Tempos depois da última visita, estou eu aqui novamente.
A Cidade do México é das minhas favoritas no mundo. Não morro de amor, mas gosto. Talvez seja um apreço mais de admiração intelectual que de afeição. Afinal, poucas cidades no mundo têm a magnitude desta metrópole de 20 milhões de habitantes com uma herança cultural que remonta aos astecas (com ruínas da sua capital Tenochtitlán aqui), a fartura da culinária mexicana, sua gente festiva, a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe (sítio cristão mais visitado do mundo), entre outros fortes. Quer você se afeiçoe a esses lugares quer não, há de se reconhecer o calibre daqui. É uma cidade com o porte de São Paulo, a vivacidade cultural do Rio de Janeiro, o status de capital de Brasília, e um legado histórico mais antigo que Salvador.
Já do México, o país, eu gosto é de coração mesmo, e retornar aqui me encheu de alegria e de um sentimento de familiaridade. Eu só havia vindo aqui uma vez antes — embora uma vinda longa, que gerou os posts anteriores —, mas sinto ainda assim aquela familiaridade natural que surge quando gostamos de coração de algo ou de alguém. Ou de algum lugar.
Tive que relevar o fato de mal ter retornado e já no primeiro dia tentarem me assaltar.

Tomei o metrobús desde o aeroporto (um BRT), mas na hora de trocar de linha me veio um chapa fingindo querer me ajudar com a mala. Quando entrávamos no congestionado ônibus seguinte, o miserável tentou tomar a mala de roupas (não sei pra que) e enfiar a mão no meu bolso. Mas meus bolsos são fundos e apertados. Não levou nada o cabrón, e desapareceu como fumaça na multidão. Serviu para a gente ver que, como no Brasil, tudo está em ordem até acontecer alguma coisa. E, também como no Brasil, o melhor é sempre não chamar demais a atenção.
Ninguém deixe de visitar o México por conta disso. É só tomar as precauções habituais e lembrar que se está na América Latina.
Dali eu chegaria à casa do señor Alfonso, um baixinho de cabelos grisalhos que havia me hospedado uns dias na minha viagem anterior, no agradável bairro Roma. Ele se recordou de mim e pôs-se a me contar como estava o México.
“El peso está muy mal“, comentou señor Alfonso referindo-se à moeda mexicana, que se desvalorizou bastante de 2015 para cá. Ao contrário do Brasil, a maioria dos demais países da América Latina é ainda mais susceptível às flutuações da moeda norte-americana. Há preços do dia-dia aqui cotados em dólar e pousadas que cobram noites em dólar, coisa muito diferente da nossa realidade brasileira (e pior, eu diria).

Desta vez eu iria ao sul do México, um encanto de culturas nativas, mas não sem antes percorrer e rever alguns dos pontos principais desta capital.
Revi os simbólicos e históricos murais do pintor Diego Rivera na Secretaría de Educación Pública e no Palacio Nacional, ambos no centro. Revi a linda Catedral Metropolitana, na ampla praça principal da cidade, chamada de Zócalo. E entrei novamente no vasto e interessante Museu do Templo Mayor, feito sobre o grande templo dos astecas nesta sua capital Tenochtitlán, redescoberto pelos arqueólogos.






Diziam os rumores que Catedral Metropolitana havia sido construída propositadamente sobre as ruínas do Templo Mayor dos astecas, povo indígena que governava esta região do México à época da chegada dos espanhóis. Contudo, no início do século XX se descobriu que o Templo Mayor, na verdade, ficava a algumas centenas de metros daqui. O que se redescobriu é acessível hoje no ótimo Museu do Templo Mayor, ao qual eu recomendo um par de horas se você se interessa por História e/ou cultura indígena.





É num mero raio de um quilômetro que ficam tantas dessas atrações no centro da Cidade do México. O Palacio Nacional e a Secretaría de Educación Pública são entrada franca, pois são prédios do governo, mas no primeiro é preciso deixar o passaporte na entrada.



Outro lugar, mais distante do centro, que não pode deixar de ser visitado é o Parque Chapultepec. O nome, na língua náhuatl que falavam os astecas significa “colina dos gafanhotos”. Hoje, ela é um vasto bosque na selva de pedra com seu céu acinzentado de poluição. Ali, revisitei o interessante Castelo de Chapultepec e o magnífico Museu Nacional de Antropologia, um dos mais impressionantes de todo o mundo. (No parque tive também um almoço esculhambadérrimo, representativo dos sentimentos mistos que nutro pelo comer no México.)
Crianças amarradas de “barrigueira” e seguras pelos pais (acho que para não sumirem na multidão) eram vistas por toda parte, assim como as ofertas de batata chips apimentadas, algodão-doce, e outras merendas processadas mega-coloridas. (O México, infelizmente, sofreu influência nefasta de algumas das piores coisas do vizinho Estados Unidos. Os mexicanos hoje, por exemplo, bebem em média 700 copos de Coca-Cola por ano, o dobro da média dos EUA.)


O almoço aqui no parque foi um pouco como muitos na Cidade do México: um improvisado de comida callejera, como os mexicanos chamam a “comida de rua”. Você pode fazer todas as suas refeições em restaurantes se quiser, mas parte da aura mexicana é experimentar as várias formas de se comerem tortilhas de milho, feijão cozido e pimentas aqui no México. São muitas as formas em tortillas, enchiladas, quesadillas etc., que cheguei a compilar num post sobre comida mexicana.


Essas foram enchiladas, de massa de milho frita feito doritos, com recheio de frango num caudaloso molho de pimenta verde, coberto por queso panela (esse queijo branco aí) e creme.
Mas sobre as comidas mexicanas voltamos a falar depois. Eu os manterei ao corrente das experiências que tive.
Aqui no parque revi o belo Castelo de Chapultepec, onde se pode aprender bastante da História recente do México (do século XIX pra cá, incluindo a Revolução Mexicana liderada por Pancho Villa e Emiliano Zapata).
Originalmente concebido como palácio para o vice-rei espanhol em 1763, o castelo só adquiriu o aspecto de palacete que tem hoje um século mais tarde, quando o México — tal qual o Brasil — era um império. Você vê cara de Europa por toda parte, já que o então imperador Maximiliano I trouxe arquitetos lá do outro lado do Atlântico para enfeitar sua morada. Foi o presidente Lázaro Cárdenas, já nos anos 1930, quem o transformou de morada presidencial mexicana em museu de História.




É muita coisa para falar do México, e até mesmo de sua capital. É por isso que alguns pontos de mais destaque como o belo Palácio de Belas Artes, o magnífico Museu Nacional de Antropologia, o simpático Bairro de Coyoacán, e a sagrada Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe eu trato a seguir em posts dedicados. E a nova viagem México afora tem início.
Uaaaauuuuuu, que espetáaculo essa praça com essa deslumbrante Catedral!…Que cidade magnifica, quanta beleza, riquezas histórica e artística. Belíssima e arrojada essa arquitetura mexicana. Linda Catedral, por dentro e por fora. Um verdadeiro monumento. Que maravilha!…. Encantada, fiquei.
Que belos murais e afrescos tanto na Catedral quanto nas outras instituições visitadas. Maravilhosos e vistosos tons, projetando o que seria o burburinho cotidiano de uma antiga, grande e populosa cidade.
Que importante saber quanto do que usualmente utilizamos na alimentação são autóctones das Américas e já existiam aqui antes dos colonizadores/das invasões espanholas e inglesas(dos EUA). E que museu interessante.
Belissimo tambem esse passeio que o senhor nos mostra, meu caro viajante, em Chapultepec, seus monumentos, seu belo palácio, seu museu e sua linda e bucólica vista assim como sua amplitude.
Como não poderiam faltar aparecem as comilanças tipicas que marcam as suas viagens e o burburinho da cidade. Tudo isso temperado com bom humor e um pouco de picardia hahaha.
Ponto triste sempre a realidade da destruição das culturas autóctones e de seu povo pelos ” colonizadores”. Homo lupus homini, infelizmente. Ainda bem que as ruínas descobertas contam essas histórias, apesar de nem sempre alegres. Cést la vie.” O drama da raça humana sobre a terra” diria Burns no seu Compendio de História mundial.
Maravilhosa postagem. Gostei muito. Amei essa cidade. Amo a Latinoamerica.