Finalmente vim eu a este que tem sido um dos destinos mais populares dos últimos anos entre os brasileiros: San Pedro de Atacama, no norte do Chile.
Eu nunca havia entendido o porquê dessa “febre”, até vir. Eu vim em janeiro, na alta estação, quando as temperaturas estão mais razoáveis e as ruas pululam de visitantes. É bem turistão, repleto de brasileiros, um misto de paisagens e festa. Você faz o que quiser acerca das festas, mas se prepare para ter — como mostrarei ao longo dos próximos posts — algumas das vistas mais impressionantes que seus olhos já viram.

Quando eu cheguei vindo do Brasil naquela madrugada, o aeroporto de Santiago parecia — com exagero e tudo — um campo de refugiados, com gente dormindo por toda parte, em todos os bancos, até naqueles corredores que levam aos sanitários. Além dos dormentes das mais variadas etnias, uma grande quantidade de haitianos, estes talvez refugiados de verdade. Cheguei a ajudar uma que não sabia nada de espanhol, só francês, e segui para tomar um café.

Qual foi a minha triste surpresa ao lembrar que no Chile não se toma café de verdade. Você pede um café e lhe trazem uma bela xícara de água quente acompanhada de um sachê de Nescafé para dissolver. Depois de uma pausa para absorver a informação, aceitei a realidade — como os psicólogos nos dizem que devemos fazer nessas situações — e fiz hora até o embarque do meu voo rumo ao norte.
San Pedro de Atacama, apesar da grandeza da fama e do nome, é na verdade um pequeno e rústico vilarejo no deserto. Nāo há aeroporto: é preciso voar ao município de Calama, a cerca de 100Km. Há transfers aguardando praticamente todos os voos, tenha você reservado ou não. O preço é padronizado em 12.000 pesos chilenos só a ida, ou 20.000 pesos ida e volta. Via de regra, eles deixam você na frente da sua acomodação. [Aquilo corresponde, respectivamente, a uns R$70 e R$115. Como você notará, embora seja América Latina, este não é um destino exatamente barato. Mas falaremos sobre custos mais tarde.]
A van nos levava pelas estradas retas do Deserto de Atacama, um deserto de barro seco em vez de areia. Quase não se veem dunas, muito menos daquelas areias douradas do Saara; aqui, o que se veem são pedregulhos na extensão seca, como uma lama cor-de-barro seca e feita quebradiça pelo calor.



O meu motorista, um nativo com aquelas feições típicas e um mullet de cabelo liso preto, escutava as músicas populares andinas naqueles ritmos bolivianos — inclusa uma versão em espanhol de “Pelados em Santos”, dos finados Mamonas Assassinas. Cachorros mil cruzavam as ruas enquanto gradualmente ele deixava as pessoas em seus albergues e pousadas.
“San Perro de Atacama“, disse-me ele que era o apelido da cidade pela quantidade de cães de rua soltos. (Todos os que encontrei, muito tranquilos.) Como fui dos últimos a ser despejados, ficamos a conversar. “Hay sobre todo chinos y brasileños“, contou-me sobre os turistas. Acho que mais de 90% da economia de San Pedro gira em torno do turismo. Há, segundo ele, 400 hostels no que é um povoado de seis mil pessoas. Vi incontáveis agências vendendo tours, e lojinhas com artesanatos bolivianos a preços mais caros.
“El Mamatierra está bien“, disse-me ele ao despejar-me no albergue daquele nome. Não nos veríamos mais. O Mamatierra foi o meu oásis no deserto por estes dias.

Fui atendido por Javiera (pra você que também nāo sabia que Xavier em espanhol tinha feminino), uma garota chilena simpática e bem apessoada, que certamente precisa ficar manejando flertes de hóspedes. Informou-me sobre a Pica del Indio, um famoso restaurante local, e outros pontos de interesse na cidade. Logo mais acertaríamos alguns passeios.

Caminhando por San Pedro de Atacama, você percebe que a cidade em si não é exatamente uma fofura, nem eu diria que é uma cidadezinha linda. Tem seu charme desértico, mas é uma cidadezinha bastante rústica, com muita poeira subindo quando os carros passam ou o vento bate por livre e espontânea vontade pelas suas ruelas de chão de terra.
Tudo você faz a pé por essas poucas ruas ao redor de uma praça principal com igreja e o mercado central.




As elevações aqui são imensas. A própria San Pedro, não parece, fica a 2.400m de altitude. Prepare-se para um tempo de aclimatação, ocasionais dores de cabeça, e um sol que queima como fogo. (Sim, ninguém disse que este era um passeio de conforto. Estamos numa das áreas mais inóspitas da Terra, e talvez por isso tão majestosa.)







Antes desse anoitecer, porém, eu já começava os meus passeios na região. As pessoas vêm a San Pedro de Atacama não é pela cidade em si, mas por aquilo que seu entorno oferece. O meu primeiro tour seria ao Vale da Lua (Valle de la Luna), normalmente feito no fim de tarde, às 16h.
Foi engraçado porque a princípio eu não me impressionei tanto. Depois, com o findar do dia, é que a coisa vai ganhando mais beleza.








Não se vá logo na primeira leva; certifique-se de ficar para ver as cores no céu depois que o sol se põe.


Este foi meu modesto primeiro dia em San Pedro de Atacama e região. Muito mais estava por vir.
Continua em San Pedro de Atacama, Chile (Parte 2): Flamingos andinos e as Lagunas Altiplânicas
Uuuuuuuu que beleza de cenário!… Belíssimo pôr de sol, com essas lindas nuances de rosa, vermelho, amarelo e lilás. Uma maravilha. Lindo esse vale da lua, apesar de inóspito.
O vale de Marte tambem interessante . Parece mesmo que se está fora do planeta.
Achei bonito o deserto com a linda Vicunha. Fofinha ela.
A vila parece um pouco com as cidadezinhas em beira de praia aqui do NE do Brasil.
Belas rochas. Gostei da pracinha. Bonitinha e despretensiosa. A igrejinha é muito bonitinha. Encanta pela simplicidade.
Amei o hostel!.. muito agradável.
Coitado do senhor, meu jovem amigo com esse café horrível. Imagino o desgosto. Isso me faz lembrar um outro café que tomei numa certa viagem que fiz a Puebla, no México. O senhor teria ficado horrorizado se estivesse la. Deixei de pedir café no hotel em que estava hahaha um horror. Arremaria !… parecia água quente suja hahaha. Esqueceram de por o pó novo e pareciam ter reutilizado o da véspera hahaha sabe-se la de quantos dias hahaha
A região parece ser interessante mas como tenho aversão ao calor e ao sol quente, não me aventuraria em visitá-la. Prefiro apreciá-la através desse maravilhoso blog hahaha. Valeu viajante.
Que legal. Eu também fiquei no Mamatierra em 2014. E também fui muito bem atendido por lá. Uma dica legal pra quem quer gastar pouco com alimentação em San Pedro é a Cocineria Tchiuchi, um pequeno restaurante que normalmente atende mais gente local do que turistas, cujo principal (e único) prato é frango assado com batatas fritas. Mas era bem gostoso e vinha em muita quantidade. E sai ainda mais barato se for no restaurante com mais gente, pois existem opções mais econômicas para 2 e 4 pessoas. Nos 6 dias que fiquei no Atacama fui 3 vezes nesse restaurante.
Olá, Mairon , estou me preparando p/ combinar Atacama c/altiplanos bolivianos no início de agosto. De tudo o que li a tua reportagem é a mais completa e mais bem escrita. As fotos são inspiradoras. Graças a você não preciso mais pesquisar . Muuuito obrigada. Se v. tiver um blog vou te seguir. Antes viajava com meu marido, mas ele teve a má idéia de falecer e passei a viajar sola.Estou adorando Deus te abençoe por tua generosidade.
Que coisa boa de ler, Maria de Lourdes! Fico muito contente que você tenha gostado dos meus relatos e que eles a tenham inspirado. Obrigado pelos elogios! Eu escrevo continuamente nesta página (maironpelomundo.com), sempre sobre destinos novos aonde vou, e postando sempre às segundas e quintas. Seja muito bem vinda.
Parabéns também pela boa disposição em continuar a viajar e a conhecer mais do mundo mesmo agora sem a companhia do seu marido. Tudo de bom e um ótimo passeio pelos Andes!