Basta mostrar um castelo e falar “Transilvânia”, e os ocidentais imediatamente pensam todos no Drácula. Calma, a Transilvânia tem bem mais que isso, nem é esse lugar macabro que muitos imaginam. Há, sim, uma atmosfera algo soturna, nebulosa, ajudada tanto pela natureza ainda preservada de matas e colinas verdes (ou algo brancas, no caso deste inverno) quanto pelas estruturas medievais pitorescas bem conservadas. Longe de malévolo, o ambiente é bem bonito, bucólico e até romântico.
Por exemplo, celebra-se muito bem o Natal aqui na Transilvânia. Pra quem não sabe, estamos no miolo da Romênia. O país é entrecortado pelos Cárpatos, montanhas que cortam o país na forma de uma lua crescente, e a Transilvânia é o que está no centro.


Na estação de trens Bucareste, Gara de Nord, nomeada à semelhança da parisiense Gare du Nord, duas ciganas circulavam com dois cordeiros brancos enfeitados com guirlandas natalinas vermelhas, como se fugidas de alguma manjedoura de encenação.
Minha mãe olhou pra elas, e prontamente vieram pedir esmola. Acredito que estavam oferecendo fotos com os cordeiros em troca de um trocado. O pobre de um cordeiro mancava, parecendo assustado de estar ali na estação cheia.
No trem, alguns homens de ar pobre transitavam pelo corredor vendendo revistas e desejando boa tarde antes de partirmos. Os trens na Romênia são razoavelmente confortáveis, se suas expectativas não forem muito altas. Num post posterior eu falarei mais deles e de como reservá-los.
Os campos, agora nevados, da paisagem romena desta região da Valáquia logo dariam lugar às montanhas brancas e verdes dos Cárpatos, que delimitam a mal-afamada Transilvânia — um lugar lindo. Ainda a adentrávamos quando, juro, senti odor de alho dentro do trem. Me perguntei se alguém seriamente tinha medo de vampiros, ou se eu é quem estava imaginando. Até confirmei com a pessoa ao meu lado, que garantiu haver mesmo cheiro de alho no ar.




Chegaríamos a Brasov à tardinha. Lê-se “Brashov”, já que esse S tem cedilha e, portanto, som de “sh” em romeno. Uma das cidades mais pitorescas da Transilvânia, que eu havia visitado há anos, no verão de 2011, e que agora parece estar mais desenvolvida. Um longo calçadão com lojas de marca, bancos, cafés e restaurantes serve de artéria que corta o centro histórico da cidade até a famosa Basílica Negra (Black Church, ou Biserica Neagra em romeno), uma catedral gótica cujas pedras escureceram-se após um incêndio.
A estação, todavia, fica algo afastada do centro histórico. Um táxi por cerca de 15 lei (apr. R$ 15) o leva até lá *se não houver malandragem do taxista*. Ou você pode tomar o ônibus 51, que passa várias vezes por hora. Como noutras partes da Romênia, é preciso comprar um ticket antes, num quiosque, e validá-lo numa das maquinetas dentro do ônibus. O motorista não tomará conhecimento, mas há fiscais que podem entrar e checar os passageiros, e multá-lo se você não tiver um ticket validado. Os tickets aqui em Brasov custam 4 lei, e servem para dois usos — que podem ser para duas pessoas numa mesma ida.
Octavian, funcionário da pousada que reservei, me ligou quando eu ainda estava no ônibus. Logo, na parada da Biserica Neagra, veio aquele altão simpático com hálito de fumante me apanhar. Caía uma neve fina naquela noite precoce de fim de dezembro, muitas pessoas na rua — em sua grande maioria romenos — ainda a curtir os ares natalinos que permaneciam com a feirinha de Natal e suas decorações ainda na cidade.





Como quem já veio sem dúvida sabe, a Transilvânia tem uma cultura bastante diferente do restante da Romênia. De fato, o país “Romênia” com as fronteiras atuais só existe há 100 anos, desde 1918, com o fim da Primeira Guerra Mundial. A Transilvânia foi por muitos séculos na Idade Média uma região húngara, depois caindo em mãos turcas e depois austríacas. Como resultado, ela se parece mais com a Europa Central — com fortes influências húngaras e germânicas — que com o restante da Romênia.





Brasov emergiu como cidade em 1211, por ordem do rei húngaro André II, que convidou cavaleiros teutônicos (germânicos) a povoar a região e ajudá-lo na defesa das fronteiras de suas terras. Os teutônicos chamaram a cidade de Kronstadt, “cidade da coroa”, e seria uma de muitas cidades da Transilvânia que hoje carregam influências tanto germânicas quanto húngaras — e, muitas vezes, um nome em romeno, outro totalmente diferente em alemão, e um terceiro em húngaro.



Continuaremos a ver mais e mais das heranças húngaras e germânicas aqui na Transilvânia. Mas como hoje isso tudo é Romênia, juntei-me a celebrar com os romenos os 100 anos de formação da sua república.
Copinhos de papel festejando o centenário eram dados com o vin fiert, como o quentão de vinho é chamado em romeno. Bandeiras da Romênia estavam hasteadas por toda parte; em parte por celebração, em parte por nacionalismo querendo ser imposto aos descendentes de alemães e húngaros que ainda vivem aqui na Transilvânia em grande quantidade e que preservam a vida em seus idiomas próprios. (Estimam-se, por exemplo, mais de 1 milhão de pessoas que têm o húngaro e não o romeno como primeira língua na Transilvânia.)






Mas Brasov não era minha parada final na Transilvânia; era só o começo. Eu rumaria daqui a Sighisoara, a cidade onde nasceu o nobre que inspirou o Drácula e uma das cidades mais pitorescas desta região.
Nossa que fofura de cidade. Parece casa de boneca, Lindas ruelas, belo casario, gostosas praças, deliciosas barraquinhas de Natal, com o saboroso quentão, fazem o Natal muito especial. Fofa cidadezinha. A decoração e as luzes coloridas são um espetáculo à parte. Belas construções, lindas igrejas e uma arquitetura muito charmosa. Tudo lindo. O inverno, o frio e a neve emolduram essa linda festa e criam uma atmosfera de sonhos. Bela região. Linda cidadezinha. Parece um presépio. Certamente um feliz tempo de Natal.