Os nossos vizinhos andinos aqui na América do Sul têm um patrimônio cultural fascinante, e menos conhecido no Brasil do que a proximidade geográfica nos faria crer. (Um brasileiro médio provavelmente conhece mais de cultura japonesa ou chinesa do que peruana ou equatoriana.) Compartimos séculos da mesma história colonial e uma mestiçagem semelhante, mas segue esse apartheid atencional do Brasil com seus vizinhos de língua espanhola que só aos poucos, com o turismo e os intercâmbios, é que estamos começando a superar. Estamos começando a nos reconectar.
Quito, como eu já coloquei antes, é das cidades mais belas da América do Sul — possivelmente a mais turística de todas as capitais do continente — com seu centro histórico rico de patrimônio cultural, igrejas coloniais, etc.
Esse matiz colonial, no entanto, se dá por sobre uma base indígena andina que permanece muito forte na cultura do Equador (como do Peru e da Bolívia), e há muita coisa interessante pra ver disso em Quito, pra quem se interessa.

Embora geralmente católicos, os equatorianos não abandonam as suas raízes culturais não-europeias — como fazemos tanto de nós do Brasil, sobretudo no Norte/Nordeste ou no Rio de Janeiro, onde o cristianismo se mistura fácil com tradições indígenas ou africanas.
Aqui em Quito, eu fui até a um pajé com consultório no centro da cidade, onde vi muitos se consultando. (Uma amiga suíça que sofria de prisão de ventre resolveu ir para resolver o problema e depois obrou que foi uma maravilha.)


Essa enormidade de símbolos pode parecer intimidadora, mas o tio era simpático — sério, mas simpático. Segundo a moça suíça, o seu ritual incluiu orações e baforadas de fogo (com álcool na boca) para limpar o seu o campo energético. Há tratamentos com ervas também, como na medicina natural brasileira.

O único procedimento tradicional que me deu pena, mas que não sei se ele faz, é um de sacrifício de porquinho-da-índia para curar problemas em órgãos internos. É a galinha de macumba, versão andina. (As pessoas — incluso muitos turistas — o comem assado no espeto pelo sabor da sua carne, sem nenhuma intenção mais louvável que o mero prazer de comer, então lembre-se disso antes de lamentar a sua morte no ritual.)
Esse animal, nativo aqui da América do Sul, é conhecido no Equador como cuy, pelo sonzinho que faz, e é pau pra toda obra, coitado. Dizem que ele é um animal muito sensível às vibrações, e que taitas costumavam tê-los em suas cabanas para avaliar a vibração do visitante com base na reação dos animais à visita.




Para quem quiser ver de perto algo de cultura tradicional andina em Quito, eu recomendo uma ida ao ballet folclórico equatoriano Jacchigua, em exibição todas as semanas na Casa de la Cultura Ecuatoriana. Eles têm uma exibição permanente e algumas especiais, temporárias. Você encontra o programa no site da casa de cultura.
Abaixo estão alguns curtos vídeos de tira-gosto que eu fiz lá, de música e dança.





Rafael nos contou que, após uma apresentação dessa companhia de teatro na França, lhe perguntaram se ele era terceiro-mundista. “Esse rótulo de ‘Terceiro Mundo’ é uma coisa de vocês“, teria dito. “O que buscamos é valorizar a nossa cultura.”
Linda cultura andina. Belas cores, passos elegantes, ritmo bonito, sonoros instrumentos, uma delicia, para os olhos e os ouvidos. Fez-me saudade de quando visitei o Peru e a Bolívia. Há muitas semelhanças. Muito rica essa maravilhosa latinoamerica. Isso para não falar na linda miscigenação dos povos e nas magnificas raízes incas.
Coitados dos porquinhos da índia, Tao bonitinhos.
Achei deveras engraçada a experiencia da sua amiga e a resolução da contingencia hahah.
Muito bonitas a cultura e a arte equatorianas.
Ótima postagem.