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Chile

Fiorde Ultima Esperanza e os glaciares Balmaceda e Serrano, na Patagônia Chilena

Após ver um glaciar argentino no dia anterior, hoje era dia de ver glaciares chilenos. Nacionalidades irrelevantes à parte, são belezas estonteantes deste extremo sul da América do Sul. Na Patagônia às vezes parece, sinceramente, que estamos em algum cenário de O Senhor dos Anéis ou coisa parecida.

Hoje eu aqui tomaria até uísque com gelo milenar. 

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Dá até para imaginar os dragões de Game of Thrones voando aqui.
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Nós diante daquilo.

Este passeio pelo fiorde Última Esperanza e para ver os glaciares Balmaceda e Serrano é mais um dos tours espetaculares que você pode fazer a partir de Puerto Natales, cidade chilena aqui no extremo sul do país.

Duas empresas realizam esse passeio: Agunsa e 21 de mayo, com semelhanças mas também algumas diferenças. O preço costuma beirar os 90.000 pesos chilenos, a depender da fatia reclamada pela agência que lhe vender o passeio e da sua habilidade de barganha. Isso sai mais de USD 130 por pessoa, ou seja, uns R$500 para um passeio de um dia. Eu sei, é caro, mas assim são os preços na Patagônia chilena. (Eu joguei meu lado mais econômico para escanteio e resolvi aproveitar, pois já havia gasto muito mais para chegar aqui até este fim de mundo.)

Ambas incluem almoço farto numa estância. A Agunsa — dizem — oferece um almoço melhor, com mais opções, e usa embarcações menores. Mas por isso mesmo é mais susceptível a cancelamentos devido ao ouriçado tempo patagônico, de ventos fortes imprevisíveis. Já a 21 de mayo faz o passeio em embarcações maiores e portanto grupos maiores, mas cancela menos. Segundo Samuel, o ex-capitão hoje dono do albergue onde me hospedei em Puerto Natales, estas maiores são embarcações muito mais estáveis e seguras. Foi a que tomei.

O vento estava, de fato, violento quando zarpamos. O barco da Agunsa não saiu.

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Meu cabelo é grosso, não mexe muito, e olha como estava.
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Interior do barco. Você pode circular à vontade.

Descer o fiorde Última Esperanza, esse braço de mar que banha Puerto Natales, era a nossa primeira rota. Ali veríamos o glaciar Balmaceda, das fotos anteriores, e que devido à mudança climática global — causada pelo ser humano — já não não alcança mais o mar. As quedas e acúmulos de neve que criam esse gelo azul sob pressão já não são mais como antigamente. Elas vêm diminuindo como em outras cadeias de montanha mundo afora, como os Himalaias e os Alpes. Assim o gelo glacial não se renova suficientemente.

Apesar disso, ele continua sendo uma visão impressionante.

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A nossa expedição descendo pelo fiorde Última Esperanza, na Patagônia chilena.
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Cachoeiras chegando às águas claras daqui, onde o mar recebe água dos glaciares derretidos e se clareia.
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Nossa vista.
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Avistando o glaciar Balmaceda lá ao longe.
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Visto de perto. Devido ao aumento da temperatura média do planeta (aumento que é mais expressivo nas regiões polares), o glaciar não mais alcança a água do mar.
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De outro ângulo, o glaciar Balmaceda, na Patagônia chilena.

Depois de mirar o glaciar Balmaceda, nosso barco seguiu adiante até o Parque Nacional Bernardo O’Higgins, onde faríamos uma caminhada até o mirante para o glaciar Serrano. Lugar plácido, calmo, e remoto. Não havia sinal de quaisquer outras pessoas além de nós.

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Nossa caminhada, admirando a natureza selvagem da Patagônia.

Eu, no post anterior, em visita ao glaciar Perito Moreno no lado argentino dos Andes, mostrei as estepes patagônicas, campos quase infinitos e de vegetação baixa. Aquilo se dá pelo baixo índice pluviométrico (pouca chuva). Já aqui nestas partes mais próximas às montanhas e de maior umidade, a natureza é mais exuberante.

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Parece que estamos no Canadá, mas é América do Sul. No Parque Nacional Bernardo O’Higgins, no Chile.
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O gelo glacial ainda nas águas do fiorde. (Foi desse que apanharíamos para o nosso uísque mais tarde.)
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Visão de onde estamos, com o glaciar Serrano mais adiante.
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As pequeninas belezas do lugar também são impressionantes.
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Micro-mundo de musgos e outras pequenas plantas nas rochas.
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Calafate, frutinha vermelha nativa aqui da Patagônia. (Não deixe experimentar um coquetel Calafate Sour na região.)
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A caminhada termina diante do glaciar, com o esplendor da natureza macro.
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Glaciar Serrano.
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Eu com o brilhoso gelo milenar lá atrás. Parece um mundo encantado.
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A vista para o céu da tarde, do céu nublado ao gelo na água, na Patagônia.

O grosso do passeio se dá até o começo da tarde, quando então paramos para o almoço — um daqueles almoços longos e com tempo livre depois para descansar.

Enquanto nos dirigíamos à estância, serviram-nos uísque com gelo glacial desse que já estava a caminho de se diluir na água. (Não, ninguém foi com a marreta para o glaciar.) O placebo aí trabalha horrores para dizer que gelo milenar é mais gostoso. Eu nem gosto de uísque e achei uma maravilha. Sensação mil.

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Uísque com gelo milenar.

Quase todos os demais turistas aqui eram chilenos, vindos de Santiago ou de outras partes do país. Foi engraçado porque, latino-americano junto, tendemos a ser expressivos de nossas opiniões, o que hoje em dia acaba em bomba quando se percebe que nem todos compartilham da mesma visão política — e hoje em dia quase não se fala de outra coisa no Ocidente.

Foi aí que um tio de Santiago, que já havia tomado umas duas doses, disse com o copo na mão — e aquele sorriso boa-praça de quem já tomou umas — “não falemos de política“. Era o mais lúcido. De fato, havíamos pago demais para nos engalfinharmos na Patagônia.

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Aqui ancoramos.
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A estância para o almoço. Na prática, é um grande restaurante, embora tenha esse ar de fazenda por fora.
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O mar logo ali, e as montanhas mais adiante. (Notem as pequenitas pessoas lá na margem.)

O carro-chefe dos almoços aqui na Patagônia é quase sempre cordero a la parilla (churrasco de cordeiro, já que estamos numa região dominada por pastos de ovelhas). A opção vegetariana acabou sendo um macarrão mequetrefe no molho de tomate, mas não me importei muito. Eu estava ali pela paisagem.

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No fiorde Última Esperanza, Patagônia.

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Era o meu passeio final desta viagem aqui à Patagônia chilena. Retornaríamos no meado da tarde a Puerto Natales, de onde eu retornaria a Punta Arenas (para rever Nirvana, a filha do dono do albergue), e daí tomar o meu voo. Outras paragens me aguardavam em breve.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

One thought on “Fiorde Ultima Esperanza e os glaciares Balmaceda e Serrano, na Patagônia Chilena

  1. Arrremaria, meus olhos estão repletos da beleza azul dessa região incrivelmente fantástica, e o coração leve como se houvesse voado até aos Céus visse as belezas celestes e voltasse à terra. Magnifica região, belíssimas águas azuis formidáveis montanhas, lindos fiordes, um espetáaaaaaaculo. Que descoberta, meu amigo!… maravilhoso espetáculo de cor e pujança. Amei. Obrigada.

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