Bem vindos a uma das principais cidades históricas de toda a Europa! Atualmente segunda maior cidade da Polônia (atrás apenas de Varsóvia, a capital), Cracóvia é um encanto. Facilmente a cidade mais turística e quiçá também a mais bela deste que é o maior país do leste europeu.
Cracóvia (ou Kraków, que os poloneses pronunciam “Krákuf”) data do século VII e foi a capital do Reino da Polônia até 1596. A Polônia não é um país sobre o qual a gente aprenda muito na escola, ainda que haja milhares de brasileiros de sangue polonês. Mas vindo aqui ao país você logo descobre sua riqueza histórica e cultural. (De quebra, é um país bem barato, então os custos de estadia saem bem em conta.)
Eu já vim à Polônia diversas vezes, embora só agora escreva sobre ela. E Cracóvia foi exatamente por onde comecei — da primeira vez lá nos idos de 2010, para daí retornar ao país sucessivas vezes. Adoro vir à Polônia, e nestes posts vou demonstrar a vocês por que.


A quem estiver levemente desorientado, Cracóvia fica no sul da Polônia, a leste da Alemanha (ver mapa ao lado). Sim, o país é grande, o maior dos países do Leste Europeu a estar na União Europeia (desde 2004). Desde 2008, não há mais controles de fronteiras com os demais membros. No entanto, a Polônia nunca adotou o euro; ela mantém seu zloty (1 euro ≈ 4,25 zloty), o que facilita bastante a redução dos custos de viagem aqui.
Um passo pra trás e também pra frente
Ok, sabemos do passado da Polônia como Leste Europeu, como ex-regime comunista sob a “Cortina de Ferro” afiliada à União Soviética, e isso de fato ainda dita muito do que ambiente que você irá encontrar hoje aqui. Porém, para conhecer as raízes da Polônia e entender Cracóvia, é preciso dar um passo pra trás e pra frente.
Nós no Brasil temos a cabeça um tanto defasada no que diz respeito aos países europeus, sobretudo os do leste. Ainda os concebemos naquela divisão da Guerra Fria entre capitalismo e comunismo — o que acabou há quase três décadas. A maior identificação regional dos poloneses não é com esse constructo político do século XX chamado “Leste Europeu”, mas com a matriz cultural da Europa Central. Ali é que a Polônia se identifica, junto com Alemanha, República Checa e outros com quem faz trocas culturais há séculos. (Eles, inclusive, irão corrigi-lo se você chamar a Polônia de “Europa do Leste”, alcunha que eles reservam para Ucrânia, Rússia & cia.) A Guerra Fria foi apenas uma breve interrupção de meio século em algo que é milenar.
Daí eu os convidar a dar um passo para trás e também para frente. Soa paradoxal, mas na prática significa a mesma coisa: afastar-se daquela imagem da Polônia da Guerra Fria e aproximar-se de sua identidade mais perene, constituída durante as Idades Média e Moderna, e à qual eles agora — passadas décadas desde o fim da Guerra Fria — retornam.
Um dos melhores centros históricos da Europa
Como Cracóvia não foi bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial, seu patrimônio histórico felizmente está bastante conservado. Aqui está um dos centros medievais melhor preservados de toda a Europa. As muralhas permanecem de pé, assim como o antigo castelo real, e o que antes era o fosso nos arredores das muralhas, hoje é um cinturão verde com muitas árvores. Uma delícia.





Cracóvia surgiu, diz a lenda, sob o mitológico Rei Krakus (daí seu nome). Sob esse rei, derrotaram o dragão que vivia numa caverna na Colina de Wawel e que demandava sacrifícios de animais e até humanos da população.
Na tal colina viria a ser construído o Castelo de Wawel, dos reis poloneses, e que você ainda pode visitar hoje. Há quem diga que a lenda tem inspiração bíblica; outros sugerem lendas pré-cristãs e até sacrifícios humanos em cultos antigos; e há quem diga que a lenda simboliza a presença dos Ávaros, povo que tinha um dragão como insígnia, e que teria oprimido os poloneses aqui e lhes cobrado tributos.


Na História propriamente dita, registros arqueológicos são de que Cracóvia é habitada desde o século VII, e desde o século X — quando os poloneses, assim como outros eslavos, se convertem ao Cristianismo — há registros escritos da cidade. Já um centro comercial medieval importante, no século XIII Cracóvia foi contudo arrasada pelos mongóis (sim, eles chegaram até aqui), então a maior parte do que você encontra aqui é posterior a isso.
Nos séculos XV e XVI, Cracóvia viveria sua “Era Dourada” sendo a capital do poderoso Reino da Polônia e, em seguida, do Grão-Ducado de Polônia e Lituânia. Eram tempos em que os alemães eram primos pobres nesta região da Europa. Foi graças à intervenção salvadora do rei polonês Jan Sobieski III, por exemplo, que os turcos foram rechaçados dos portões de Viena em 1683. Não fosse pelos poloneses, a capital austríaca dos Habsburgo teria capitulado ao sultão otomano.
Contudo, a roda da fortuna se viraria contra os poloneses. O apogeu deu lugar à época em que a Polônia deixou de existir. Entre 1794 e 1918 não havia Polônia no mapa, suas terras tendo sido repartidas entre a própria Áustria, a Rússia, e o Reino da Prússia (onde fica Berlim, e que lideraria mais tarde, em 1871, a Unificação da Alemanha).
Se você fizer um tour em Cracóvia, vai ouvir falar de Tadeusz Kosciuszko [lê-se “Tadeúsh Koshtchushko”, que é quando você percebe que os poloneses falam tão chiado quanto os portugueses]. Ele foi meio que um Garibaldi polonês. Participou da Revolução Americana em 1776 e depois veio à Polônia, em 1794 na esteira da Revolução Francesa, liderar uma insurreição polonesa contra as monarquias estrangeiras opressoras.
Os poloneses foram dos principais aliados de Napoleão e compuseram as chamadas Legiões Polonesas, as quais participaram de quase todas as campanhas — inclusa aí a fracassada invasão à Rússia em 1812. Afinal, Napoleão prometia a derrocada das monarquias russa, austríaca e prussiana, e anunciava uma nova era com a libertação dos povos subjugados. No entanto, Napoleão perdeu, e com ele perderam os poloneses, que só reconheceriam soberania depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Todavia, não deixou de se criar uma amizade entre os dois povos e certa francofilia entre os poloneses.

Sim, Chopin não era francês, mas polonês. Assim como Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel (que, não contente com apenas um, venceu dois prêmios Nobel, de química e de física). São poloneses que se radicaram na França, onde muitas famílias polonesas se refugiaram após a derrota napoleônica e o desaparecimento da Polônia enquanto país. (Portanto, já não se surpreenda se chegar de avião a Varsóvia e descobrir que o aeroporto de lá se chama Chopin.)





Cracóvia é deliciar-se na cultura e na História da Europa Central. É também, no entanto, conhecer de perto — com os próprios olhos — alguns locais emblemáticos da História mais recente do século XX, como a Fábrica de Oskar Schindler, o da famosa lista, e o campo de extermínio de Auschwitz, que fica aqui perto. Por ora, eu deixo vocês com os sabores da Cracóvia tradicional, e retorno com as memórias sombrias da Cracóvia moderna a seguir.
Uaaauuuu, que maravilha. Belissima região, magnificos monumentos, belos templos , lindos palácios, e que maravilhosa historia. Gente valente e sofrida. Maravilhosa postagem. Adoro essas estruturas e construções medievais, cheias de histórias com seus tons pasteis e sua bela arquitetura. Belissimas. Amo os telhadinhos vermelhos. Lembram-me a minha infância com os joguinhos de construção medievais. lindos, os jogos a infancia e o real ai da Krakow.
Adorei o ensaio dos Noturnos de Chopin pelo senhor hahaha
As guloseimas estão de encher os olhos e dar água na boca. Este café parece tudo de bom. Sua expressão fisionômica o diz hahah
Gostaria de ver tambem registradas e mostrad@s a igreja construida por Joao Paulo II e o convento onde a freira viu a figura de Jesus Misericordioso, muito popular aqui no Brasil. Nao sei se o senhor os viu meu jovem viajante. Soube que são bonitos, inclusive o interior.
Muito bonita a região. Gostei da postagem. Parabéns. Gostaria de visitar a região.
Eu e mais 2 pessoas iremos para Cracóvia ano que vem a partir de Praga. Você saberia me informar se o trem noturno é uma boa pedida? E onde a gente pega esse trem? A ideia é ap´s chegarmos no aeroporto irmos já pegar o trem. Se puderes ajudar, ficaríamos bem gratos.
Por sinal, adoramos seus relatos.
Olá, Nuno! Obrigado!
E desculpe não ter respondido antes.
Você tem sorte! O trajeto entre Praga e Cracóvia, embore ligue duas cidades históricas das mais fascinantes da Europa, até recentemente era bem complicado porque exigia muitas trocas de trens, e como resultado era uma viagem demorada e cansativa. Agora, não. A forma atual mais simples (e bem barata) é com o Leo Express. Você reserva e compra as passagens diretamente no site, https://www.leoexpress.com/en
Só se certifique de estar comprando o trecho em trem, pois a empresa também o oferece em ônibus.
E caso você procure fotos, o tio do Seat61, página especializada em viagens de trem, pôs algumas das opções desse trecho específico. Você pode conferir caso queira maiores detalhes dessas passagens. (https://www.seat61.com/trains-and-routes/prague-to-krakow-by-train.htm)
Sucesso e boas viagens! Qualquer outro toque, estamos aí.
Adorei ler suas histórias sobre a Polônia. Estou de viagem marcada para a dia 20/11. Meu filho trabalha lá e vou visitá-lo. Ficarei até janeiro. Passarei Natal e Ano Novo. Ainda não li nada sobre estas festas, mas acredito que deva ser muito bonita. Obrigada pelas dicas.
Que legal, Maristela!
Eu fico contente que você tenha gostado das histórias e podido conhecer mais dessas cidades onde passará o fim de ano. Natal é uma época encantada na Polônia, com feirinhas típicas nas praças principais de todas as maiores cidades. Muitos enfeites diante do frio, e certamente celebrações nas igrejas também, aonde os poloneses vão em grande número. Daí cada cidade todo fim de ano tem sua programação específica.
Ano Novo eu não conheço, mas sei que na Europa — devido ao inverno — costuma ser algo mais de festas em ambientes internos que no Brasil. Certamente há fogos, e às vezes shows de música nas praças, nas cidades principais. Seguramente em Varsóvia e Cracóvia.
Ótimo passeio e boas festas!