas há portas para os altares interiores, ricas decorações, e um par de criaturas sagradas no hinduísmo: elefantes, leões, grifos e sharabhas guardiães. Estes últimos são seres mitológicos do hinduísmo que lembram um dragão.
O templo é dedicado ao deus Vishnu, um dos mais importantes do hinduísmo. Na principal trindade hindu, Brahma é o deus criador, Shiva o deus que destrói e renova, e Vishnu o deus que preserva e cuida. Não há antagonismos, mas um equilíbrio entre os três. Diz-se, assim, que tanto Rama quanto Krishna — que os hindus crêem realmente terem pisado o chão desta terra, mas cujas épocas são muito remotas para haver comprovações históricas cabais — foram encarnações de Vishnu. (Ou, para usar a palavra em sânscrito hoje popularizada no Ocidente, eles foram avatares de Vishnu. Mais precisamente, Rama teria sido a 7ª, Krishna a 8ª, e Buda a 9ª.)






Caso você esteja a se perguntar sobre essas “manchas” coloridas nas imagens, não é vandalismo. Os hindus têm o hábito de pôr unguentos coloridos na testa, na altura do terceiro olho, e é comum que antes o toquem nas imagens sagradas para tomar sua bênção. Daí as imagens também ficarem pintadas. (Veja que, ali no caso de Garuda, também na altura do terceiro olho. A ideia é iluminação e proteção contra o mal.)
Era uma bela tarde fresca de sol, e ainda tínhamos mais lugares a visitar. A nossa parada seguinte for Bhaktapur, uma das históricas cidades nepalesas, hoje parte da conurbação que se tornou Katmandu.
Bhaktapur tem uma das mais belas e completas praças palacianas (Durbar Squares). É também uma das mais caras: cobram-se 1500 rúpias nepalesas, o equivalente a quase 15 dólares, para acessar a área como turista. É caro, mas vale a pena. Sobretudo se você encará-la como um museu a céu aberto (teria pago esse valor para visitar um museu histórico em Berlim) e seu dinheiro como ajuda financeira à reconstrução do lugar após o mega terremoto de 2015. Ao contrário da praça palaciana de Katmandu ainda em reconstrução, esta aqui já está quase toda restaurada.

Bhaktapur existe há milênios como entreposto comercial na rota entre a Índia e o Tibete, mas a maioria das estruturas aqui datam do século XVIII. Seu nome significa “cidade dos devotos”.







“Eu também vou querer um“, já foi dizendo Dev, o meu guia, e pegando um na minha conta no habitual jeito xepeiro dos sul-asiáticos. Eles aqui, sobretudo os homens, são do tipo a quem você oferece uma caixa de bombons, e ele em vez de pegar um e agradecer, enche a mão com tantos quanto pode. Já presenciei isso incontáveis vezes. Cuidado. Como eu estava de bom humor e o picolé era barato, não fiz caso.
Claro, ele não deixou tampouco de me levar na loja do amigo dele, onde dizia que os produtos eram de qualidade superior aos outros praticamente idênticos — e, eu ainda acredito, realmente idênticos — encontrados em dezenas de outras lojas iguais. Você não terá falta de lojas aqui em Bhaktapur nos arredores da praça palaciana, sobretudo de pinturas com mandalas e artigos em madeira. Só tome cuidado para não levar gato por lebre: o que eu encontrei de produtos de resina sendo passados como madeira e pedra vagabunda sendo vendida como mármore não está no gibi.
Terminaríamos a nossa expedição histórica com Patan, que tem uma das mais bonitas praças palacianas. Assim como Bhaktapur, ela está a poucos quilômetros na zona metropolitana de Katmandu. Seu principal diferencial é um templo a Krishna, além das muitas artes e belezas arquitetônicas.









A unificação do Nepal se deu gradualmente ao longo do século XVIII. Lembremos que desde 1757 a Companhia das Índias Orientais, inglesa, já governava muito do que mais tarde viria a se tornar a Índia, aqui ao lado. Quando um dos reis, o da região de Gorkha, no oeste do país, lançou-se à conquista dos demais, houve quem pedisse ajuda aos britânicos, mas foram todos derrotados. Em 1768 todo o Vale de Katmandu estava dominado pelo rei de Gorkha, Prithvi Narayan Shah, ao fim do século seus sucessores conquistariam todo o restante do país.

Na verdade, o Nepal a essa época era maior do que é hoje, mas em 1814-1816 meteram-se numa guerra que ficou conhecida como a Guerra Anglo-Nepalesa, na qual a coroa britânica lhes tomou alguns territórios ao sul, que hoje são parte do norte da Índia.
O Nepal resistiria e jamais foi integrado ao domínio colonial britânico, que tomava tudo que hoje é a Índia, Paquistão e Bangladesh. O porquê de os ingleses nunca terem conquistado o Nepal é uma pergunta que ocupa as mentes dos asiáticos até hoje. A principal razão parece ser que não valia a pena empenhar homens para lutar nas colinas nepalesas, morrer aos montes, em troco de uma área onde não se plantavam especiarias, quando era mais simples ter um reino amigo que se encarregava de comerciar os produtos britânicos Ásia adentro via o Tibete.
O Nepal foi uma monarquia hindu até 2008, quando tornou-se uma república laica e parlamentarista. Seu idioma, o nepalês, é semelhante ao hindi do norte da Índia como o português é do espanhol, mas os nepaleses não gostam de ser confundidos com os indianos.
Para terminar este nosso périplo histórico e cultural, não deixe de ver o Templo Dourado (Golden Temple) de Patan. É uma jóia budista-hinduísta.




Se você quiser ter tempo de passear com calma, sentar para papear um pouco com a sua companhia, etc., vale a pena tomar um dia inteiro com um motorista (e preferencialmente também um guia) para fazer estas cidades históricas no seu passo e no seu compasso. Eu, estando sozinho, consegui fazê-las em meio dia, mas acho que ter mais tempo vale a pena. (Por sorte, eu não estava num desejo de muitas compras.)
Encerrava este passeio pelas antigas cidades e templos históricos do Vale de Katmandu, no Nepal, mas faltava-me ainda assistir a uma cremação hindu. Disso eu daria conta no dia seguinte, de volta à capital.

Belíssima região. Que maravilha. Preciosos esses templos,,, que decoração, que belas cores!… lindo essa salmon com esses tons de verde e esse amadeirado.. Um primor. E que ricos detalhes esses da decoração. Belissimos interiores. Esse dourado antigo tambem é lindo. Natureza prodigiosa e cultura magnifica. Um primor. Belo céu azul, lindos ocasos com impressionantes efeitos nos monumentos. Adoro os pagodes. Esses são divinos. Lindos elefantes, belos leões, esplendorosos interiores, Belas combinações entre o dourado vermelho salmon e verdes.
Adorei ver Garuda, só conhecia a companhia aérea e a historieta dele. Muito charmosos.
O senhor, como sempre muito à vontade dentre os monumentos. como d’ habitude parece parte dos monumentos e da paisagem. Maravilha meu jovem amigo. Ótima postagem, linda região.