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CDMX México

O Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México em 20 fotos: Conhecendo os antepassados

Se você usa roupas de algodão, esse algodão industrial de hoje foi domesticado pelos indígenas mexicanos. Se você come milho de qualquer tipo, a sua domesticação e cultivo também se devem aos indígenas do México e da América do Sul. São antepassados culturais da América Latina (e, em certa medida, do mundo todo) mesmo para quem não tem sangue indígena mesoamericano. 

Há um mundo de coisas não ditas, sub-ditas, ou desconhecidas acerca dos indígenas das Américas. Eu cheguei a discorrer antes sobre isso. O Museo Nacional de Antropologia na Cidade do México provavelmente é o maior e melhor do mundo no tema. Eu aqui o apresento humildemente em 20 fotos. Não representa nem de longe tudo, mas uma amostra.

Eu o revisitei logo após as minhas voltas no Parque Chapultepec, onde o museu se localiza. Sugiro alocar ao menos 2-3h para a visita. 


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1. A Entrada. O Museu Nacional de Antropologia é uma preciosidade mundialmente reconhecida na Cidade do México. Sua entrada está repleta de grandes dizeres em paredes inteiras, ou poesias nativas. “O povo mexicano levanta este monumento em honra às admiráveis culturas que floresceram durante a era pré-colombiana em regiões que são agora território da República. Frente aos testemunhos daquelas culturas, o México de hoje rende homenagem ao México indígena, em cujo exemplo reconhece características essenciais da sua originalidade nacional“, Adolfo Lopes Mateos, Presidente da República, em 1964. (Naquele ano, o Brasil estava em completamente outra. Quem dera um dia possa fazer tamanho reconhecimento e trabalho com as suas próprias culturas indígenas também.)
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2. Halls do museu, e paredes decoradas de Teotihuacán. O vasto museu está em organizado em dois andares e duas dúzias de grandes saguões, categorizados por nação indígena. Aqui, elementos dos templos vermelhos de Teotihuacán, cidade-estado que floresceu próximo à atual Cidade do México entre os anos 100-800 d.C. Visitei suas magníficas ruínas com as imensas pirâmides do sol e da lua anteriormente, mas muitas peças foram trazidas cá para este museu.
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3. Templo de Quetzalcóatl. Trazido também de Teotihuacán, este ornamentado portal vermelho faz parte do complexo que era um templo à “serpente emplumada”, a divindade Quetzalcóatl, presente em muitas das culturas mesoamericanas (entre o atual México e América Central). Esse deus era patrono do vento e do aprendizado. Seus primeiros registros na Mesoamérica datam do século I a.C.
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4. “Pedra do Sol” asteca. Esse círculo de 3,5m de diâmetro e 24 toneladas de rocha basáltica é talvez o mais famoso dos artefatos astecas remanescentes. Embora às vezes erroneamente chamado de “calendário”, ele é na verdade um diagrama cosmológico com o deus-sol no centro e símbolos astrológicos astecas em círculos concêntricos. Estima-se que tenha sido confeccionado entre os anos 1470-1520.
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5. Tenochtitlán, a capital asteca. A Cidade do México hoje repousa sobre o que foi um dos mais impressionantes feitos de engenharia e urbanismo da História humana. Aqui ficava Tenochtitlán, populosa cidade (dizem os observadores da época que maior que qualquer cidade europeia contemporânea, até mesmo Constantinopla) edificada sobre um lago, o Lago Texcoco, como na pintura. Pontes e canais a conectavam. A maquete mostra o que teria sido a sua praça principal com o Templo Mayor. Como detalhei em outro post, o nome “astecas” passou a ser empregado somente a partir do século XIX. O povo daqui se chamava de Mexica, daí o nome do país.
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6. Retrato de Montezuma II (1466-1520), imperador dos astecas (ou mexica) quando da invasão dos espanhóis, aqui retratado com ornamentos de jade. “Trazia o cabelo grande, muito negro e reluzente, quase até os ombros; os olhos negros, o olhar grave, que olhando-o o convidava a amá-lo e reverenciá-lo”, descreveu Montezuma o espanhol Francisco Cervantes de Salazar no seu livro Crónica de la Nueva España no século XVI.
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7. Cocar de Montezuma. Esse enorme cocar de penas e fios de ouro teria pertencido ao imperador asteca/mexica (retratado acima). Este, no entanto, é uma reprodução: o original se encontra no Museu de Etnologia em Viena, na Áustria, o que é uma atual disputa entre os países, já que o México exige o retorno da peça.
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8. “Cabeça Colossal” dos Olmecas. Os Mexica ou Astecas foram apenas a civilização mais recente de uma longa tradição neste caldo cultural da Mesoamérica. Um dos primeiros foram os Olmecas, civilização que floresceu aqui entre 1500-400 a.C. Seu legado mais curioso são estas chamadas “cabeças colossais” de toneladas de basalto. Há várias, e imagina-se que são representações de homens poderosos da época, no primeiro milênio antes de Cristo.
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9. “Homem barbado” Olmeca. Ou “o velhinho do swing”, como eu sempre imagino esta escultura. Ela data dos últimos séculos dos Olmecas, nos idos de 500 a.C., na região de Veracruz, perto do Golfo do México. Esse povo foi o primeiro — seguidos pelos mayas — nesta região a fazer esculturas com contornos mais delineados do corpo humano. Imagina-se que esse era um nobre, pois entre os Olmecas só as pessoas de classe alta podiam criar barba.
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10. “Atlante” Tolteca. Essa figura de 4,5m de altura é um dos chamados atlantes, as notáveis esculturas de guerreiros gigantes realizadas pelo povo Tolteca. Os europeus é que os apelidaram de “atlantes”, com base no mito de Atlântida, o continente perdido no Ocidente supostamente habitado por gigantes. Os Toltecas dominaram o centro do atual México (precisamente na região do atual estado de Hidalgo) entre os idos de 600-1100 d.C. Por um tempo, eles foram contemporâneos dos mayas mais a sul. Os astecas, que vieram depois, consideravam os toltecas seus ancestrais culturais.
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11. Arte Zapoteca. Os Zapotecas emergiram no sul do México (na região do atual estado de Oaxaca) entre os anos 500 a.C. e 800 d.C. Sua principal cidade foi Monte Albán, que ainda pode ser visitada hoje em belas ruínas.
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12. Templo maya de Chac, o deus da chuva. Os mayas são uma das civilizações mais fascinantes das Américas. Surgem nos idos de 2000 a.C., e tiveram seu apogeu nos idos do ano 800 d.C. Tinham um calendário mais preciso que o europeu, eram excelentes astrônomos, engenheiros, e tinham avançada matemática com o uso do número zero (algo que os europeus só aprenderiam com os árabes e indianos depois da Idade Média). Seus descendentes continuam a povoar o sul do México e partes da América Central. 
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13. Códice mayas. Os mayas escreviam códices pictográficos como os antigos egípcios, e usavam hieróglifos que seguem pouco compreendidos até estes dias. A maioria dessas obras foram queimadas pelos conquistadores espanhóis, mas alguma sobrevivem. Elas registram cerimônias, rituais, mitos e a História do povo may ao longo dos séculos.
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14. “A Criação do Homem Maya”, pelo pintor mexicano Raúl Anguiano (1915-2006). Há muitos murais com motivos indígenas no Museu Nacional de Antropologia. Aqui, a representação cosmológica maya da criação humana pelo célebre pintor mexicano Raúl Anguiano. Os mayas antigos diziam que o homem surgiu do milho, planta-chave que por milênios tem sido base da alimentação dos mexicanos e centro-americanos, e uma contribuição deles para o mundo. O milho que comemos hoje é fruto de milênios de trabalho de domesticação e cruzamentos da planta por esses povos. Os mitos de criação maya seguem detalhados na sua obra Popol Vuh, que sobrevive até hoje.
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15. Artesanias de Oaxaca. O segundo andar do Museu Nacional de Antropologia é todo dedicado à etnografia e às tradições de diferentes regiões do México. Aqui temos artesanias em cordas trançadas de sisal ou agave (planta com origem aqui na Mesoamérica e que também se usa para fabricar a famosa tequila), do estado de Oaxaca, sul do México.
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16. Roupas tradicionais em algodão. O algodão (do árabe al-qutn) é hoje a fibra natural mais utilizada no mundo. Há 4 espécies da planta, uma nativa da América do Sul, outra aqui da Mesoamérica, outra da África, e outra da Índia. Essas regiões domesticaram o algodão independentemente, mas foram os nativos americanos quem o fizeram primeiro, com registros desde 6000 a.C. (antes mesmo dos antigos egípcios). É esta variedade mesoamericana que responde hoje por 90% da produção mundial. Quando os europeus aqui chegaram, usavam roupas de linho e de lã, mas logo adotaram as frescas e leves vestimentas de algodão dos indígenas. Daí surgiu a longa tradição de têxteis de algodão dos mexicanos, como nesta vitrine do museu, mostrando diferentes padrões. Se você gosta de suas adoráveis roupas de algodão hoje, agradeça a eles.
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17. Campesina mexicana. Representação de uma casa camponesa do interior do México, mostrando uma mulher com trajes tradicionais (de algodão e floridos), rodeada por cerâmicas. Esta realidade mestiça é a cara do interior do México.
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18. Crianças diante de um altar. As crianças, com seus negros e viçosos cabelos indígenas, representando o sincretismo religioso do México e suas adaptações modernas. É comum se fazerem oferendas de flores e doces (que hoje incluem refrigerantes, como as garrafas ali), e não é raro que se decore Nossa Senhora de Guadalupe ou Jesus com ramos de milho, a planta mais fundamental da mesoamérica. 
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19. Adivinhação com o milho. Tradicionalmente, os indígenas da Mesoamérica e seus descendentes fazem também adivinhação com o milho, utilizando 14 grãos e jogando-os sobre uma mesa sagrada. A forma de adivinhação é semelhante àquela feita com búzios nas religiões de matriz africana no Brasil: interpretam-se os padrões de como os grãos caíram sobre a toalha. 
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20. México colonial (e atual). Este mural retrata a incrível diversidade social e mistura do México, com suas fortes tradições indígenas acrescidas da tradição europeia. O país segue sendo hoje um caleidoscópio cultural, com 68 línguas nacionais reconhecidas. O museu é um excelente mural onde ter uma noção da diversidade que se pode encontrar e conhecer pelo país afora.

Neste link você acessa todas as minhas postagens no México.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

One thought on “O Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México em 20 fotos: Conhecendo os antepassados

  1. Meu jovem, que maravilha de cultura, de história, que a História oficial infelizmente não conta ou não sabe, furtando aos latinoamericanos o conhecimento do seu passado e dos seus patrimônios culturais. E pensar que são tidos como povos inferiores pelo mundo rico e “civilizado”.
    Que magnifica significação, que belíssimos e coloridos murais, que motivos interessantes, que cotidiano esfuziante, monumentos maravilhosos com suas cores viçosas e expressivas. Maravilhoso museu. Um primor de cultura e de arte, E que bom que ainda existem para mostrar a toda a posteridade, o viço e o vigor da civilização pre-colombiana nessa bela mesoamérica.
    Que povo magnifico e que pena ter se perdido grande parte dela e dessa bela cultura. Impressionantes essas manifestações. Absurda forma de “colonização” que destrói e mata o povo autóctone e queima tanta beleza. Lindo museu. Belíssimas manifestações artísticas e culturais. Merece ser apreciado. Maravilha essa postagem, meu amigo.

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